São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2008

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AgroFolha

Arroba do boi caminha para R$ 100 em SP

Frigoríficos já pagam até R$ 96; no mercado futuro, negócios para outubro já são realizados por valores acima de R$ 100

Reflexo desses aumentos é sentido pelo consumidor, que nos últimos 12 meses pagou mais 27% para ter o produto na mesa de casa


MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O período de churrasco barato está terminando. Alguns frigoríficos chegaram a pagar R$ 96 pela arroba de boi. No mercado futuro, o valor já superou R$ 100 neste mês. Ontem fechou abaixo desse patamar. Isso significa alta de 63% em relação aos valores de há um ano.
A alta começa a se refletir no bolso dos consumidores que, nos últimos 12 meses, pagaram mais 27% pela carne bovina em São Paulo. A inflação no período foi de 5,4%, segundo a Fipe.
A alta fez os frigoríficos exportadores também mudarem de estratégia. Os contratos agora são fechados para apenas uma quinzena. Afinal, os riscos para os frigoríficos podem vir de duas pontas: queda do dólar e alta da arroba.
Duas perguntas ecoam pelo setor: quanto tempo dura esse período de alta e até onde vão esses preços? Ninguém se arrisca em respostas concretas, principalmente porque novos componentes de pressão nos preços se acumulam a cada dia.
Os motivos iniciais dessa escalada dos preços do boi no pasto já eram previstos. A pecuária amargou preços baixos por vários anos, perdeu competitividade e começou a abater fêmeas. Com isso, houve diminuição na oferta de bezerros e, conseqüentemente, redução de bois prontos para o abate.
Oferta menor de gado, somada à liderança nacional nas exportações mundiais de carnes e ao consumo interno crescente, devido ao aumento de renda, fez com que os preços internos mudassem de patamar.
Esse aumento eleva a margem de ganho dos pecuaristas, que aumentam os investimentos. Seguindo esse ciclo normal, a oferta de bois poderia voltar ao normal a partir de 2010.
Novos fatores, no entanto, começam a interferir nesse ciclo de alta, que poderá ser mais longo do que o previsto, na avaliação de José Vicente Ferraz, diretor-técnico da AgraFNP.
Um deles é o aumento de custos. "Essa alta ainda é uma recuperação das perdas dos últimos cinco anos, mas os insumos sobem acima da evolução da arroba de boi", diz o zootecnista e pecuarista Luis Antonio Setubal. Ou seja, os preços da carne vão continuar em alta. "Mas é difícil prever até quando", diz Setubal.
"Me diga até onde vão os preços do petróleo que eu digo até onde vai a arroba de boi", diz ele. Isso porque o custo do fertilizante, em grande parte, depende do petróleo e está entre os principais componentes de pressão aos pecuaristas. O petróleo influencia, ainda, transportes e outros insumos.

Efeito EUA
Os preços da arroba subiram, mas com a alta dos custos fica difícil saber o quanto realmente os pecuaristas estão obtendo de rentabilidade, diz Ferraz.
Além dessas pressões internas, os preços do boi devem sentir ainda as recentes mudanças no quadro de oferta e demanda de grãos no mercado internacional. As enchentes nos Estados Unidos vão adiar a reposição de estoques de milho, o que vai tornar ainda mais cara a produção de carnes para os norte-americanos e para os europeus, segundo Ferraz.
Mesmo com a queda de oferta de boi por aqui, o Brasil deve continuar sendo um dos principais fornecedores de carne bovina no mundo. A incidência de secas em algumas regiões da Austrália dificulta o desenvolvimento da pecuária por lá; o Uruguai chegou ao limite de área e agora depende de elevação da produtividade; a Argentina impõe cotas às exportações; e os EUA e a Europa, que dependem do milho na pecuária, têm custos mais elevados, o que deve inibir a produção.
Esses fatores podem manter a arroba da carne bovina em R$ 95 neste ano e em R$ 105 no próximo, segundo o diretor-técnico da AgraFNP.
Alguns analistas mais pessimistas acreditam que os confinamentos devem diminuir no segundo semestre nos EUA, devido aos custos elevados dos grãos, abrindo ainda mais espaço para a carne brasileira que, no mercado interno, poderia bater em R$ 110 por arroba.
Fábio Rodas, também pecuarista, diz que "a coisa não poderia ficar como estava. O pecuarista não tinha lucro e o Brasil cheirava a churrasco". Hoje, mesmo com a arroba a R$ 95, ainda há pouco lucro devido ao aumento de custos, diz ele.
Na avaliação de Rodas, o consumidor vai sentir no bolso o aumento, que não foi todo incorporado ainda. A alta das últimas semanas no açougue ainda reflete a arroba a R$ 85.
Em breve, os consumidores vão começar a pagar o correspondente à arroba de R$ 90. Esse aumento escalonado vai tirar parte dos consumidores da carne bovina. O pior é que as carnes suína e de frango também sobem, avalia ele.
Paulo Castro Marques, da Casa Branca Agropastoril, com fazendas em Minas Gerais e em Mato Grosso, diz que o ciclo de baixa teve um ponto positivo: os pecuaristas depuraram o rebanho, o que deveriam fazer com rotina.
Agora, há uma preocupação na recomposição do rebanho, diz Marques. "O pecuarista quer mais qualidade." Com isso, os preços dos reprodutores com garantia também sobem.
Há um ano e meio, o pecuarista vendia seus touros pelo valor médio de R$ 3.000 a R$ 3.500. Neste ano, valem de R$ 5.000 a R$ 8.000.


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