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Exportadores vêem queda nas vendas
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar caiu mais 1,33% na semana passada. Não dá sinais de
que recuperará terreno tão cedo.
A despeito dos vigorosos números da balança comercial, parte
dos exportadores não pára de
contabilizar prejuízos e espera reduzir vendas externas no segundo
semestre, caso a moeda brasileira
não perca terreno para a norte-americana nos próximos meses.
"Vamos exportar 30% menos
neste ano, se compararmos com
2004. A queda ocorre basicamente por conta do dólar", diz Renato
Furtado, diretor-superintendente
da Calçados Samello, com fábrica
em Franca, interior de São Paulo.
A indústria calçadista está entre
as que mais sofrem com o real forte. Furtado diz que, quando os
contratos para a coleção que a
empresa exporta hoje foram feitos, a projeção para a cotação do
dólar era de R$ 2,80. "Estamos
embarcando com prejuízo", diz.
A redução das vendas, diz ele,
ocorre a partir de agora, com a assinatura de novos contratos. O setor não pode aumentar o preço
em dólares, pelo menos não ao
ponto de compensar a queda na
cotação do dólar. Se tentar, perde
mercado para os concorrentes.
O barateamento dos importados tampouco ajuda. Apenas 25%
do custo dos sapatos fabricados
pela empresa é sensível ao câmbio, ou seja, é importado. A queda
nos preços dos insumos comprados no mercado internacional
compensa pouco a queda, em
reais, no preço do sapato. "Nós
nunca imaginamos um cenário
assim. Prevíamos um dólar mais
baixo, mas não tanto", diz ele.
Dimas de Melo Pimenta, da Dimep, fábrica de relógios de ponto
e de máquinas de controle de
acesso, ainda não reduziu as vendas externas, mas não tem mais
lucro com as exportações. "Não
podemos realinhar o preço em
dólar. O mercado é muito competitivo. Se aumentar, perdemos
mercado para os concorrentes
asiáticos", explica Pimenta.
No caso da Dimep, os importados contribuem com 33% do custo total. Proporção um pouco
maior, mas que tampouco compensa a queda do dólar no preço
final dos produtos. Ele diz que
não tem escolha, a não ser continuar exportando, ainda que sem
margens de lucro. "Há três anos, a
exportação correspondia a 8% do
faturamento. Hoje, corresponde a
20%. Não podemos deixar de
vender, expandimos a operação
para isso, e sair agora corresponderia a perder os clientes", avalia.
Na Samello, a dificuldade ainda
é maior: 75% do faturamento da
empresa vem do mercado externo. Não há opção, a não ser vender aos já tradicionais clientes.
Sob pena de perder participação
em mercados já tradicionais para
as empresas. Outro problema:
não há espaço no mercado nacional para toda a produção.
Situações como a das duas empresas ajudam a explicar por que,
apesar da queda do câmbio, as exportações continuam vigorosas.
"Houve -e continua ocorrendo- uma mudança estrutural no
comércio exterior brasileiro", diz
o ex-embaixador Rubens Barbosa, hoje presidente do Conselho
Superior de Comércio Exterior da
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo).
As exportações, no jargão dos
economistas, ficaram menos elásticas ao câmbio, ou seja, reagem
menos às variações cambiais. O
que, claro, não significa que elas
não perderão fôlego caso o câmbio continue caindo ou nos atuais
patamares. "Alguns efeitos estão
compensando as perdas do câmbio, alguns exportadores conseguem repassar preços, outros
conseguem compensar com redução de custos, importando insumos", avalia Barbosa.
Ainda que as empresas, como
no caso da Samello e da Dimep,
não deixem de exportar, há outro
efeito negativo do câmbio barato,
ou muito instável: a incerteza gerada pela oscilação. Quanto maior
a incerteza, mais difícil a decisão
de investimento e, portanto, menor ele tende a ser. "Mais que a
apreciação em si, a variação é
preocupante. Oscilações muito
rápidas criam instabilidade exagerada. As empresas precisam estimar um câmbio médio para fazer um projeto de investimento",
conclui Barbosa.
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