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ANÁLISE / MERCADO FINANCEIRO
Credibilidade de pesquisas do Santander é contestada
HUGH BRONSTEIN
DA REUTERS, EM NOVA YORK
O gigante bancário espanhol Santander Central Hispano corre o risco de prejudicar sua credibilidade em Wall Street se tomar medidas disciplinares
contra sua equipe de pesquisa em Nova York devido à advertência
feita por ela quanto aos riscos econômicos do Brasil, país em que o
banco tem extensos interesses financeiros, dizem investidores.
Isso equivaleria a enviar uma mensagem de que o banco está disposto a amordaçar a pesquisa independente de seus analistas para conquistar o favor de seus
clientes. A questão é estudada de
perto em Wall Street, onde o Merrill Lynch concordou nesta semana em pagar US$ 100 milhões para pôr fim ao escândalo que envolve suas pesquisas de ações.
"Isso sugere que o Santander
acredita que as pesquisas devem
ser distorcidas em benefício de
suas atividades como banco de investimentos", disse Matt Ryan,
administrador de mercados
emergentes na MFS Investment
Management.
O conflito sobre o recente rebaixamento que os bônus brasileiros
sofreram nas pesquisas do Santander pode resultar na demissão
da equipe que fez a recomendação, em Nova York, segundo fontes familiarizadas com a situação.
O banco preferiu não comentar.
Em 2 de maio, a equipe de pesquisa do Santander recomendou
aos investidores que reduzissem
sua exposição a bônus brasileiros,
adotando grau neutro de classificação -antes, eles tinham condição de favorecidos. Os analistas
justificaram a recomendação invocando o crescimento lento da
economia do país e as incertezas
políticas com relação à eleição
presidencial de outubro.
A reação do Brasil foi rápida.
Todo mundo, do presidente do
país ao dirigente das operações
locais do Santander, criticou o rebaixamento como injustificado.
Uma fonte de Wall Street que
conhece bem a situação disse que
a sede do banco, em Madri, decidirá nesta semana se demitirá os
pesquisadores de Nova York.
Outros bancos de investimento,
como Merrill Lynch, ABN Amro e
Morgan Stanley, rebaixaram a
classificação brasileira ao mesmo
tempo em que o Santander.
James Cox, professor de lei empresarial e financeira na Universidade Duke, disse que, "se eu fosse
cliente de investimento do Santander, no futuro não respeitaria
as recomendações da empresa
por medo de que talvez fossem
imprecisas devido à pressão que
ela exerce sobre seus analistas".
O Merrill Lynch concordou em
pagar US$ 100 milhões para encerrar disputa sobre recomendações otimistas em excesso para a
compra de determinadas ações.
Um ex-analista do BNP Paribas
está pedindo indenização de ao
menos US$ 100 milhões ao banco
francês, sob a alegação de que foi
demitido porque aconselhou os
clientes da instituição a vender os
papéis da concordatária Enron.
Se o Santander tomar medidas
disciplinares contra sua equipe de
analistas por ela se ter recusado a
ignorar os riscos do Brasil, o mercado terá pouca fé nas futuras recomendações do banco, diz Mark Siegel, administrador de fundo de
mercados emergentes do MassMutual Financial Group.
Tradução de Paulo Migliacci
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