São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2008

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BC prevê rombo maior nas contas externas

Expectativa anterior, de US$ 12 bi, foi elevada para US$ 21 bi; se déficit for confirmado, será o pior resultado desde 2001

Principal motivo para alta do déficit é a importação de máquinas e equipamentos feita pelas empresas que estão investindo mais


JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A expectativa de piora do saldo comercial e o aumento das remessas de lucros e dividendos ao exterior levaram o Banco Central a elevar a projeção de déficit nas transações correntes para US$ 21 bilhões neste ano. A expectativa anterior do BC, que revisa as projeções a cada trimestre, era de déficit de US$ 12 bilhões nas contas externas. Se for confirmada essa alta de 75%, será o pior resultado do Brasil desde 2001, quando a conta corrente ficou negativa em US$ 23,2 bilhões.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, afirmou que não há motivo de preocupação porque a instituição acredita que o déficit em transações correntes será financiado pela entrada de dólares dos investimentos estrangeiros no setor produtivo. Mas de janeiro a maio, o investimento estrangeiro direto foi de US$ 14 bilhões, menor que o déficit acumulado no período, de US$ 14,7 bilhões. Insuficiente, portanto, para financiar o rombo nas contas externas.
"No conjunto, as transações correntes são financiáveis e o balanço de pagamentos está em situação saudável", diz Lopes.
As transações correntes são formadas por balança comercial (exportações menos importações), balança de serviços (pagamento de juros da dívida externa, gastos com viagens internacionais, remessas de dividendos ao exterior, entre outros) e transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no exterior e vice-versa). O balanço de pagamentos é o resultado das transações correntes, mais a conta capital e financeira (que inclui o fluxo de capitais entre o Brasil e o exterior no setor produtivo e no mercado financeiro).
Nelson Carneiro, economista-sênior da consultoria Austing Rating, afirma que o BC ainda é conservador na projeção. Ele prevê déficit de US$ 30 bilhões nas transações correntes neste ano e aposta, ainda, que o investimento direto não será suficiente para financiar o resultado negativo das contas externas. Mas acredita que os investimentos estrangeiros no mercado financeiro, como em ações e em renda fixa, ajudarão a fechar essa conta. Além dos juros altos, o "investment grade" (selo de que é seguro investir no Brasil) torna o país um investimento atrativo também para os fundos do exterior.
Por causa do "investment grade", o BC revisou também a projeção de investimento estrangeiro em ações brasileiras e renda fixa, de US$ 12 bilhões para US$ 25 bilhões.

Importação ajuda
Maurício Oreng, economista da Itaú Corretora, tem projeção parecida com a do BC para as transações correntes do ano, de déficit de US$ 22 bilhões. Ele alerta que o crescimento econômico do país está provocando o resultado negativo nas contas externas, puxado principalmente pelas importações de máquinas e equipamentos das empresas que estão investindo.
Apesar da piora nas projeções, o déficit em conta corrente de maio foi o menor do ano, de US$ 649 milhões. A melhora no mês foi puxada pela balança comercial, que teve superávit de US$ 4,1 bilhões. Lopes lembrou que foi resultado da volta ao trabalho dos auditores da Receita Federal e a solução de outros entraves ao comércio exterior no ano. "Em junho, a balança comercial volta ao normal. Nossa projeção para o ano é de crescimento de 13% nas exportações e de 30,2% nas importações", disse ele.
Para junho, a expectativa do BC é registrar déficit de US$ 1,2 bilhão. As remessas de lucros e dividendos neste mês devem somar US$ 1,6 bilhão.


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