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Nova estatal do petróleo terá regra contra "uso político"
Em meio à polêmica da CPI da Petrobras, Lula cobra pressa em novas normas
Governo tenta evitar
repetição das críticas que a
oposição faz ao Planalto por
ter distribuído diretorias da
Petrobras entre os aliados
VALDO CRUZ
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em meio à polêmica da CPI
da Petrobras, o governo Lula
quer usar a discussão das novas
regras de exploração de petróleo no país para sair da defensiva depois que a oposição acirrou as críticas ao comando da
empresa, levantando suspeitas
de irregularidades.
O novo modelo vai prever,
por exemplo, salvaguardas para
evitar o "uso político" da futura
estatal que irá administrar as
reservas de petróleo da camada
do pré-sal e a criação do Fundo
de Responsabilidade Social.
Com as salvaguardas, o governo tenta evitar a repetição
das críticas que a oposição faz
ao Planalto por ter distribuído
diretorias da Petrobras entre os
partidos aliados. No caso do
fundo, as regras não permitirão
que a renda do pré-sal seja gasta imediatamente, contrapondo-se aos ataques dos tucanos
de que Lula planejava gastar o
dinheiro antecipadamente.
Antes de viajar para a China,
o presidente pediu a seus ministros pressa na definição do
tema. Prometido para ser divulgado em 2008, o novo marco
regulatório do setor ficou em
segundo plano com o aprofundamento da crise mundial.
Atendendo a pedidos de Lula, os recursos do fundo serão
investidos na área social, especialmente em educação. Mas,
de acordo com o formato definido pelos técnicos, apenas os
rendimentos poderão ser gastos, desde que seja atingida
uma rentabilidade mínima.
O uso desse dinheiro pode ficar para o presidente eleito em
2014, já que a proposta inclui
um prazo de carência, que pode
chegar a cinco anos. Nesse período, o fundo estaria sendo
formado e não poderiam ser
feitos saques para investimentos na área social.
Segundo a Folha apurou,
90% das regras já estão fechadas. O único ponto polêmico
ainda indefinido é o que foi
proposto pelos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Edison Lobão (Minas e Energia)
para autorizar a futura estatal a
contratar a Petrobras para ser
operadora de alguns campos
sem passar por licitação.
Essa ideia surgiu para dar à
Petrobras um caráter de "parceira preferencial" do governo
e compensá-la por ter sido a
"madrugadora" do pré-sal. Seguia ainda a orientação de política industrial, já que a estatal
brasileira tem dado preferência à indústria nacional em
suas encomendas.
Apesar de o "objetivo ser louvável", segundo definição de
um dos membros da comissão,
a medida não deve ser aprovada
neste momento em que se debate a CPI da Petrobras, com a
oposição levantando suspeitas
sobre contratos sem licitação.
Depois de aprovada por Lula,
a proposta será encaminhada
ao Congresso na forma de projeto de lei. A expectativa do governo era aprová-la ainda neste
ano, mas líderes governistas temem que o clima eleitoral e a
CPI da Petrobras acabem emperrando sua tramitação.
Estatal
Até aqui, ainda não há um nome para a futura estatal que irá
administrar a riqueza do pré-sal. Por enquanto, ela está sendo chamada de "empresa brasileira de administração de petróleo" e pode ser apenas um
escritório, mas com definição
de entidade jurídica para representar os interesses da União
nas parcerias com petroleiras.
Entre as salvaguardas em estudo, está a proibição de contratação de diretores que não
sejam técnicos do setor. Além
disso, eles não teriam direito a
receber bônus. Seguindo o modelo norueguês, inspiração para o que será adotado no Brasil,
a futura empresa teria um quadro enxuto, com um número limite de funcionários.
No início dos debates, a ideia
da criação da estatal foi duramente criticada pelo PSDB e
pelo DEM, sob o argumento de
que ela se transformaria num
cabide de empregos e seria usada politicamente para agradar à
base aliada. A oposição dizia até
que o PMDB defendia sua criação para controlá-la no futuro.
Um dos principais defensores da proposta sempre foi o
ministro peemedebista Edison
Lobão. Ele, porém, tem insistido em que a empresa seguirá o
modelo norueguês: pequena e
sem direção política.
No caso do Fundo de Responsabilidade Social, ele poderá ser usado para investimentos no exterior e no Brasil. Na
Noruega, o fundo tem de investir no exterior 93% de seu patrimônio, mas o similar brasileiro não deve ter essa amarra.
A justificativa é que, diferentemente da Noruega, o Brasil é
um país continental, com oportunidades de investimentos em
empresas e em infraestrutura.
O fundo poderá aplicar também em títulos públicos. Todas
as suas aplicações, contudo, terão de gerar uma rentabilidade
mínima a ser fixada.
O governo não vai estabelecer uma vinculação direta de
quanto cada setor receberá dos
dividendos gerados pelo fundo
-além de educação, devem figurar na lista saúde, combate à
pobreza e Previdência Social.
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