São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

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Tribos indígenas tentam arrecadar R$ 1 milhão contra hidrelétrica

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Índios chegam a Altamira, após 11 horas de viagem no rio Xingu, para discutir ocupação de local onde será instalada a usina

AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A ALTAMIRA (PA)

O fracasso da operação de ocupação indígena do Sítio Pimental, local onde será instalada a barragem principal e a casa de força auxiliar da usina hidrelétrica de Belo Monte, pode comprometer a estratégia de captação de recursos para financiar a mobilização de índios a fim de montar acampamentos em toda a Volta Grande do Xingu.
A ocupação abortada ontem só foi possível de ser realizada com o uso de parte dos R$ 200 mil captados com organizações não governamentais nacionais e estrangeiras. O dinheiro foi usado para a compra de combustível e de alimentos para o grupo que assumiria o controle do acampamento no Sítio Pimental.
A Folha apurou que a Amazon Watch, que promoveu a visita do cineasta James Cameron ao Brasil, foi uma das entidades que contribuíram com a arrecadação de recursos para a mobilização. O próprio autor do filme "Avatar" foi um dos contribuintes, segundo lideranças indígenas.
José Carlos Arara, líder da aldeia Terra-Wangan, área da etnia arara da Volta Grande, afirmou que o uso de fontes internacionais para financiar ações de indígenas traz desconfianças, mas, segundo ele, é a única forma de ter recursos para mobilização de grupos que vivem em áreas remotas da região.
Cameron coletou imagens de aldeias do Xingu para a realização de um filme em 3D, tecnologia cinematográfica usada na produção de "Avatar". Cameron considerou o caso dos indígenas do Xingu a versão real do enredo de seu filme, disse Antonio Bonsorte, fotógrafo e cinegrafista da equipe do cineasta que passou pela região de Belo Monte, no Pará. "O Xingu mudou James Cameron", disse.
O plano da comissão de indígenas, após a decisão do governo de levar adiante o leilão e a construção de Belo Monte, era o de arrecadar R$ 1 milhão com doações de instituições nacionais e estrangeiras a fim de mobilizar etnias indígenas instaladas em várias regiões da bacia hidrográfica do Xingu para uma ocupação em toda a Volta Grande.
O objetivo era o de chamar a atenção internacional para os efeitos negativos que serão provocados com a construção do empreendimento. A região da Volta Grande será fortemente atingida com a construção da obra. Na parte interna da Volta Grande, onde fica a Terra Indígena Paquiçamba (controlada pela etnia Juruna) e um grande número de agricultores familiares, instalados há mais de vinte anos na área, com grandes lavouras de cacau.
Além da parte interna da Volta, o barramento do Xingu vai provocar uma drástica redução da vazão de água em um trecho de cem quilômetros do rio. Essa situação vai comprometer a navegação de ribeirinhos e de indígenas, além de reduzir as condições de produção agrícola da área.

Nova mobilização
Segundo Luiz Xipaia, coordenador do grupo de indígenas que montou a operação de ocupação do Sítio Pimental, o plano de invasão do Sítio Pimental continua. "Se parte dos indígenas desistiu, vamos organizar um outro grupo com as etnias arara, juruna [no Paquiçamba] e os xipaia", disse o líder local.


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