São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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ANÁLISE / MERCADO FINANCEIRO

Credibilidade de pesquisas do Santander é contestada

HUGH BRONSTEIN
DA REUTERS, EM NOVA YORK

O gigante bancário espanhol Santander Central Hispano corre o risco de prejudicar sua credibilidade em Wall Street se tomar medidas disciplinares contra sua equipe de pesquisa em Nova York devido à advertência feita por ela quanto aos riscos econômicos do Brasil, país em que o banco tem extensos interesses financeiros, dizem investidores.
Isso equivaleria a enviar uma mensagem de que o banco está disposto a amordaçar a pesquisa independente de seus analistas para conquistar o favor de seus clientes. A questão é estudada de perto em Wall Street, onde o Merrill Lynch concordou nesta semana em pagar US$ 100 milhões para pôr fim ao escândalo que envolve suas pesquisas de ações.
"Isso sugere que o Santander acredita que as pesquisas devem ser distorcidas em benefício de suas atividades como banco de investimentos", disse Matt Ryan, administrador de mercados emergentes na MFS Investment Management.
O conflito sobre o recente rebaixamento que os bônus brasileiros sofreram nas pesquisas do Santander pode resultar na demissão da equipe que fez a recomendação, em Nova York, segundo fontes familiarizadas com a situação. O banco preferiu não comentar.
Em 2 de maio, a equipe de pesquisa do Santander recomendou aos investidores que reduzissem sua exposição a bônus brasileiros, adotando grau neutro de classificação -antes, eles tinham condição de favorecidos. Os analistas justificaram a recomendação invocando o crescimento lento da economia do país e as incertezas políticas com relação à eleição presidencial de outubro.
A reação do Brasil foi rápida. Todo mundo, do presidente do país ao dirigente das operações locais do Santander, criticou o rebaixamento como injustificado.
Uma fonte de Wall Street que conhece bem a situação disse que a sede do banco, em Madri, decidirá nesta semana se demitirá os pesquisadores de Nova York.
Outros bancos de investimento, como Merrill Lynch, ABN Amro e Morgan Stanley, rebaixaram a classificação brasileira ao mesmo tempo em que o Santander.
James Cox, professor de lei empresarial e financeira na Universidade Duke, disse que, "se eu fosse cliente de investimento do Santander, no futuro não respeitaria as recomendações da empresa por medo de que talvez fossem imprecisas devido à pressão que ela exerce sobre seus analistas".
O Merrill Lynch concordou em pagar US$ 100 milhões para encerrar disputa sobre recomendações otimistas em excesso para a compra de determinadas ações. Um ex-analista do BNP Paribas está pedindo indenização de ao menos US$ 100 milhões ao banco francês, sob a alegação de que foi demitido porque aconselhou os clientes da instituição a vender os papéis da concordatária Enron.
Se o Santander tomar medidas disciplinares contra sua equipe de analistas por ela se ter recusado a ignorar os riscos do Brasil, o mercado terá pouca fé nas futuras recomendações do banco, diz Mark Siegel, administrador de fundo de mercados emergentes do MassMutual Financial Group.


Tradução de Paulo Migliacci


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