São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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OPINIÃO ECONÔMICA

A construção de plataformas de petróleo no país

LUIZ PINGUELLI ROSA, SEGEN ESTEFEN E HENYO TRINDADE BARRETO

Na licitação realizada pela Petrobras para a construção da plataforma P-50, o vencedor foi o estaleiro Jurong, que a construirá em Cingapura. A diferença do vencedor para o segundo colocado, que construiria a plataforma no Brasil, foi de apenas 5,5% do preço total, de cerca de US$ 244 milhões. Pouco para o que implicou, como a perda de milhares de empregos em todos os níveis.
Dois outros projetos, referentes às plataformas semi-submersíveis P-51 e P-52, estão sendo desenvolvidos pela empresa norueguesa Aker para o Brasil. Da maneira que, em princípio, o projeto está sendo concebido, sem levar em consideração a capacidade de movimentação de carga dos estaleiros brasileiros, será difícil a construção das duas plataformas no país. A razão é, simplesmente, que o desenho dessas plataformas pode impossibilitar a movimentação de seus componentes pelos guindastes e outros equipamentos existentes nos estaleiros nacionais ociosos. O projeto poderia ser diferente sem comprometer os requisitos básicos de operação das plataformas, tendo em vista a boa qualidade da nossa engenharia e da mão-de-obra técnica. O projeto conceitual desconsiderou as restrições de construção dos estaleiros nacionais, candidatos naturais à execução dessas plataformas. Assim, poder-se-ia até mesmo baixar o preço final das plataformas, além de gerar milhares de empregos no país.
Em engenharia, normalmente, diferentes concepções podem ser propostas para atender ao mesmo objetivo. A decisão sobre a opção a ser detalhada para posterior licitação e construção deve atender a requisitos mais abrangentes, que, no caso da Petrobras, por ser uma empresa estatal, incluem a possibilidade de alavancar setores importantes da nossa economia, como a indústria naval.
Podem-se fazer algumas comparações com o projeto de uma plataforma instalada em 2001 por uma empresa petrolífera norueguesa em local de profundidade de 350 metros. Esse projeto é o que serve de base para as nossas plataformas P-51 e P-52. Uma análise técnica deixou claro que poderiam ser exigidas modificações no projeto para permitir a execução da obra aqui no país. O casco desse tipo de semi-submersível pode ser construído em qualquer estaleiro com cais e calado adequados, desde que seja projetado tendo em vista onde será construído. O casco foi feito na Espanha, em um estaleiro que não é muito diferente do de Paranaguá, onde as plataformas fixas da primeira fase da bacia de Campos foram construídas. Com base nisso, podem-se citar como exemplo canteiros do país onde seria possível a execução de tal projeto: São Roque do Paraguaçu (BA), Paranaguá (PR), Caximbao/Niterói e Angra (ex-Verolme, hoje Fels-Setal). Todos esses têm condições de participar da construção das plataformas, embora necessitem de pequenos investimentos.
No passado recente foram construídos no Brasil vários módulos de plataformas, hoje operando na bacia de Campos. Os questionamentos quanto à experiência de fazer o casco não procedem. Majoritariamente, trata-se de chapas planas, sem grau de dificuldade tecnológica para a execução no país. A tecnologia de soldagem necessária é de amplo domínio da mão-de-obra e de nossos estaleiros. Com relação às especificações de tolerâncias de construção, os estaleiros do país atendem a todos os padrões internacionais. Com base nesses dados, só nos cabe a seguinte pergunta: por que não no Brasil? O que falta no país é uma política industrial associada a uma política energética que inclua o setor de óleo e de gás.


Luiz Pinguelli Rosa, 59, é físico e diretor da Coppe/UFRJ; Segen Estefen, 51, é engenheiro e professor do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ; e Henyo Trindade Barreto, 56, é geólogo de petróleo.
Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna de Gesner Oliveira.


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