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Liberalização do câmbio será gradual
Quantidade de dólares que exportadores poderão deixar no exterior para compensar dívidas será elevada aos poucos
Em meio a divergências
na equipe econômica sobre
perda de receita com CPMF,
governo quer tempo para
avaliar impacto de mudanças
LEANDRA PERES
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo vai acabar aos
poucos com a cobertura cambial, regra que obriga as empresas a trocar por reais os dólares
que recebem no exterior, segundo informou o ministro da
Fazenda, Guido Mantega.
Essa foi a fórmula encontrada para resolver um impasse na
equipe econômica, que não
abre mão da arrecadação da
CPMF e, ao mesmo tempo, teme que as mudanças na legislação cambial comemoradas com
antecipação dentro do governo
sejam criticadas por não terem
nenhum efeito prático.
"Queremos criar um mecanismo que fique dentro da lei
da CPMF para não haver limitador fiscal [ao fim da cobertura cambial]. Já contamos com a
arrecadação e não estamos dispostos a perder receita", afirmou Mantega.
Com isso, o texto da MP que
deverá ser divulgado nesta semana não fixará um percentual
das receitas em dólar que as
empresas poderão deixar no
exterior para compensar dívidas e pagamentos a serem feitos. Segundo Mantega, a definição desses percentuais ficará a
cargo do CMN (Conselho Monetário Nacional), que se reúne
a cada mês. A idéia é que a parcela de recursos que ficará no
exterior seja elevada gradativamente e possa atingir 100%.
A avaliação dos técnicos da
área econômica é que, dessa
forma, será possível avaliar o
impacto real dessas mudanças
no mercado antes de avançar
na liberalização. O temor é que
haja volatilidade no mercado
de câmbio ou brechas para a lavagem de dinheiro.
Polêmica
O entrave criado pela necessidade de manter a arrecadação
da CPMF virou problema político para a equipe econômica.
Parte da equipe argumentava
que a cobrança da CPMF anularia os ganhos do pacote cambial e faria o governo anunciar
uma medida sem efeito prático.
A alegação é que o pagamento
da CPMF sobre o dinheiro que
ficará fora do país exigirá um
maior controle tanto por parte
das empresas como do governo, podendo até elevar o custo
para o setor privado.
A divulgação de estudo feito
pelo Ministério do Desenvolvimento, estimando a perda de
arrecadação em, no máximo,
R$ 206 milhões, deixou claras
as divergências. Para a Receita,
a renúncia fiscal chegaria a R$
1,078 bilhão, caso a decisão fosse não cobrar a contribuição.
O governo chegou a considerar a possibilidade de abrir mão
de parcela pequena da arrecadação. Nesse caso, a MP teria
de fixar um percentual baixo de
receitas que poderiam ficar no
exterior. Uma das propostas
avaliadas foi de 15%, o que implicaria perda de receitas de
pouco mais de R$ 100 milhões.
O problema, porém, foi que
os grandes exportadores não
teriam ganhos com a medida. O
governo deixaria de arrecadar
e, ainda, não resolveria o problema do setor privado.
Por isso, a idéia foi descartada e optou-se por manter a cobrança sem fixar um percentual em lei e deixar o CMN aumentar gradativamente a liberdade cambial.
Falta consenso
A solução jurídica para a cobrança da CPMF sobre o dinheiro que ficará no exterior,
no entanto, ainda estava sendo
analisada na semana passada.
O outro ganho anunciado como vantagem do pacote cambial é a desvalorização do real,
medida que satisfaz os empresários. Isso, porém, não é consenso na equipe econômica. Alguns técnicos avaliam que a
medida não deve alterar a tendência de valorização do real.
Primeiro porque o percentual das receitas que ficarão fora do país não será muito alto
no início. Segundo, o juro elevado no país é atrativo para que
o exportador traga dólares para
investir no mercado interno.
Mesmo com a fórmula encontrada para não frustrar
completamente o pacote cambial, as medidas acabarão muito mais modestas do que queria
o setor privado.
O projeto defendido pela
Fiesp previa o fim da cobertura
cambial e a abertura de contas
em dólares no país. Esse último
ponto, porém, é o único consenso dentro da área econômica -que é contra.
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