São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EM TRANSE

Moeda norte-americana cai 1,11% com empréstimo de US$ 200 milhões aos bancos para financiar exportações

Leilão do Banco Central segura alta do dólar

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central fez ontem os primeiros leilões de dólares destinados a aumentar a oferta de linhas de crédito para exportadores. Como resultado da operação, o dólar fechou em queda de 1,11%, negociado a R$ 3,11. Na semana, a moeda norte-americana acumulou desvalorização de 0,5%.
O risco-país brasileiro, medido pelo banco JP Morgan, caiu 3%, para 1.845 pontos.
Em dois leilões, o BC emprestou US$ 200 milhões aos bancos, que deverão repassar os recursos às empresas em até cinco dias.
De acordo com o BC, os bancos estavam dispostos a comprar US$ 498,35 milhões para financiar as exportações. Para atender essa demanda, novos leilões devem ser realizados na próxima semana.
Sérgio Machado, diretor de tesouraria do banco Fator, diz que a atitude do BC, que anunciou um segundo leilão após a alta demanda do primeiro, foi recebida com muito otimismo pelo mercado. "Nesse clima melhor, alguns investidores optaram por se desfazer de posições que vinham mantendo há algum tempo, o que favoreceu a baixa do dólar."
O objetivo do BC é colocar, pelo menos, US$ 2 bilhões no mercado para financiar as exportações brasileiras. Esse dinheiro deve chegar às empresas por meio dos 25 bancos que estão autorizados a fazer operações de câmbio com o BC -os chamados "dealers".
Nesses leilões, os bancos compram os dólares do BC e se comprometem a fazer o correspondente pagamento, em reais, no prazo de 180 dias. No caso das ofertas de ontem, os bancos devolverão ao BC o equivalente a US$ 200 milhões pela taxa de câmbio do dia 20 de fevereiro -daqui a seis meses.
Além disso, os bancos terão de pagar juros ao BC. No primeiro leilão de US$ 100 milhões, a taxa cobrada foi de 6,1% ao ano. Na segunda oferta, os juros foram de 4,81% ao ano. Os juros cobrados nos empréstimos às empresas vão variar de acordo com cada banco.
Depois de comprar os dólares, os bancos terão até cinco dias para conceder empréstimos, em reais, aos exportadores. Isso significa que, até a próxima quarta-feira, R$ 623,5 milhões devem ser destinados ao financiamento de operações de comércio exterior. Se essa exigência não for cumprida, os bancos serão obrigados a devolver os dólares ao BC.

Menos investimentos
Com o aumento da desconfiança do mercado em relação à economia brasileira, muitos bancos têm reduzido seus investimentos no Brasil. Com isso, ficou mais difícil para as empresas conseguirem empréstimos externos.
Os dólares vendidos ontem saíram das reservas internacionais do país. Com a venda de ontem, subiu para cerca de US$ 1,4 bilhão o total vendido pelo BC ao mercado neste mês. Além dos leilões de linhas de crédito, o BC também gasta dólares nas suas intervenções, que têm por objetivo conter a desvalorização do real.
O novo acordo com o FMI limita a US$ 3 bilhões o total de dólares que o BC pode vender, em linhas de crédito ou em intervenções, a cada 30 dias corridos.
O mercado viveu os últimos dias na expectativa por dois eventos que ocorrerão na semana que vem -a primeira pesquisa eleitoral após o início da propaganda política na TV e a viagem do ministro Pedro Malan (Fazenda) e do presidente do BC, Armínio Fraga, aos EUA para conversas com bancos internacionais.
O mercado espera uma melhora no desempenho do candidato José Serra (PSDB). Ele é o preferido do mercado por ser apoiado pelo atual governo e, portanto, associado à manutenção da atual política econômica.
Quanto à viagem de Armínio e Malan, mais do que dinheiro, o mercado espera um novo apoio.
"O mercado não acredita que as linhas de crédito voltarão ao normal como consequência da viagem. Mas há a expectativa de que a situação melhore um pouco, o que ajuda a aliviar a pressão no câmbio", afirma Clive Botelho, diretor financeiro do banco Santos.


Colaboraram Ana Paula Ragazzi e Fabricio Vieira, da Reportagem Local


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Opinião Econômica - Luiz Pinguelli Rosa, Segen Estefen e Henyo Trindade Barreto: A construção de plataformas de petróleo no país
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.