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ECONOMIA GLOBAL
Para Joseph Stiglitz, Brasil não vai virar uma Argentina e não tem motivo para decretar a moratória
Bush é mais perigoso que Lula, diz Nobel
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
"O presidente dos EUA, George
W. Bush, é mais perigoso para a
economia mundial do que qualquer candidato brasileiro. Entre
Bush e Lula, fico com Lula."
A afirmação foi feita por Joseph
Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia em 2001, que considera Lula
uma pessoa "honesta" e acredita
que não há motivos para que o
governo brasileiro suspenda o pagamento da dívida pública, independentemente do candidato que
vença a próxima eleição.
"Os investidores vão perceber
que não há razão para uma falta
de confiança no Brasil, seja lá
quem for o próximo presidente.
Nenhum dos candidatos representa perigo [de calote"", disse.
Em entrevista a jornalistas brasileiros, em Buenos Aires, Stiglitz,
que já foi assessor econômico da
Casa Branca e economista-chefe
do Banco Mundial, disse que o
país vai superar a crise.
O economista norte-americano
declarou, no entanto, que o Brasil
precisa reduzir as "exorbitantes"
taxas de juros pagas pela dívida.
Mas, para ele, o próprio mercado
vai entender essa necessidade naturalmente.
"Os mercados vão preferir reduzir a taxa de juros ao "default".
As taxas de juros são exorbitantes,
nenhum país pode pagá-las. E eles
[os investidores] não têm outra
chance."
Stiglitz também considera a situação brasileira "muito diferente" da argentina antes do calote.
Ele lembrou que o governo brasileiro arrecada 30% do PIB em impostos, o que garante um superávit primário de 3,75% do PIB. Já o
governo argentino só arrecada
20% do PIB.
Ele citou outras duas diferenças
entre os vizinhos. A primeira,
econômica, é que o Brasil possui
uma moeda subvalorizada, enquanto a Argentina tinha uma
moeda sobrevalorizada.
A outra diferença, política, é que
o Brasil possui mecanismos para
obrigar os Estados a manter uma
política de austeridade fiscal.
Questionado se poderia haver
uma eventual mudança nessas
políticas de austeridade com a vitória de um candidato de oposição, Stiglitz afirmou que costuma
haver diferenças entre os discursos antes da eleição e as ações
após a chegada ao poder.
"Há uma tendência natural,
quando se chega ao poder, de perceber, mais do que antes, quais
são as obrigações. Por isso, existe
uma tendência natural de ficar
mais conservador."
Balanço de FHC
Ele também fez um balanço positivo do governo Fernando Henrique Cardoso, cujo erro "talvez"
tenha sido ter se dedicado mais à
questão da inflação do que à do
emprego.
"Mas qualquer um que olhe sua
administração dirá que foi positiva. A inflação caiu, a educação aumentou muito. Claro que há pessoas que gostariam de ver mais.
Mas, no mundo das coisas razoáveis, foram oito anos impressionantes", afirmou.
Stiglitz esteve na Argentina para
promover o livro "Globalization
and its Discontents", em que responsabiliza o FMI (Fundo Monetário Internacional) e suas exigências por terem prejudicado a economia de países em desenvolvimento com uma mistura de incompetência e intolerância.
Em palestra na Universidade de
Buenos Aires, anteontem, o economista defendeu que a Argentina deve adotar uma atitude mais
"dura" para negociar um acordo
com o FMI. Para o economista, a
Argentina deveria até abrir mão
de um acordo que leve à contração da economia ou impeça a distribuição de renda.
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