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Endividados, países têm recuperação lenta
Pacotes de estímulo fiscal elevam dívida de nações desenvolvidas em meio a riscos de a retomada econômica ainda demorar
Projeção mostra que a dívida pública dos EUA deve passar do atual patamar de 44% do PIB para 77% nos próximos quatro anos
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
A contração da economia
mundial no primeiro trimestre
de 2009 foi a maior desde o período pós-Segunda Guerra.
Neste segundo trimestre, começam a surgir alguns poucos
sinais positivos, principalmente entre os emergentes.
Nas economias avançadas,
porém, a recuperação é ainda
muito mais tênue. E vem acompanhada por uma explosão do
endividamento público.
Enquanto os pacotes de estímulo fiscal de EUA, integrantes
da zona do euro e Reino Unido
começam a injetar dinheiro em
várias áreas, a dívida pública
que financia esses gastos está
subindo rapidamente.
Segundo projeções da Standard & Poor's, a dívida pública
como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) nos EUA
deve passar dos atuais 44% para 77% nos próximos quatro
anos. No Reino Unido, ela praticamente dobrará, de 49% do
PIB para 97%. Na Alemanha,
irá de 62% para 72%.
Nos EUA, isso significará o
aumento do endividamento
público dos já sem precedentes
US$ 6,3 trilhões para mais de
US$ 10 trilhões, o equivalente a
cerca de seis PIBs do Brasil (veja quadro na página B3).
Na sexta-feira, o dólar fechou
em seu menor patamar no ano
ante o euro, refletindo o temor
crescente de que a dívida pública dos EUA perca sua classificação de risco "AAA" (o patamar
considerado mais seguro para
os investidores).
Um dia antes, a Standard &
Poor's já havia rebaixado para
"negativa" a tendência dos títulos da dívida pública do Reino
Unido, o que significa que o
país poderá perder, em questão
de um ou dois anos, sua classificação "AAA".
Uma classificação mais negativa representa mais risco para
investidores financiarem as dívidas. Para continuar a fazê-lo,
passarão a exigir maiores retornos (juros) para comprar títulos desses países.
Nos últimos meses, a Espanha e a Irlanda perderam suas
classificações "AAA". Os dois
países têm hoje dificuldades
imensas para se financiar e são
obrigados a captar dinheiro pagando juros muito mais altos
do que a Alemanha e a França.
Embora os países mais ricos
venham pisando fundo no acelerador dos gastos para tentar
recuperar suas economias, o
risco é a retomada da atividade
demorar muito -somando-se a
isso, agora, o problema adicional do alto endividamento.
Nos EUA, a contração anualizada do PIB nos dois últimos
trimestres foi superior a 6%.
Embora o mercado financeiro
venha querendo antecipar o
fim da atual recessão (a Bolsa
de Nova York subiu mais de
30% desde março), muitos analistas afirmam que isso é ainda
prematuro.
Para o IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla
em inglês), a economia mundial continuará em baixa até o
último trimestre deste ano, ganhando alguma tração somente no próximo ano.
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