São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 2009

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Exportador promete rastrear 30% do rebanho do país

Medida, porém, ainda vai levar de três a quatro anos para ser implementada

Pelos 17 frigoríficos ligados à associação brasileira de exportadores passam por ano 17 milhões de cabeças de gado, segundo entidade


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

Numa resposta à ação do MPF (Ministério Público Federal) do Pará contra frigoríficos acusados de envolvimento com o desmate da Amazônia, a Abiec (entidade representante de frigoríficos exportadores) anunciou ontem que, num prazo de três a quatros anos, todo o seu rebanho estará incluído num processo de rastreamento ambiental e sanitário.
Segundo a promessa da entidade, será possível saber a origem e a movimentação de cada uma das cabeças de gado que desembocam nas 17 empresas ligadas à Abiec. Por ano, passam cerca de 17 milhões de cabeças de gado por esses frigoríficos -30% do rebanho do país.
Dessa forma, os empresários teriam como saber se cada um dos bois é oriundo de uma área que respeita ou não a legislação ambiental e se foi corretamente vacinado. A ideia é iniciar a identificação com os bezerros nascidos em 2009.
O anúncio foi feito ontem pelo presidente da Abiec, Roberto Giannetti da Fonseca, em audiência na comissão de agricultura do Senado.
A reunião ocorreu por conta da recente investida do Ministério Público do Pará contra frigoríficos e redes de varejo envolvidos, de acordo com os procuradores, na venda de carne produzida em áreas desmatadas ilegalmente.
Segundo a Procuradoria, 35 grandes empresas varejistas já aderiram à proposta de boicote à carne originada de desmates ilegais na região.
À Folha Giannetti negou que a adoção do programa tenha relação direta com o que chamou de "recente campanha de ONGs e do Ministério Público contra o segmento".
Ele disse ver uma "estranha sincronia" entre as ações do MPF e das ONGs ambientais. "O Greenpeace anunciou pela manhã as ações que o MPF iria tomar à tarde."
Na audiência, afirmou que esse tipo de denúncia "coloca em risco a pecuária do Brasil à medida que deprecia a imagem de fornecedor competitivo". Ele disse que o Ministério Público agiu com "irresponsabilidade" e chamou as acusações de "mentira deslavada".
Convidados, a ONG Greenpeace, autora da denúncia da origem do gado, e o Ministério Público do Pará não enviaram representantes à audiência de ontem. Eles devem ser ouvidos na semana que vem.
Para o procurador da República no Pará, Felício Pontes Júnior, as declarações do presidente da Abiec "não correspondem à realidade".
"Quando comprova que a denúncia de uma ONG é um fato, é verdadeira, o MPF atua. No caso dos frigoríficos, foram quase dois anos de trabalho."
Questionado sobre a iniciativa de rastreamento da Abiec, o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) afirmou: "Agora eles [frigoríficos] concluíram aquilo que eu havia dito antes: que a questão ambiental não era um problema a mais, era um problema a menos".
"Porque agora eles estão enfrentando dois problemas. A crise econômica, que atingiu o setor, e a questão da rejeição, porque eles realmente são agentes hoje que mais desmatam a Amazônia", disse Minc.

Procedência dos lotes
Clientes da rede de frigoríficos Bertin vão poder verificar na internet a procedência dos lotes de carne adquiridos da empresa. Desde ontem, o sistema de rastreabilidade interno foi aberto no site da empresa, mediante a apresentação dos números de cadastro e da nota fiscal da compra.
Anteontem, o Marfrig havia anunciado a suspensão da compra de bois de novas áreas desmatadas na Amazônia.
A rede Wal-Mart afirmou que vai exigir que os frigoríficos apresentem laudos de auditorias independentes para comprovar que seus fornecedores não estejam envolvidos com desmatamento ilegal.


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