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Banco público puxa crédito; privado segura
Bancos estatais elevaram o crédito em R$ 21 bi no 1º trimestre enquanto privados reduziram carteiras em R$ 7,6 bi, diz BC
Governo usa instituições para segurar crédito na crise e comprar carteiras de bancos pequenos e médios que enfrentam dificuldades
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os bancos públicos puxaram
a expansão do crédito nos últimos meses e ajudaram a garantir a oferta de financiamentos
bancários no país, já que as instituições privadas passaram a
adotar uma conduta mais conservadora desde o agravamento da crise.
Segundo dados do Banco
Central, no primeiro trimestre
deste ano os bancos públicos
aumentaram em R$ 21,4 bilhões (ou 4,8%) as suas carteiras de crédito, que no mês passado somavam R$ 466 bilhões.
Os bancos privados, ao contrário, reduziram seus saldos em
R$ 7,6 bilhões no mesmo período, o que corresponde a uma
queda de 1%.
Os números do BC mostram
que, com o impulso dado pelas
instituições públicas, a oferta
total de crédito continuou em
alta no país, mesmo com a crise. No mês passado, o saldo dos
financiamentos ofertados pelo
sistema financeiro correspondia a 42,5% do PIB (Produto
Interno Bruto), ante 41,8% em
janeiro. Foi o 14º mês consecutivo de alta no indicador.
Desde o início da crise, o governo Lula diz que usará os
bancos federais -Banco do
Brasil, BNDES e Caixa Econômica Federal- para sustentar o
crédito no país. Lula, aliás,
pressiona BB e Caixa a reduzirem os juros dos empréstimos
de forma agressiva para estimular a economia.
Os números mostram ainda
que, entre os bancos públicos, a
maior expansão do crédito
ocorreu nas operações com
pessoas físicas, em que o crescimento registrado no trimestre
chegou a 9,3%. Já entre os privados, a maior queda foi no saldo dos empréstimos ao setor de
serviços, que recuou 7%.
De acordo com o chefe do
Departamento Econômico do
BC, Altamir Lopes, parte desse
movimento é consequência das
dificuldades enfrentadas nos
últimos meses pelos bancos
privados, especialmente os de
menor porte.
Com a crise, tanto bancos
maiores como grandes investidores -como fundos de investimento e de previdência- passaram a evitar aplicações de
maior risco, o que significou
uma queda nos depósitos feitos
em instituições financeiras pequenas e médias.
Com isso, esses bancos passaram a vender parte de suas
carteiras de crédito para bancos maiores. Instituições públicas como o Banco do Brasil e a
Caixa Econômica Federal estiveram entre as maiores compradoras. "Os grandes bancos
[privados] continuam operando normalmente. Os pequenos
e médios é que se retraíram",
afirma Lopes.
Já o economista Armando
Castelar, pesquisador da UFRJ
e analista da Gávea Investimentos, afirma que, com a crise, muitas pessoas e empresas
optaram por transferir seus depósitos para bancos públicos,
que, em tese, teriam menos
probabilidade de quebrar por
contarem com garantias do governo.
"Sabendo que existe essa garantia, as pessoas correram para o banco público, que por isso
ficou com muito dinheiro em
caixa e, portanto, com maior
capacidade de emprestar", diz
Castelar.
"Numa situação de normalidade, não há necessidade [de as
instituições públicas atuarem
de forma diferente de seus concorrentes privados]. Mas, dado
que há uma crise, é um instrumento que está disponível, embora não seja o único", afirma,
lembrando que medidas como
a redução do recolhimento
compulsório dos bancos também ajudam a destravar o crédito e têm efeito sobre todos as
instituições.
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