|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Agência desiste de acelerar aval à VarigLog
Anac diz que ainda analisará compra da empresa de transportes, que condicionou aprovação do negócio a investimento na Varig
Comprador tenta provar ter capital próprio; autorização chegou a ser comunicada ao governo, mas enfrentou pressões contrárias
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
A Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) comunicou ontem à tarde ao governo que a
tendência seria aprovar a compra da VarigLog (subsidiária de
transportes de carga da Varig)
pela empresa Volo, mas, no fim
do dia, diante da reação contrária do mercado e de setores do
governo, adiou a decisão.
À noite, a agência distribuiu
nota dizendo que os técnicos e
a área jurídica estavam analisando os documentos da Volo e
as implicações da operação, e
não havia previsão de prazo para uma decisão.
O grande empecilho é que a
Volo, vinculada ao fundo americano Matlin Patterson, não
consegue comprovar que tem
80% de capital nacional. O Código Brasileiro de Aviação limita a 20% a participação de capital estrangeiro nas aéreas.
A maior importância do negócio é o efeito que poderá ter
sobre o destino da própria Varig. A Volo condicionou a injeção de US$ 485 milhões na
compra da Varig Operacional
justamente à permissão da
Anac para completar, antes, a
aquisição da VarigLog.
A intenção da empresa mobilizou a Casa Civil, o Ministério
da Defesa, a agência e até o juiz
Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara
Empresarial do Rio de Janeiro
e responsável pelo processo de
recuperação da Varig. Ele esteve pessoalmente em Brasília na
última quarta-feira para tratar
da questão.
No meio da tarde de ontem,
quando surgiu a primeira informação de que a Anac iria anunciar que aprovava a compra da
VarigLog, o diretor de Relações
Governamentais do Snea (Sindicato Nacional das Empresas
Aéreas), Anchieta Hélcias, reagiu com indignação.
Pressão política
"É uma decisão inusitada,
fruto de pressão política. Arromba a porta da lei que regulamenta o capital estrangeiro nas
companhias", disse ele, que entrou na Justiça, em nome da
entidade, exigindo que a Volo
apresentasse toda a documentação demonstrando que seu
capital é nacional, não apenas
da Matlin Patterson. Era essa
documentação que a Anac tentava decifrar ontem.
"Se a decisão for confirmada,
o governo vai ter de enviar projeto ao Congresso para mudar a
lei, e o país vai ter de decidir se
aviação é bem de consumo e
pode ter 100% de capital estrangeiro, ou se é bem estratégico e deve manter a limitação",
disse Hélcias, seguro de que a
Volo não tem como demonstrar capital próprio e lembrando que a limitação vale para
praticamente todos os países.
Diante das reações, a Anac
decidiu não anunciar nenhuma
decisão ontem nem se comprometer com prazos para fazê-lo.
Isso torna a situação da Varig
ainda mais grave, praticamente
dramática, pois suas atividades
podem ser suspensas a qualquer momento.
A expectativa era que, por
pressão do Planalto, especialmente, a Anac concedesse a
"anuência" para a compra da
VarigLog para que a Volo imediatamente se habilitasse para
adquirir a Varig Operacional.
O juiz, então, teria um bom
pretexto para adiar a quebra da
companhia, convocando um
novo leilão -já que o TGV
(consórcio dos funcionários),
responsável pela única proposta no primeiro leilão, não conseguiu comprovar capacidade
financeira e garantia.
Com o recuo da Anac, o juiz
não tem mais esse pretexto e
não há mais o que fazer. O tempo corre contra a sobrevivência
da Varig, tanto quanto a falta de
compradores com viabilidade
real de concretizar o negócio.
Colaborou IURI DANTAS, da Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Juiz anula venda da Varig a funcionários Próximo Texto: Frase Índice
|