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VINICIUS TORRES FREIRE
Fusões, festão da finança e bolhão
Gestores de "hedge funds" ganharam US$ 570 mi cada um em 2006; febre financeira estimula fusões e as Bolsas
"O QUE VOCÊ FARIA se tivesse uns quilinhos a menos?", pergunta a propaganda do remédio para emagrecer
da TV. E se você tivesse um bilhãozinho de dólares a mais? Três administradores de "hedge funds" ganharam mais de US$ 1 bilhão em 2006.
Sim, bilhão, não é erro tipográfico.
Está no ranking dos 25 administradores de "hedge funds" mais bem
pagos do mundo da Alpha Magazine, a revista do dinheiro grosso das
finanças, que publica hoje sua lista.
Na média, esses "25 top hedge
fund managers" ganharam US$ 570
milhões cada um, o melhor resultado desde que o ranking começou a
ser publicado, faz seis anos. Dá R$ 3
milhões por dia, sábados, domingos
e feriados, média 57% maior que a
de 2005 e 127% maior que a de 2004.
O mais pobrezinho da lista ganhou
US$ 240 milhões.
O que faz um "hedge fund"? Investe em ativos financeiros muito
diversificados e por vezes muito estranhos, em geral para gente muito
rica e investidores institucionais
(como fundos de pensão). Levam, na
média, 2% de taxa (sobre o investimento) mais 20% do lucro. Existem
uns 8 mil "hedge funds", com ativos
de US$ 1,568 trilhão (o triplo de
2001), segundo dados de ontem da
Hedge Fund Research.
Como ganham dinheiro? Emprestam dinheiro numa moeda, aplicam
em juros altos de país emergente,
num caso simples. Ou compram papéis de "seguro de dívida" que podem, por exemplo, variar de preço
de acordo com a variação dos títulos
de dívida lastreados em hipotecas
imobiliárias, aquele investimento
que rende os juros de quem paga a
casa própria nos EUA -isto é um
"derivativo". "Hedge funds" operam
com muitos tipos de derivativo.
Um "hedge fund" pode também financiar parte da compra de empresas pelas firmas de "private equity",
que adquirem o controle de empresas, fecham seu capital e "saneiam" a
companhia (o que por vezes significa demitir em massa e endividar a
empresa). Depois, vendem o negócio. Ao lado da gestão de "hedge
funds", "private equity" é o negócio
da hora na grande finança.
Sobra dinheiro no mundo, dado o
ciclo de crescimento forte e de juros
baixos. Há estabilidade financeira:
os países "emergentes" cumprem as
regras dos "mercados", reduzem
suas dívidas e dispõem de muitas reservas. Ficou mais barato investir
em ativos de risco.
Dinheiro barato também estimula
fusões & aquisições. Basta ver só as
notícias de ontem. A monstruosa
proposta de compra do ABN Amro
pelo Barclays, de US$ 91 bilhões
apequenou outras brutalidades, como a proposta da AstraZeneca (anglo-sueca de remédios) pela MedImmune (americana de vacinas e
biotecnologia) por US$ 15,6 bilhões.
A febre de fusões e aquisições alimenta a alta das Bolsas pelo planeta.
Risco? De o mundo real ser menos
frenético que o da finança; de que as
empresas ganhem menos dinheiro
que o imaginado pelos financistas.
Todo mundo parece feliz com a temporada de balanços nos EUA. Segundo a Thomson Financial, o lucro
médio por ora está 5,2% maior no
trimestre -a previsão era de 3,4%
(para as 500 empresas do índice
Standard & Poor's). Mas, tirando do
balanço o setor de energia e finanças, a média está em torno de 1%.
vinit@uol.com.br
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