São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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Mantega avança "petização" no Ministério da Fazenda

Das seis secretarias, quatro estão ocupadas por técnicos da máquina petista

Arno Augustin, que assumiu Tesouro Nacional, satisfaz lobby gaúcho; partidários afirmam que está mais fácil ter acesso à pasta

FÁBIO ZANINI
LEANDRA PERES

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de 15 meses à frente do Ministério da Fazenda, o ministro Guido Mantega está deixando de lado o perfil exclusivamente técnico de professor da Fundação Getulio Vargas e assessor econômico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se envolver mais a fundo com a política partidária.
A face mais visível dessa mudança veio neste mês, quando o ministro Mantega deu posse na Secretaria do Tesouro Nacional a Arno Augustin, influente quadro do PT gaúcho, cujo perfil é um híbrido de trotskista com ortodoxo.
Respeitado pelo conhecimento técnico na área de finanças públicas, Augustin é um apadrinhado de Olívio Dutra, de quem foi secretário da Fazenda na Prefeitura de Porto Alegre e no governo do Rio Grande do Sul.
A nomeação satisfaz o poderoso lobby gaúcho dentro do PT e abre espaço para um representante da DS (Democracia Socialista), corrente de esquerda do PT, que controla 15% do partido.
No Rio Grande do Sul, Augustin conseguiu ser a um só tempo um ideólogo do trotskismo petista, um hábil articulador de bastidores do partido e um severo guardião da chave do cofre.
"O Arno tem uma cabeça de junta financeira. É duro, mas sabe dialogar", diz o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), que era secretário de Transportes na época. "Tivemos uma convivência interessante. Eu sempre querendo gastar, ele sempre segurando o cofre do governo."
A ida de Augustin para a Secretaria do Tesouro não é um capítulo isolado da estratégia de Mantega de abrir espaço para o PT no ministério.
Das seis secretarias, quatro são ocupadas por técnicos da máquina petista com claras ligações partidárias e pelo menos dois deles -Nelson Machado, secretário-executivo, e Nelson Barbosa, secretário de Acompanhamento Econômico- são de estrita confiança do ministro.
Bernard Appy, secretário de Política Econômica, é um técnico ligado ao PT paulista que chegou ao governo ainda na gestão de Antonio Palocci na Fazenda.
O perfil menos heterodoxo do que Mantega já causou atritos, especialmente durante as discussões sobre desonerações fiscais no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). O ministro chegou a falar em mudanças, mas Appy acabou trocando de cargo.
Jorge Rachid, na Receita Federal, é o único remanescente da equipe tucana no Ministério da Fazenda.
As mudanças na equipe já começam a ser notadas no mundo político. Na Câmara, petistas relatam, satisfeitos, como é mais fácil ter acesso hoje ao Ministério da Fazenda. "Há um maior número de petistas no ministério. Isso tem facilitado muito no diálogo, por exemplo, do PAC", diz o deputado Tarcísio Zimmermann (PT-RS).
A assessoria de imprensa do ministro nega que haja qualquer esforço coordenado para abrir espaço para o PT no Ministério da Fazenda. "O ministro escolhe técnicos que têm afinidades com a política econômica. Contar com quadros partidários é natural. Não há por que estranhar que pessoas ligadas ao PT tenham cargos no ministério. Isso não é questão de cota do partido ou nada desse tipo", informou a assessoria de Mantega.
As atuais habilidades políticas do ministro, no entanto, contrastam bastante com aquelas do assessor econômico do então candidato Lula em 2001. Ao se referir às alas mais radicais do PT, Mantega afirmou à época que "há muito tempo que eles não apitam nada em matéria econômica". O rebuliço interno que se seguiu mereceu uma reprimenda pública e imediata de Lula.
"Toda vez que um economista que não é político entra na política, corre o risco de falar bobagem. O Guido falou uma coisa que não deveria ter falado", afirmou Lula.
O Mantega de hoje, ao contrário, é o que o presidente Lula talvez definiria como um "animal político".


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