São Paulo, terça-feira, 24 de abril de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Fusões, festão da finança e bolhão

Gestores de "hedge funds" ganharam US$ 570 mi cada um em 2006; febre financeira estimula fusões e as Bolsas

"O QUE VOCÊ FARIA se tivesse uns quilinhos a menos?", pergunta a propaganda do remédio para emagrecer da TV. E se você tivesse um bilhãozinho de dólares a mais? Três administradores de "hedge funds" ganharam mais de US$ 1 bilhão em 2006.
Sim, bilhão, não é erro tipográfico.
Está no ranking dos 25 administradores de "hedge funds" mais bem pagos do mundo da Alpha Magazine, a revista do dinheiro grosso das finanças, que publica hoje sua lista.
Na média, esses "25 top hedge fund managers" ganharam US$ 570 milhões cada um, o melhor resultado desde que o ranking começou a ser publicado, faz seis anos. Dá R$ 3 milhões por dia, sábados, domingos e feriados, média 57% maior que a de 2005 e 127% maior que a de 2004.
O mais pobrezinho da lista ganhou US$ 240 milhões.
O que faz um "hedge fund"? Investe em ativos financeiros muito diversificados e por vezes muito estranhos, em geral para gente muito rica e investidores institucionais (como fundos de pensão). Levam, na média, 2% de taxa (sobre o investimento) mais 20% do lucro. Existem uns 8 mil "hedge funds", com ativos de US$ 1,568 trilhão (o triplo de 2001), segundo dados de ontem da Hedge Fund Research.
Como ganham dinheiro? Emprestam dinheiro numa moeda, aplicam em juros altos de país emergente, num caso simples. Ou compram papéis de "seguro de dívida" que podem, por exemplo, variar de preço de acordo com a variação dos títulos de dívida lastreados em hipotecas imobiliárias, aquele investimento que rende os juros de quem paga a casa própria nos EUA -isto é um "derivativo". "Hedge funds" operam com muitos tipos de derivativo.
Um "hedge fund" pode também financiar parte da compra de empresas pelas firmas de "private equity", que adquirem o controle de empresas, fecham seu capital e "saneiam" a companhia (o que por vezes significa demitir em massa e endividar a empresa). Depois, vendem o negócio. Ao lado da gestão de "hedge funds", "private equity" é o negócio da hora na grande finança.
Sobra dinheiro no mundo, dado o ciclo de crescimento forte e de juros baixos. Há estabilidade financeira: os países "emergentes" cumprem as regras dos "mercados", reduzem suas dívidas e dispõem de muitas reservas. Ficou mais barato investir em ativos de risco.
Dinheiro barato também estimula fusões & aquisições. Basta ver só as notícias de ontem. A monstruosa proposta de compra do ABN Amro pelo Barclays, de US$ 91 bilhões apequenou outras brutalidades, como a proposta da AstraZeneca (anglo-sueca de remédios) pela MedImmune (americana de vacinas e biotecnologia) por US$ 15,6 bilhões.
A febre de fusões e aquisições alimenta a alta das Bolsas pelo planeta.
Risco? De o mundo real ser menos frenético que o da finança; de que as empresas ganhem menos dinheiro que o imaginado pelos financistas.
Todo mundo parece feliz com a temporada de balanços nos EUA. Segundo a Thomson Financial, o lucro médio por ora está 5,2% maior no trimestre -a previsão era de 3,4% (para as 500 empresas do índice Standard & Poor's). Mas, tirando do balanço o setor de energia e finanças, a média está em torno de 1%.


vinit@uol.com.br

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