São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

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ANÁLISE

Ajuste e postergação ou atraso e moratória

DANIEL GROS
ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE

À medida que a Grécia ativa seu pacote de 45 bilhões no FMI (Fundo Monetário Internacional) e na União Europeia, torna-se claro que uma abordagem nova e mais abrangente será necessária. Dois problemas precisam ser resolvidos: a credibilidade do programa de estabilização fiscal e como cobrir o buraco de financiamento em médio prazo.
O deficit da Grécia precisa ser reduzido em pelo menos dez pontos percentuais do PIB (Produto Interno Bruto), dos cerca de 13% atuais para 3%.
Um ajuste fiscal nessa escala requereria que o governo tomasse duas medidas que só podem ser implementadas com ampla aprovação social: um corte de salários e um corte dos gastos sociais. As duas medidas são tão impopulares quanto inevitáveis hoje na Grécia.
Os problemas de competitividade do país são conhecidos. Os custos da unidade de mão de obra subiram entre 10% e 20% mais que os da Alemanha.
O governo pode cortar os salários do setor público, e o fez, mas isso é insuficiente. Um grande corte nos salários do setor privado é urgentemente necessário a fim de estimular as exportações (que no momento respondem por menos de 20% do PIB), a fim de criar ao menos uma fonte de crescimento.
Cortes nos gastos sociais também são inevitáveis. Os crescentes deficit fiscais resultaram essencialmente de uma grande alta nos benefícios sociais estatais, da ordem de 20% para quase 30% do PIB. Dado que os gastos sociais respondem por quase 60% dos gastos públicos totais, um ajuste requereria corte significativo de benefícios.

Segundo problema
A fim de conquistar a pausa necessária a que o processo de reforma se prove efetivo, o governo grego poderia anunciar uma postergação de pagamentos: a data de vencimento de todos os títulos públicos em circulação seria simplesmente adiada em cinco anos, e a uma taxa de câmbio inalterada.
Caso o vencimento dos títulos não seja postergado, é improvável que a Grécia seja capaz de rolar os cerca de 30 bilhões em dívida que vencerão a cada ano, pelos próximos anos. Com o tempo, os países da zona do euro teriam de inevitavelmente refinanciar a maior parte da dívida pública da Grécia.
O tipo de postergação proposto aqui sinalizaria a disposição do governo grego de pagar integralmente as suas dívidas. Assim, poderia ser aceito sem muitas perturbações pelos mercados. É claro que os mercados veriam qualquer postergação sem ajustes confiáveis como um simples prelúdio para uma moratória real, mais tarde, e isso resultaria em ágio por risco ainda mais elevado.
Mas nem mesmo o melhor dos programas de ajuste poderia ser refinanciado sem alguma contribuição dos credores privados, ou seja, sem alguma forma de rolagem.
A única saída para a Grécia, portanto, é combinar os dois elementos: postergar o pagamento de sua dívida e chegar a um acordo nacional sobre salários e gastos sociais.
As abordagens atuais, concentradas apenas nas necessidades de financiamento e ajuste fiscal em 2010, deixando para mais tarde todas as escolhas difíceis, não funcionarão.


DANIEL GROS é diretor do Centro de Estudos Políticos Europeus

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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