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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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PÁTIO DA INADIMPLÊNCIA

Economistas liberais defendem retomada de bens

Juros na venda de veículos inspiram "Agenda Perdida"

DA REPORTAGEM LOCAL

O juro praticado no financiamento de veículos tem sido a musa inspiradora de muitos economistas e analistas de mercado. Eles defendem a tese de que o "spread" bancário (diferença entre o que o banco paga para o investidor e o que cobra nos empréstimos) só cairá em todas as operações de crédito se houver garantias de bens resgatáveis no caso de inadimplência. E com a possibilidade de executar o resgate rapidamente.
Um grupo de economistas, entre eles José Scheinkman, Affonso Celso Pastore e Armando Castelar Pinheiro, defendeu essa idéia em setembro de 2002 como uma das maneiras de expandir o crédito no Brasil. A tese fazia parte da "Agenda Perdida", que, em plena campanha eleitoral para a Presidência, defendia formas de retomada do crescimento.
"A idéia também está correta porque há um mercado secundário para revender os veículos, o que não acontece no setor de eletroeletrônicos", afirma Pinheiro. O "spread" no financiamento de veículos está em torno de 20%, contra os cerca de 45% do mercado em geral.
A menor taxa de crediário no país (para compra de veículos) é, no entanto, ainda assustadora: em junho, bateu em 45,09% ao ano, em média, segundo o Banco Central. O que corresponde a um juro mensal de 3,15%. É inferior, porém, à média praticada nas operações para compra de outros bens duráveis -75,67% ao ano.
Na semana passada, alguns bancos que financiam veículos fizeram reduções nas taxas de juros, devido à queda da taxa básica do governo (Selic). O banco GM cobrava até quarta-feira entre 2,25% e 2,55% mensais. Agora cobra entre 2,15% e 2,53%.
Adalberto Savioli, diretor do banco Panamericano, diz que os juros para os automóveis ainda são altos porque embutem a demora no resgate do bem. "Se a Justiça fosse mais ágil para recuperar e liberar a venda dos carros, o juro seria menor", diz Savioli.
Segundo ele, quando ocorre o primeiro atraso de pagamento, o banco já procura o cliente para negociar. Se após 30 dias as prestações não estiverem em dia, a cobrança passa a ser feita por um escritório de advocacia, e o cliente recebe uma notificação judicial.
A ação de busca e apreensão, no entanto, é iniciada após 60 ou 90 dias de inadimplência. "Depois desses prazos, os bancos têm de esperar o juiz autorizar a retomada dos veículos e, se não houver contestação por parte dos clientes, correrão pelo menos mais 120 dias até ser autorizado o leilão."
Para Carlos Coradi, presidente da consultoria EFC, vários fatores influem na formação da taxa de juros para veículos. "Além da garantia de recuperação do bem, o que ajuda a reduzir o custo dessas operações é o fato de os bancos financiarem apenas 70% do valor do carro", diz Coradi.
Segundo ele, quando os bancos revendem os veículos recuperados, conseguem praticamente recuperar o valor do empréstimo.
Outro motivo que explica a menor taxa de juros para veículos, em relação às taxas praticadas em geral no mercado, é a acirrada concorrência entre os bancos de montadoras e os de varejo.
"Os bancos de montadoras captam a um custo menor, nas matrizes, e conseguem oferecer taxas mais competitivas. Os demais bancos têm de segui-los", afirma Coradi.(SB e BV)

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