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Exportador promete rastrear 30% do rebanho do país
Medida, porém, ainda vai levar de três a quatro anos para ser implementada
Pelos 17 frigoríficos ligados à associação brasileira de exportadores passam por ano 17 milhões de cabeças de gado, segundo entidade
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
Numa resposta à ação do
MPF (Ministério Público Federal) do Pará contra frigoríficos acusados de envolvimento
com o desmate da Amazônia, a
Abiec (entidade representante
de frigoríficos exportadores)
anunciou ontem que, num prazo de três a quatros anos, todo o
seu rebanho estará incluído
num processo de rastreamento
ambiental e sanitário.
Segundo a promessa da entidade, será possível saber a origem e a movimentação de cada
uma das cabeças de gado que
desembocam nas 17 empresas
ligadas à Abiec. Por ano, passam cerca de 17 milhões de cabeças de gado por esses frigoríficos -30% do rebanho do país.
Dessa forma, os empresários
teriam como saber se cada um
dos bois é oriundo de uma área
que respeita ou não a legislação
ambiental e se foi corretamente vacinado. A ideia é iniciar a
identificação com os bezerros
nascidos em 2009.
O anúncio foi feito ontem pelo presidente da Abiec, Roberto
Giannetti da Fonseca, em audiência na comissão de agricultura do Senado.
A reunião ocorreu por conta
da recente investida do Ministério Público do Pará contra frigoríficos e redes de varejo envolvidos, de acordo com os procuradores, na venda de carne
produzida em áreas desmatadas ilegalmente.
Segundo a Procuradoria, 35
grandes empresas varejistas já
aderiram à proposta de boicote
à carne originada de desmates
ilegais na região.
À Folha Giannetti negou que
a adoção do programa tenha
relação direta com o que chamou de "recente campanha de
ONGs e do Ministério Público
contra o segmento".
Ele disse ver uma "estranha
sincronia" entre as ações do
MPF e das ONGs ambientais.
"O Greenpeace anunciou pela
manhã as ações que o MPF iria
tomar à tarde."
Na audiência, afirmou que
esse tipo de denúncia "coloca
em risco a pecuária do Brasil à
medida que deprecia a imagem
de fornecedor competitivo".
Ele disse que o Ministério Público agiu com "irresponsabilidade" e chamou as acusações
de "mentira deslavada".
Convidados, a ONG Greenpeace, autora da denúncia da
origem do gado, e o Ministério
Público do Pará não enviaram
representantes à audiência de
ontem. Eles devem ser ouvidos
na semana que vem.
Para o procurador da República no Pará, Felício Pontes
Júnior, as declarações do presidente da Abiec "não correspondem à realidade".
"Quando comprova que a denúncia de uma ONG é um fato,
é verdadeira, o MPF atua. No
caso dos frigoríficos, foram
quase dois anos de trabalho."
Questionado sobre a iniciativa de rastreamento da Abiec, o
ministro Carlos Minc (Meio
Ambiente) afirmou: "Agora
eles [frigoríficos] concluíram
aquilo que eu havia dito antes:
que a questão ambiental não
era um problema a mais, era
um problema a menos".
"Porque agora eles estão enfrentando dois problemas. A
crise econômica, que atingiu o
setor, e a questão da rejeição,
porque eles realmente são
agentes hoje que mais desmatam a Amazônia", disse Minc.
Procedência dos lotes
Clientes da rede de frigoríficos Bertin vão poder verificar
na internet a procedência dos
lotes de carne adquiridos da
empresa. Desde ontem, o sistema de rastreabilidade interno
foi aberto no site da empresa,
mediante a apresentação dos
números de cadastro e da nota
fiscal da compra.
Anteontem, o Marfrig havia
anunciado a suspensão da compra de bois de novas áreas desmatadas na Amazônia.
A rede Wal-Mart afirmou
que vai exigir que os frigoríficos
apresentem laudos de auditorias independentes para comprovar que seus fornecedores
não estejam envolvidos com
desmatamento ilegal.
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