São Paulo, domingo, 24 de maio de 2009

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Endividados, países têm recuperação lenta

Pacotes de estímulo fiscal elevam dívida de nações desenvolvidas em meio a riscos de a retomada econômica ainda demorar

Projeção mostra que a dívida pública dos EUA deve passar do atual patamar de 44% do PIB para 77% nos próximos quatro anos

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

A contração da economia mundial no primeiro trimestre de 2009 foi a maior desde o período pós-Segunda Guerra. Neste segundo trimestre, começam a surgir alguns poucos sinais positivos, principalmente entre os emergentes.
Nas economias avançadas, porém, a recuperação é ainda muito mais tênue. E vem acompanhada por uma explosão do endividamento público.
Enquanto os pacotes de estímulo fiscal de EUA, integrantes da zona do euro e Reino Unido começam a injetar dinheiro em várias áreas, a dívida pública que financia esses gastos está subindo rapidamente.
Segundo projeções da Standard & Poor's, a dívida pública como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) nos EUA deve passar dos atuais 44% para 77% nos próximos quatro anos. No Reino Unido, ela praticamente dobrará, de 49% do PIB para 97%. Na Alemanha, irá de 62% para 72%.
Nos EUA, isso significará o aumento do endividamento público dos já sem precedentes US$ 6,3 trilhões para mais de US$ 10 trilhões, o equivalente a cerca de seis PIBs do Brasil (veja quadro na página B3).
Na sexta-feira, o dólar fechou em seu menor patamar no ano ante o euro, refletindo o temor crescente de que a dívida pública dos EUA perca sua classificação de risco "AAA" (o patamar considerado mais seguro para os investidores).
Um dia antes, a Standard & Poor's já havia rebaixado para "negativa" a tendência dos títulos da dívida pública do Reino Unido, o que significa que o país poderá perder, em questão de um ou dois anos, sua classificação "AAA".
Uma classificação mais negativa representa mais risco para investidores financiarem as dívidas. Para continuar a fazê-lo, passarão a exigir maiores retornos (juros) para comprar títulos desses países.
Nos últimos meses, a Espanha e a Irlanda perderam suas classificações "AAA". Os dois países têm hoje dificuldades imensas para se financiar e são obrigados a captar dinheiro pagando juros muito mais altos do que a Alemanha e a França.
Embora os países mais ricos venham pisando fundo no acelerador dos gastos para tentar recuperar suas economias, o risco é a retomada da atividade demorar muito -somando-se a isso, agora, o problema adicional do alto endividamento.
Nos EUA, a contração anualizada do PIB nos dois últimos trimestres foi superior a 6%. Embora o mercado financeiro venha querendo antecipar o fim da atual recessão (a Bolsa de Nova York subiu mais de 30% desde março), muitos analistas afirmam que isso é ainda prematuro.
Para o IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês), a economia mundial continuará em baixa até o último trimestre deste ano, ganhando alguma tração somente no próximo ano.


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