|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
A vitória sobre a inflação
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Se não ocorrer algum desastre
político, devemos iniciar o
próximo ano com uma inflação
anual da ordem de 5%. Os índices
no ano civil de 2005 devem apresentar um número um pouco
maior, algo como 5,9%, nas previsões do economista Fabio Ramos,
que trabalha comigo na Quest.
Menino inteligente e competente
técnico na tarefa de acompanhar
o vaivém dos preços, aprendi em
poucos meses a confiar em seu
trabalho. Por isso, assumo aqui
suas conclusões e faço esta minha
reflexão a partir de suas previsões.
Um primeiro ponto a ser ressaltado é o reconhecimento de que o
Banco Central realizou, com êxito, sua missão de estabilizar os
preços, depois de anos de combate
a uma inflação que, em vários
momentos, parecia fugir ao controle. Basta olhar para o resultado dos últimos três anos para ficar nítida essa observação: a inflação ao consumidor brasileiro
foi de 7,6% em 2004, deverá ser de
cerca de 5,9% neste ano e algo como 5% em 2006. Ao fixar a meta
de inflação para 2007 -4,5%,
com intervalo de mais ou menos
2%-, o governo sinaliza que
chegamos a um estágio de equilíbrio.
Deixando de lado o imponderável, como citei no início desta coluna, o próximo presidente da República deve assumir o comando
do país com uma inflação estabilizada em níveis ditos civilizados.
Uma consolidação definitiva do
caminho iniciado em 1994, com o
Plano Real. Foi um longo período,
com custos extraordinários para
a sociedade brasileira, mas esse
verdadeiro corredor polonês, que
se iniciou em 1975, enfim terminou.
Não podemos agora cair na tentação da euforia da vitória, devemos ser capazes de aprender com
as dificuldades que passamos e
com os erros que cometemos para
enfrentar os enormes desafios que
precisamos encarar. Uma primeira observação se impõe ao analista cuidadoso. Chegamos a essa
nova situação com os juros mais
elevados do mundo e uma conta
financeira em nosso Orçamento
federal que inviabilizam o crescimento econômico sustentado.
A necessidade de gerar superávit primário, da ordem de 5% do
PIB, acabou por nos levar a ter
uma carga tributária incompatível com uma economia de mercado como a brasileira. Outro aleijão criado -juros altos por um
prazo tão longo- levou à redução dos gastos de investimentos
do governo a níveis insustentáveis.
Outra conseqüência importante
dessa dependência a juros elevadíssimos, principalmente a partir
do aumento da credibilidade de
nossa política econômica, foi a
valorização de nossa moeda. O
valor do real hoje não é estável,
pois reflete apenas o diferencial
de juros que existe entre nosso
país e outras economias de mercado. Como explicar que o real tenha se valorizado, nos últimos 12
meses, 22% em relação ao dólar
de Cingapura, 13% em relação ao
won sul-coreano e 26% em relação ao franco suíço se não pelo diferencial de juros?
Reduzir os juros brasileiros, para níveis também civilizados, é o
grande desafio que o governo Lula vai deixar a seu sucessor. Será
uma batalha tão difícil como foi a
luta contra a inflação. Para vencê-la, será preciso uma leitura
profunda das distorções institucionais e do comportamento dos
principais agentes envolvidos na
dinâmica financeira de nossa
economia. Até agora, o que temos
visto são avaliações parciais e superficiais, mas de muito Ibope.
Uma delas associa nossos juros
elevados à questão dos impostos
cobrados no sistema financeiro;
outra, à questão contratual e do
funcionamento de nossa Justiça.
Ambos são problemas a serem
enfrentados, mas não representam a questão central desse enorme desafio. Meu irmão José Roberto, analista cuidadoso e profundo de nossas questões econômicas, costuma desqualificar a
escola que associa a questões de
contrato e Justiça os juros elevados no Brasil com uma pergunta
muito simples: por acaso, o Equador, a Colômbia e o Peru não têm
o mesmo problema de insegurança jurídica? E os juros nesses países são normais.
Proponho um minuto de nosso
tempo para parabenizar o BC e o
restante do ano para refletir sobre
a questão dos juros no Brasil.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 62,
engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
E-mail - lcmb2@terra.com.br
Texto Anterior: Governo precisa flexibilizar objetivos, diz Ciesp Próximo Texto: Tendências Internacionais - Leite derramado: Parmalat fecha acordo com Morgan Stanley Índice
|