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OPINIÃO ECONÔMICA
A construção de plataformas de petróleo no país
LUIZ PINGUELLI ROSA, SEGEN ESTEFEN E HENYO TRINDADE BARRETO
Na licitação realizada pela Petrobras para a construção da plataforma P-50, o vencedor foi o estaleiro Jurong, que a
construirá em Cingapura. A diferença do vencedor para o segundo colocado, que construiria a
plataforma no Brasil, foi de apenas 5,5% do preço total, de cerca
de US$ 244 milhões. Pouco para o
que implicou, como a perda de
milhares de empregos em todos os
níveis.
Dois outros projetos, referentes
às plataformas semi-submersíveis
P-51 e P-52, estão sendo desenvolvidos pela empresa norueguesa
Aker para o Brasil. Da maneira
que, em princípio, o projeto está
sendo concebido, sem levar em
consideração a capacidade de
movimentação de carga dos estaleiros brasileiros, será difícil a
construção das duas plataformas
no país. A razão é, simplesmente,
que o desenho dessas plataformas
pode impossibilitar a movimentação de seus componentes pelos
guindastes e outros equipamentos existentes nos estaleiros nacionais ociosos. O projeto poderia ser
diferente sem comprometer os requisitos básicos de operação das
plataformas, tendo em vista a boa
qualidade da nossa engenharia e
da mão-de-obra técnica. O projeto conceitual desconsiderou as
restrições de construção dos estaleiros nacionais, candidatos naturais à execução dessas plataformas. Assim, poder-se-ia até mesmo baixar o preço final das plataformas, além de gerar milhares de
empregos no país.
Em engenharia, normalmente,
diferentes concepções podem ser
propostas para atender ao mesmo
objetivo. A decisão sobre a opção
a ser detalhada para posterior licitação e construção deve atender
a requisitos mais abrangentes,
que, no caso da Petrobras, por ser
uma empresa estatal, incluem a
possibilidade de alavancar setores importantes da nossa economia, como a indústria naval.
Podem-se fazer algumas comparações com o projeto de uma
plataforma instalada em 2001 por
uma empresa petrolífera norueguesa em local de profundidade
de 350 metros. Esse projeto é o que
serve de base para as nossas plataformas P-51 e P-52. Uma análise técnica deixou claro que poderiam ser exigidas modificações no
projeto para permitir a execução
da obra aqui no país. O casco desse tipo de semi-submersível pode
ser construído em qualquer estaleiro com cais e calado adequados, desde que seja projetado tendo em vista onde será construído.
O casco foi feito na Espanha, em
um estaleiro que não é muito diferente do de Paranaguá, onde as
plataformas fixas da primeira fase da bacia de Campos foram
construídas. Com base nisso, podem-se citar como exemplo canteiros do país onde seria possível a
execução de tal projeto: São Roque do Paraguaçu (BA), Paranaguá (PR), Caximbao/Niterói e
Angra (ex-Verolme, hoje Fels-Setal). Todos esses têm condições de
participar da construção das plataformas, embora necessitem de
pequenos investimentos.
No passado recente foram construídos no Brasil vários módulos
de plataformas, hoje operando na
bacia de Campos. Os questionamentos quanto à experiência de
fazer o casco não procedem. Majoritariamente, trata-se de chapas
planas, sem grau de dificuldade
tecnológica para a execução no
país. A tecnologia de soldagem
necessária é de amplo domínio da
mão-de-obra e de nossos estaleiros. Com relação às especificações
de tolerâncias de construção, os
estaleiros do país atendem a todos os padrões internacionais.
Com base nesses dados, só nos cabe a seguinte pergunta: por que
não no Brasil? O que falta no país
é uma política industrial associada a uma política energética que
inclua o setor de óleo e de gás.
Luiz Pinguelli Rosa, 59, é físico e diretor da Coppe/UFRJ; Segen Estefen, 51, é engenheiro e professor do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ; e Henyo Trindade Barreto, 56, é geólogo de petróleo.
Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna de Gesner Oliveira.
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