São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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Duhalde quer México como interlocutor com os EUA

Argentina propõe união latina para negociar ajuda

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

A América Latina pode se unir na busca de ajuda da comunidade internacional para evitar que o contágio da crise argentina derrube de vez as economias da região.
A iniciativa, idealizada pelo governo argentino, visa mostrar aos Estados Unidos e ao FMI (Fundo Monetário Internacional) que a crise no país vizinho não pode ser "encapsulada" e que as empresas européias e norte-americanas instaladas no continente "perderiam fortunas" com uma recessão generalizada.
O primeiro contato nesse sentido teria sido feito pelo presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, com um telefonema para FHC neste fim de semana. A assessoria do governo brasileiro não confirmou a informação.
Os argentinos também esperam contar com o apoio do México até 5 de julho, quando acaba a reunião de cúpula dos países do Mercosul, em Buenos Aires.
A Argentina defende que o presidente mexicano, Vicente Fox, deveria ser o responsável por mostrar aos EUA o perigo que corre a região. "É necessária uma solução para todo o Mercosul. Por isso vamos pedir a Fox que seja nosso interlocutor", disse o chanceler argentino, Carlos Ruckauf. "Ou nos salvamos todos ou cai a economia da região."

Contágio
Sinais de que a crise já pode ter se espalhado por toda a América Latina foram sentidos nesta semana. O Uruguai foi obrigado a liberar seu câmbio na quinta, sufocado pela queda nas reservas internacionais e a fuga de capitais.
Até mesmo o México, considerado há pouco um porto seguro na América Latina, sente os efeitos do contágio da crise que se espalha pela região. O ministro das Finanças do México, Francisco Gil, culpou as turbulências no Brasil pela desvalorização do peso e a alta do risco-país registradas nos últimos dias. Na sexta, o peso mexicano atingiu seu menor valor diante do dólar em 17 meses.
No Brasil, o dólar disparou mais 2,5% na sexta-feira e atingiu seu maior valor no Real, vendido a R$ 2,84. O risco-país acelerou sua escalada nos últimos dias e fechou na sexta-feira no maior nível desde janeiro de 99. No Chile, o dólar subiu 1,5% na sexta. Assustado com a crise, o Paraguai já negocia uma blindagem financeira de US$ 220 milhões.
Mesmo assim, o secretário do Tesouro dos EUA, Paul O'Neill, se mostrou na última sexta contrário a aumentar a ajuda ao Brasil, porque, para ele, a crise no país é política. O'Neill também sinalizou que o FMI não deve aumentar a ajuda aos outros países porque seria difícil explicar ao contribuinte dos EUA que os impostos pagos estão sendo enviados aos países pobres.
Para tentar sensibilizar os EUA, os governos do Mercosul também vão pintar um quadro incendiário para a região durante a visita do subsecretário de Estado para Assuntos Interamericanos dos EUA, Otto Reich, que passará por diversos países latino-americanos no começo de julho.

Argentina
O ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, que viaja a Washington amanhã, disse que o FMI deve entender que o país só terá condições de elaborar um plano sustentável após fechar um pré-acordo que possibilitasse, ao menos, o adiamento de pagamentos das dívidas que vencem nos próximos meses com os organismos internacionais.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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