São Paulo, sexta-feira, 24 de julho de 2009

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análise

Melhor, mas não muito

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com uma dose de alívio. Assim as autoridades devem ter reagido ao retrato, divulgado ontem pelo IBGE, da evolução do mercado de trabalho metropolitano em junho. Isso porque os dados sobre o desempenho do emprego formal no mesmo mês, que vieram a público na semana passada, haviam mostrado uma interrupção da melhora progressiva iniciada em janeiro -e, portanto, haviam aumentado as dúvidas quanto à continuidade da recuperação do mercado de trabalho.
Já a pesquisa do IBGE mostrou, à primeira vista, uma melhora substancial do mercado de trabalho nas maiores metrópoles brasileiras. O número de maior visibilidade, a taxa de desocupação, diminuiu de 8,8% para 8,1% entre maio e junho. Trata-se de proporção bem mais baixa do que estimavam os analistas de bancos e consultorias, cujas projeções se concentravam entre 8,7% e 9,3%. Essa melhora substancial é ilusória em grande medida, porque o que derrubou a taxa de desocupação não foi a aceleração da abertura de vagas, mas uma redução expressiva do ritmo de crescimento da PEA (a População Economicamente Ativa, ou seja, o contingente de pessoas com pelo menos dez anos de idade que estavam trabalhando ou procurando trabalho).
Na comparação com igual mês de 2008, em junho o número de trabalhadores ocupados manteve-se praticamente estagnado, a exemplo do que se havia constatado também em maio e em abril. Já o ritmo de alta interanual da PEA caiu de 1,2% para apenas 0,2% de maio para junho -um movimento cujas razões a pesquisa não esclarece, mas que geralmente é atribuído ao aumento da proporção de pessoas que desistiram de procurar uma colocação.
Apesar dessa ressalva, os dados revelaram alguma melhora do mercado de trabalho. Descontadas as oscilações típicas de cada mês, os cálculos da LCA indicam que junho foi o segundo mês consecutivo em que -graças sobretudo ao setor de serviços, e apesar da queda do emprego industrial- o número de trabalhadores ocupados aumentou (embora timidamente) na comparação com o mês precedente.
Essa evidência se soma a outras, como o aumento das vendas do comércio varejista e a gradual retomada da produção industrial (nos dois casos, a estatística oficial mais recente refere-se a maio). Também há indícios de que o volume de mercadorias exportadas e importadas pelo país continua a se recuperar do tombo dramático do final de 2008.
A atividade econômica dá sinais de que prossegue em recuperação. A indústria, por depender mais das exportações e do investimento (cuja reativação é incipiente), ainda é o segmento mais fragilizado. E sua recuperação é agora ameaçada pela perda de competitividade provocada pela valorização do real.

FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.



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