São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2005

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Governo precisa flexibilizar objetivos, diz Ciesp

DA REPORTAGEM LOCAL

O governo perdeu ontem a oportunidade de iniciar um processo de flexibilização do sistema de metas de inflação que permitiria ao país manter os preços sob controle e crescer mais do que tem crescido com o regime atual, diz o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
Boris Tabacof, diretor do departamento de economia da entidade, diz que, com o atual sistema, o "resultado é ruim para o desenvolvimento da indústria e do país". Ele diz que a flexibilização do sistema precisa ser discutida com toda a sociedade. "A sociedade precisa participar da discussão para que o sistema de meta de inflação seja aperfeiçoado."
Nesta semana, o Ciesp terminou artigo em que analisa o sistema adotado pelo Brasil e propõe mudanças para aperfeiçoá-lo. A entidade enfatiza que não propõe o fim do sistema de metas de inflação. Pelo contrário, o próprio artigo apresentado nesta semana diz que "a história inflacionária do país demanda mecanismos que não percam de vista a evolução dos preços".

Fragilidades
Ainda assim, ele lembra algumas fragilidades da política monetária brasileira. Primeiro, o estudo aponta para a falta de eficácia dos apertos de juros diante de choques adversos, como altas do petróleo, por exemplo. Para combater a inflação gerada por esses choques, o BC, lembra o Ciesp, precisa estrangular o mercado interno para conter os preços.
Os juros altos também atraem capital especulativo, contribuindo para a desvalorização do câmbio. A velocidade que o BC precisa ter para que a taxa de inflação convirja para a meta também é outro ponto crítico, aponta o estudo do Ciesp.
Tabacof diz que a atual política econômica é uma espécie de "camisa de força ortodoxa", cuja adoção faz com que o país abra mão de crescer. Para mudar o caráter da política, diz ele, o estudo faz sugestões:
1) Adotar, junto com a meta de inflação, uma meta de produto ou de emprego. Além de mirar a inflação, o BC deveria considerar também um objetivo mínimo de crescimento;
2) A fixação das metas poderia ser feita para períodos mais longos, bienais ou trienais (como defendeu a Fazenda ontem). Neste caso, diz o estudo, a política monetária poderia lidar melhor com os choques, mirando a taxa de 12 meses, mas sabendo que pode fazê-la convergir para a meta em períodos maiores;
3) A discussão sobre a necessidade de expurgar parte da inflação do IPCA, já que cerca de um terço do índice é composto por preços monitorados;
4) A mais polêmica sugestão é a criação, pelo governo, de medidas compensatórias para os setores que não registram elevações de preços e que sofrem com o aperto monetário. Tabacof admite que a proposta é polêmica e envolveria um acompanhamento de que setores aumentam preços. (MB)


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