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Mantega avança "petização" no Ministério da Fazenda
Das seis secretarias, quatro estão ocupadas por técnicos da máquina petista
Arno Augustin, que assumiu Tesouro Nacional, satisfaz lobby gaúcho; partidários
afirmam que está mais fácil ter acesso à pasta
FÁBIO ZANINI
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de 15 meses à frente
do Ministério da Fazenda, o
ministro Guido Mantega está
deixando de lado o perfil exclusivamente técnico de professor
da Fundação Getulio Vargas e
assessor econômico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
para se envolver mais a fundo
com a política partidária.
A face mais visível dessa mudança veio neste mês, quando o
ministro Mantega deu posse na
Secretaria do Tesouro Nacional
a Arno Augustin, influente quadro do PT gaúcho, cujo perfil é
um híbrido de trotskista com
ortodoxo.
Respeitado pelo conhecimento técnico na área de finanças públicas, Augustin é um
apadrinhado de Olívio Dutra,
de quem foi secretário da Fazenda na Prefeitura de Porto
Alegre e no governo do Rio
Grande do Sul.
A nomeação satisfaz o poderoso lobby gaúcho dentro do
PT e abre espaço para um representante da DS (Democracia Socialista), corrente de esquerda do PT, que controla 15%
do partido.
No Rio Grande do Sul, Augustin conseguiu ser a um só
tempo um ideólogo do trotskismo petista, um hábil articulador de bastidores do partido e
um severo guardião da chave
do cofre.
"O Arno tem uma cabeça de
junta financeira. É duro, mas
sabe dialogar", diz o deputado
Beto Albuquerque (PSB-RS),
que era secretário de Transportes na época. "Tivemos uma
convivência interessante. Eu
sempre querendo gastar, ele
sempre segurando o cofre do
governo."
A ida de Augustin para a Secretaria do Tesouro não é um
capítulo isolado da estratégia
de Mantega de abrir espaço para o PT no ministério.
Das seis secretarias, quatro
são ocupadas por técnicos da
máquina petista com claras ligações partidárias e pelo menos dois deles -Nelson Machado, secretário-executivo, e Nelson Barbosa, secretário de
Acompanhamento Econômico- são de estrita confiança do
ministro.
Bernard Appy, secretário de
Política Econômica, é um técnico ligado ao PT paulista que
chegou ao governo ainda na
gestão de Antonio Palocci na
Fazenda.
O perfil menos heterodoxo
do que Mantega já causou atritos, especialmente durante as
discussões sobre desonerações
fiscais no PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento). O
ministro chegou a falar em mudanças, mas Appy acabou trocando de cargo.
Jorge Rachid, na Receita Federal, é o único remanescente
da equipe tucana no Ministério
da Fazenda.
As mudanças na equipe já começam a ser notadas no mundo
político. Na Câmara, petistas
relatam, satisfeitos, como é
mais fácil ter acesso hoje ao Ministério da Fazenda. "Há um
maior número de petistas no
ministério. Isso tem facilitado
muito no diálogo, por exemplo,
do PAC", diz o deputado Tarcísio Zimmermann (PT-RS).
A assessoria de imprensa do
ministro nega que haja qualquer esforço coordenado para
abrir espaço para o PT no Ministério da Fazenda. "O ministro escolhe técnicos que têm
afinidades com a política econômica. Contar com quadros
partidários é natural. Não há
por que estranhar que pessoas
ligadas ao PT tenham cargos no
ministério. Isso não é questão
de cota do partido ou nada desse tipo", informou a assessoria
de Mantega.
As atuais habilidades políticas do ministro, no entanto,
contrastam bastante com
aquelas do assessor econômico
do então candidato Lula em
2001. Ao se referir às alas mais
radicais do PT, Mantega afirmou à época que "há muito
tempo que eles não apitam nada em matéria econômica". O
rebuliço interno que se seguiu
mereceu uma reprimenda pública e imediata de Lula.
"Toda vez que um economista que não é político entra na
política, corre o risco de falar
bobagem. O Guido falou uma
coisa que não deveria ter falado", afirmou Lula.
O Mantega de hoje, ao contrário, é o que o presidente Lula
talvez definiria como um "animal político".
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