São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

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Construtoras disputam obra de Belo Monte

Ao menos dez grandes empresas querem contratos para a construção da hidrelétrica; OAS já tem participação definida

Com preço considerado baixo após leilão, empresas tentam ser contratadas como empreiteiras, e não mais atuar como sócias

LEILA COIMBRA
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A ALTAMIRA

Pelo menos dez grandes construtoras disputam para obter os contratos das obras civis da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA). No leilão realizado na terça-feira passada, o preço da energia ficou abaixo do esperado (em R$ 78 o megawatt-hora) e o grande negócio agora entre elas é ser contratada como empreiteira, e não mais atuar como investidora no projeto.
O embate principal hoje é entre as construtoras que estão no consórcio Norte Energia, ganhador da concessão, e as três gigantes (Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, esta última líder do consórcio perdedor), que querem entrar na obra.
Estão no Norte Energia as seguintes empresas de engenharia e construção: Queiroz Galvão, Serveng, Mendes Júnior, Contern, Cetenco, Galvão Engenharia e J. Malucelli.
A OAS também negocia entrar no projeto, tanto como investidora quanto como empreiteira. A participação da empresa já foi definida, mas ainda não divulgada.
Ter fatia no empreendimento como investidor ajuda a garantir também o contrato como fornecedora. Mas o consórcio vencedor possui 40% de sua composição distribuídos entre empresas de engenharia e construção, percentual acima do limite permitido pelas regras do leilão. No momento de outorga da concessão, em 23 de setembro, somente 20% do Norte Energia poderá ser destinado às empreiteiras.
Fonte próxima às negociações acredita que a Queiroz Galvão, uma das líderes do grupo vencedor, deverá sair do investimento. A empresa quis garantir contratação de 80% das obras, o que foi rechaçado pela Eletrobras.

Garantias
A Queiroz Galvão chegou a dizer que só depositaria sua parte das garantias financeiras de R$ 19 milhões (o correspondente a 10% do valor total, de R$ 190 milhões) caso houvesse o comprometimento por parte da Eletrobras de que ela assumiria a maior parte das obras.
Na véspera do leilão, a Queiroz Galvão entregou carta de desistência do projeto aos outros sócios do Norte Energia. O grupo Bertin, que participa do grupo por meio de duas subsidiárias da área de infraestrutura (Contern e Gaia), disse que assumiria a parte da construtora no grupo. Mas o problema não terminou aí.
A empresa ganhou a antipatia dos outros sócios porque teria, nas vésperas do leilão, negociado parceria e subcontratação como empreiteira com a Andrade Gutierrez, caso ela fosse vencedora. A Andrade liderava o consórcio rival e até então era considerada a favorita na disputa. Após o anúncio de vitória do Norte Energia, a Queiroz teria dito aos outros sócios que gostaria de permanecer no consórcio e pediu um prazo para decidir.
Para um executivo de uma empresa do Norte Energia, não há mais clima para a permanência da Queiroz Galvão, apesar de a empresa ter recuado por ora de sua decisão de sair.
Às vésperas do leilão, foram feitas várias reuniões sem os executivos da empreiteira e, após a vitória, os sócios se reuniram no hotel Meliá, em Brasília, para brindar a vitória. Nenhum executivo da Queiroz Galvão foi convidado.
Além da Queiroz, deve deixar o grupo a J. Malucelli, acredita o executivo. Não por desentendimentos entre os sócios, mas por motivos financeiros: a empresa não tem tradição no setor elétrico e não tem "equity" (capital próprio) suficiente para fazer frente ao investimento, que exigirá bilhões de reais.


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