|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
IMPOSTOS
No primeiro quadrimestre, recolhimento ficou R$ 3,5 bi acima do estimado
Arrecadação extra indica carga maior
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O excesso de arrecadação do governo em 2004, até o mês de abril,
é de R$ 3,5 bilhões. Essa é mais
uma evidência de que a carga tributária está subindo, comprometendo a promessa do governo de
não elevar o percentual além do
observado em 2002.
O excesso é medido sobre o que
ultrapassou as projeções iniciais
do próprio governo.
Mas já existe um discurso pronto para enfrentar as críticas. Grande parte do aumento das receitas
é creditado ao combate à sonegação. "Uma coisa é a carga e outra
coisa é o aumento de pressão sobre o contribuinte. Se todos os
contribuintes resolverem pagar
seus impostos em atraso, a carga
explode. A culpa é do governo?",
questiona o secretário da Receita
Federal, Jorge Rachid.
O fato é que o Orçamento de
2004, quando foi elaborado, já
embutia receitas maiores que as
do ano passado principalmente
por causa do crescimento econômico, de mudanças na Cofins
(Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e da
cobrança da contribuição dos servidores públicos aposentados.
Como a carga tributária é medida em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), o crescimento econômico não afeta a conta final.
Rachid assegura que as mudanças feitas na legislação são neutras
em termos de arrecadação. No
entanto, os próprios boletins da
Receita explicam que parte do
crescimento se deve à tributação
indireta de bens importados, que
é possibilitada pela nova Cofins.
Segundo ele, algumas mudanças na legislação, como a antecipação do pagamento de tributos
federais das prestadoras de serviços, está evitando a evasão fiscal.
Agora, as empresas que contratam prestadoras são obrigadas a
descontar três tributos nos pagamentos feitos.
A Receita também vem apertando a fiscalização sobre as pessoas físicas. A arrecadação mensal
do carnê-leão (que geralmente
cobre rendimentos de aluguéis)
cresceu em até 24% no ano passado. "Neste ano, nós já mandamos
correspondências [convocações
para esclarecimentos] para 70 mil
pessoas", afirmou.
Carga federal
Pelas contas da Comissão Mista
de Orçamento, a carga tributária
federal -sem contar Estados e
municípios- vai sair de 23,8%
do PIB em 2003 para 24,5% em
2004. As contas foram feitas com
base nos números enviados pelo
próprio governo. Em 2002, a carga foi de 24,07%.
Rachid, porém, disse que a carga deste ano só poderá ser medida
no início de 2005. "Não é correto
medir a carga por semana ou por
bimestre. No ano passado, alguns
falaram em até 50% de carga para
o setor público", afirmou.
Até abril, o governo arrecadou
R$ 103,3 bilhões, R$ 5,5 bilhões a
mais (já descontada a inflação)
que no mesmo período de 2003.
O consultor do PSDB José Roberto Afonso disse que, em um
momento de crise externa como o
que o país atravessa agora, o governo deveria tornar claro o aumento da carga. "Negar o que está
fazendo não ajuda em nada", comentou. Afonso explicou, porém,
que é contrário ao aumento da
carga por causa do efeito que ele
pode ter de "frear" a retomada do
crescimento.
O economista Raul Velloso, porém, não considera que esteja
acontecendo um efetivo aumento
de carga tributária. Para ele, as
mudanças na Cofins começaram
no governo anterior quando foi
modificado o PIS (Programa de
Integração Social), uma contribuição semelhante. "Não é aumento de carga na veia."
Mas afirma que o governo sempre "erra para mais" na hora de
fazer as contas. Rachid confirmou
que é realmente "cauteloso" ao
estimar as receitas para evitar um
descontrole de gastos. "Se a gente
erra agora no início do ano, o sujeito gasta, né?", disse, referindo-se ao excesso de receitas observado no primeiro quadrimestre.
O secretário afirmou ainda que
não é possível reduzir a carga tributária, pois os programas sociais
do governo seriam prejudicados.
Para 2005, os técnicos da Comissão Mista de Orçamento acreditam que haverá um novo aumento da carga porque, tanto a
Cofins quanto a nova contribuição previdenciária de servidores
inativos não começaram a vigorar
em janeiro de 2004. Ou seja, terão
efeito pleno no ano que vem.
Mas, ao enviar o projeto da Lei
de Diretrizes Orçamentárias de
2005 ao Congresso, o governo estimou receitas equivalentes a
23,88% do PIB. Como o projeto
da LDO não detalha as origens
das receitas, não é possível saber
como o governo chegou a esse
percentual.
Texto Anterior: Gasto Brasil: Pobre paga mais imposto para consumir Próximo Texto: Governo libera R$ 200 milhões do corte total Índice
|