São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2007

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Calçados e têxteis cogitam cancelar exportação

IVONE PORTES
EDITORA-ASSISTENTE DE DINHEIRO DA FOLHA ONLINE

Empresas do setor calçadista já cogitam a possibilidade de suspender pedidos do mercado externo por causa do dólar baixo, segundo o vice-presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), Milton Cardoso.
"Os reflexos da queda do dólar sobre o setor são nefastos. Temos notícias de que há um número importante de fábricas dedicadas em grande parte à exportação que já consideram seriamente a hipótese de encerrar as vendas ao mercado externo por absoluta inviabilidade do negócio", disse.
A possibilidade é observada também no setor têxtil, segundo o diretor-superintendente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), Fernando Pimentel. "Com esse câmbio, algumas empresas, estruturalmente, vão manter a produção para a exportação, mas na realidade o que vai ocorrer, sem sombra de dúvida, é uma interrupção das vendas externas. E o Brasil pode regredir com isso", acrescentou Pimentel.
O dólar comercial caiu abaixo dos R$ 2 na semana passada e oscila ao redor desse patamar. Ontem, a divisa norte-americana fechou a R$ 1,952.
Para Pimentel, a queda do dólar explicitou uma série de mazelas da economia que já estavam em debate, mas que nunca foram resolvidas. "Estamos falando de carga tributária, dos juros, de acordos internacionais, de [gargalos] de infra-estrutura e encargos trabalhistas onerosos para empresas."
"Estão dizendo que o dólar reflete a robustez da nossa economia, mas a taxa de juros que temos [12,5% ao ano] não reflete essa robustez. A carga tributária também não", afirmou.
Na avaliação do vice-presidente da Abicalçados, o movimento do câmbio tem prejudicado dois grupos de empresas: aquelas que são muito voltadas para as exportações e as que atuam no mercado interno e sofrem forte concorrência do produto importado.
"As empresas têm feito o possível e o impossível. Os ganhos de produtividade, as reduções de custos, a racionalização de processos e o desenvolvimento de produtos mais inteligentes têm sido uma constante e permitido ao setor se manter. Mas estamos em um momento em que a grande ação tem que ser macroeconômica, do governo, para resolver uma situação que não foi criada por nós e que ultrapassa os nossos limites", acrescentou Cardoso.

Reflexos
Dados divulgados pela Abicalçados e Abit já evidenciam os reflexos da queda do dólar sobre os negócios .
O faturamento do setor calçadista com as exportações diminuiu 0,27% no primeiro quadrimestre deste ano em relação a igual período de 2006, ficando em US$ 624,6 milhões. Apesar disso, o saldo comercial do setor está positivo em US$ 559 milhões em quatro meses. O vice-presidente da Abicalçados ressaltou que o Brasil é ainda o terceiro maior produtor de sapatos do mundo.
No caso do setor têxtil, a queda das exportações foi de 0,89%, para US$ 681 milhões. A balança comercial da indústria têxtil já acumula, de janeiro a abril, um déficit de US$ 263 milhões e, segundo estimativa da Abit, deve encerrar o ano com saldo negativo em torno de US$ 1 bilhão.
Uma das demandas dos dois setores junto ao governo, de aumento dos impostos sobre importados, em parte, já foi atendida. O governo federal anunciou no mês passado a elevação do imposto de importação de têxteis e calçados de 20% para 35% -o máximo permitido.


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