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análise
Melhor, mas não muito
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Com uma dose de alívio. Assim as autoridades devem ter
reagido ao retrato, divulgado
ontem pelo IBGE, da evolução
do mercado de trabalho metropolitano em junho. Isso porque
os dados sobre o desempenho
do emprego formal no mesmo
mês, que vieram a público na
semana passada, haviam mostrado uma interrupção da melhora progressiva iniciada em
janeiro -e, portanto, haviam
aumentado as dúvidas quanto à
continuidade da recuperação
do mercado de trabalho.
Já a pesquisa do IBGE mostrou, à primeira vista, uma melhora substancial do mercado
de trabalho nas maiores metrópoles brasileiras. O número de
maior visibilidade, a taxa de desocupação, diminuiu de 8,8%
para 8,1% entre maio e junho.
Trata-se de proporção bem
mais baixa do que estimavam
os analistas de bancos e consultorias, cujas projeções se concentravam entre 8,7% e 9,3%.
Essa melhora substancial é
ilusória em grande medida,
porque o que derrubou a taxa
de desocupação não foi a aceleração da abertura de vagas, mas
uma redução expressiva do ritmo de crescimento da PEA (a
População Economicamente
Ativa, ou seja, o contingente de
pessoas com pelo menos dez
anos de idade que estavam trabalhando ou procurando trabalho).
Na comparação com igual
mês de 2008, em junho o número de trabalhadores ocupados manteve-se praticamente
estagnado, a exemplo do que se
havia constatado também em
maio e em abril. Já o ritmo de
alta interanual da PEA caiu de
1,2% para apenas 0,2% de maio
para junho -um movimento
cujas razões a pesquisa não esclarece, mas que geralmente é
atribuído ao aumento da proporção de pessoas que desistiram de procurar uma colocação.
Apesar dessa ressalva, os dados revelaram alguma melhora
do mercado de trabalho. Descontadas as oscilações típicas
de cada mês, os cálculos da LCA
indicam que junho foi o segundo mês consecutivo em que
-graças sobretudo ao setor de
serviços, e apesar da queda do
emprego industrial- o número
de trabalhadores ocupados aumentou (embora timidamente)
na comparação com o mês precedente.
Essa evidência se soma a outras, como o aumento das vendas do comércio varejista e a
gradual retomada da produção
industrial (nos dois casos, a estatística oficial mais recente refere-se a maio). Também há indícios de que o volume de mercadorias exportadas e importadas pelo país continua a se recuperar do tombo dramático
do final de 2008.
A atividade econômica dá sinais de que prossegue em recuperação. A indústria, por depender mais das exportações e
do investimento (cuja reativação é incipiente), ainda é o segmento mais fragilizado. E sua
recuperação é agora ameaçada
pela perda de competitividade
provocada pela valorização do
real.
FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.
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