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Mantega diz que projeto de fundo soberano está de pé
Ministro diz que Lula apóia medida e que ela será enviada em breve à Casa Civil
Reportagem de ontem
na Folha sobre suspensão
do fundo é "totalmente improcedente", diz ele, mas assessores de Lula discordam
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, convocou a imprensa ontem em Brasília para
reafirmar que está mantido o
projeto do governo de criar um
fundo soberano composto por
recursos do superávit primário
-economia de receitas destinada ao pagamento da dívida
pública.
Disse que o projeto de lei de
criação do fundo já está praticamente pronto, faltando apenas aspectos jurídicos, e que será encaminhado na semana que
vem para a Casa Civil.
Mantega contestou reportagem publicada ontem pela Folha, segundo a qual o presidente Lula decidiu suspender o
lançamento do fundo por ainda
ter dúvidas sobre o uso de recursos do superávit primário.
"Essa matéria é totalmente
improcedente, não tem nenhum fundamento", disse ele.
Consultados pela Folha após
as declarações de Mantega,
dois assessores de Lula que
participam das negociações no
governo sobre o tema reafirmaram que o presidente quer
discutir melhor o assunto e
suspendeu, no momento, o envio do projeto de lei ao Congresso, antes previsto para a semana passada. Nova reunião
para discutir o assunto deve
acontecer na próxima semana.
A Folha apurou que, na última reunião de coordenação, na
segunda-feira passada, Lula
determinou o adiamento do
envio ao Congresso do projeto
de lei criando o Fundo Soberano do Brasil. Inicialmente,
Mantega havia programado encaminhar o texto, em regime
de urgência, naquela segunda-feira ou no dia seguinte ao Congresso.
Lula pediu tempo para avaliar o projeto. Nos últimos dias,
economistas de fora do governo procuraram o presidente
para tentar mudar a proposta
do Ministério da Fazenda.
A principal crítica está relacionada ao uso do superávit
primário para formar o caixa
do fundo. Na avaliação desses
economistas, o governo deveria simplesmente elevar o
aperto fiscal para ajudar o Banco Central no combate à inflação. O fundo soberano ficaria
para um outro momento. Como Lula insiste na proposta,
cogitou então analisar uma
idéia, já descartada anteriormente, de usar recursos das reservas internacionais no caixa
do Fundo Soberano do Brasil.
Tese que não conta com o
apoio do presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles.
O ministro da Secretaria de
Comunicação Social da Presidência da República, Franklin
Martins, também disse que a
proposta para criar o fundo soberano chegará "em breve" ao
Congresso. "É para logo", disse
ontem, emendando que "tem
que perguntar ao Guido", para
saber a data com precisão.
"Qualquer proposta enviada
ao Congresso, seja medida provisória ou projeto de lei, pode
ser alterada, aprovada e até rejeitada", ponderou. No Itamaraty, Franklin afirmou que
"não tem nada de geladeira".
A Folha apurou que economistas consultados por Lula
sobre a criação do fundo soberano alertaram para os riscos
de piora no cenário internacional e no ritmo de alta da inflação, o que exigiria ser mais conservador neste momento.
"O presidente Lula determinou que nós fizéssemos o fundo soberano. O projeto de lei
está praticamente pronto, só
faltam aspectos jurídicos", disse Mantega.
Tripla utilidade
Segundo o ministro, "a concepção econômica já está clara
e definida". Ele disse que o fundo soberano será um instrumento muito importante para
o país e versátil, permitindo ao
governo usá-lo em três diferentes áreas: na fiscal, no câmbio e
como propulsor do comércio
exterior.
Na área fiscal, ele disse que o
fundo dará ao governo a possibilidade de aumentar o superávit primário.
Acrescentou que será uma
reserva com aplicação anticíclica, ou seja, que gera economia
de receitas no momento em
que elas estão crescendo e que
podem ser usadas num momento futuro de dificuldades.
No lado cambial, ele afirmou
que o fundo ajudará o governo a
conter a valorização do real,
acentuada nos últimos anos devido à grande entrada de dólares -o fundo soberano permitirá ao governo comprar moeda
estrangeira.
"Na frente cambial ele melhora o câmbio, no sentido de
impedir uma valorização
maior, que é um problema que
temos hoje", disse.
Por último, disse que o fundo
poderá financiar investimentos do setor privado no exterior. Citou como exemplo o
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), que teria os recursos do
fundo à sua disposição para linhas de comércio exterior.
Mantega acrescentou ainda
que o fundo soberano não utilizará as reservas internacionais
existentes hoje e disse que a
compra de moeda estrangeira
será feita em sintonia com o
Banco Central.
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