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Calçados e têxteis cogitam cancelar exportação
IVONE PORTES
EDITORA-ASSISTENTE DE DINHEIRO DA FOLHA ONLINE
Empresas do setor calçadista
já cogitam a possibilidade de
suspender pedidos do mercado
externo por causa do dólar baixo, segundo o vice-presidente
da Abicalçados (Associação
Brasileira das Indústrias de
Calçados), Milton Cardoso.
"Os reflexos da queda do dólar sobre o setor são nefastos.
Temos notícias de que há um
número importante de fábricas
dedicadas em grande parte à
exportação que já consideram
seriamente a hipótese de encerrar as vendas ao mercado
externo por absoluta inviabilidade do negócio", disse.
A possibilidade é observada
também no setor têxtil, segundo o diretor-superintendente
da Abit (Associação Brasileira
da Indústria Têxtil e de Confecção), Fernando Pimentel.
"Com esse câmbio, algumas
empresas, estruturalmente,
vão manter a produção para a
exportação, mas na realidade o
que vai ocorrer, sem sombra de
dúvida, é uma interrupção das
vendas externas. E o Brasil pode regredir com isso", acrescentou Pimentel.
O dólar comercial caiu abaixo dos R$ 2 na semana passada
e oscila ao redor desse patamar.
Ontem, a divisa norte-americana fechou a R$ 1,952.
Para Pimentel, a queda do
dólar explicitou uma série de
mazelas da economia que já estavam em debate, mas que nunca foram resolvidas. "Estamos
falando de carga tributária, dos
juros, de acordos internacionais, de [gargalos] de infra-estrutura e encargos trabalhistas
onerosos para empresas."
"Estão dizendo que o dólar
reflete a robustez da nossa economia, mas a taxa de juros que
temos [12,5% ao ano] não reflete essa robustez. A carga tributária também não", afirmou.
Na avaliação do vice-presidente da Abicalçados, o movimento do câmbio tem prejudicado dois grupos de empresas:
aquelas que são muito voltadas
para as exportações e as que
atuam no mercado interno e
sofrem forte concorrência do
produto importado.
"As empresas têm feito o
possível e o impossível. Os ganhos de produtividade, as reduções de custos, a racionalização
de processos e o desenvolvimento de produtos mais inteligentes têm sido uma constante
e permitido ao setor se manter.
Mas estamos em um momento
em que a grande ação tem que
ser macroeconômica, do governo, para resolver uma situação
que não foi criada por nós e que
ultrapassa os nossos limites",
acrescentou Cardoso.
Reflexos
Dados divulgados pela Abicalçados e Abit já evidenciam
os reflexos da queda do dólar
sobre os negócios .
O faturamento do setor calçadista com as exportações diminuiu 0,27% no primeiro quadrimestre deste ano em relação
a igual período de 2006, ficando em US$ 624,6 milhões. Apesar disso, o saldo comercial do
setor está positivo em US$ 559
milhões em quatro meses. O vice-presidente da Abicalçados
ressaltou que o Brasil é ainda o
terceiro maior produtor de sapatos do mundo.
No caso do setor têxtil, a queda das exportações foi de
0,89%, para US$ 681 milhões. A
balança comercial da indústria
têxtil já acumula, de janeiro a
abril, um déficit de US$ 263 milhões e, segundo estimativa da
Abit, deve encerrar o ano com
saldo negativo em torno de US$
1 bilhão.
Uma das demandas dos dois
setores junto ao governo, de aumento dos impostos sobre importados, em parte, já foi atendida. O governo federal anunciou no mês passado a elevação
do imposto de importação de
têxteis e calçados de 20% para
35% -o máximo permitido.
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