São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"RISCO-MENSALÃO"

Turbulência com denúncias envolvendo Palocci derrubou rentabilidade da aplicação e gerou saques a fundos

Renda fixa perdeu mais de R$ 3 bi na 6ª feira

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A sexta-feira turbulenta vivida pelo mercado financeiro na última semana assustou investidores. Quem mais sofreu foram alguns fundos de renda fixa, que tiveram pesados saques.
A elevação dos juros futuros de prazos mais longos na sexta fez com que a rentabilidade média dos fundos de renda fixa ficasse em 0,035% no dia -cerca da metade do retorno médio diário registrado em agosto (0,066%).
Nos cinco fundos de renda fixa que mais perderam, os saques líquidos totalizaram R$ 3,75 bilhões. Como o mercado não repetiu nesta semana o péssimo desempenho de sexta, analistas dizem que não é hora de pânico e que não deve haver uma onda de saques generalizada, como ocorreu em outros períodos de crise.
"Tem havido uma realocação interna na indústria de fundos, com os investidores tentando se antecipar e minimizar possíveis perdas. Mas o importante é que o dinheiro dos fundos não está fugindo, indo para dólares ou mesmo o exterior, como acontecia no passado recente", afirma Emanuel Pereira, sócio-diretor da Gap Asset Management.
As carteiras de muitos fundos de renda fixa carregam boa quantidade de títulos públicos e privados prefixados. Papéis desse tipo têm sua remuneração decidida antecipadamente, na hora de sua aquisição. Como os juros futuros subiram consideravelmente na sexta, acabaram por engolir parte da rentabilidade de papéis prefixados com resgates mais longos.
Naquele dia, a taxa do contrato DI (Depósito Interfinanceiro) com resgate no fim de 2006 saltou de 17,96% para 18,50% na BM&F.
Os fundos que tiveram fortes saques na última sexta não são de varejo, enquadrando-se na categoria de exclusivos ou de investidores qualificados.
O mercado de renda fixa como um todo teve captação líquida (diferença entre saques e aplicações) negativa de R$ 3,12 bilhões no dia 19. Os dados são os últimos disponíveis no site Fortuna, especializado no acompanhamento do mercado de fundos de investimentos.
"Em uma época de crise política como a atual, é bem complicado, pois ninguém sabe no que darão as investigações das CPIs. É sempre uma incógnita o futuro no curto prazo. Por isso, estar em uma aplicação pós-fixada é mais tranqüilo", afirma Sérgio Lima, gestor da Mellon Global Investments.
Os fundos de curto prazo -que carregam títulos de vencimentos mais curtos que seguem a oscilação dos juros- registraram captação positiva de R$ 474 milhões na sexta. Os DI, que têm boa quantidade de títulos pós-fixados em suas carteiras, captaram líquidos R$ 98 milhões no dia.
"De qualquer forma, a tendência é a de os investidores procurarem aplicações menos voláteis, menos suscetíveis às turbulências da crise, como os [fundos] DI", avalia Lima.
Em 2002, o governo passou a obrigar os gestores de fundos a contabilizarem as variações diárias dos títulos que formam suas carteiras. Naquela época, essa obrigação fez com que muitos fundos mostrassem rentabilidade negativa e afugentasse investidores. Em junho de 2002, os fundos tiveram espantosa fuga recorde de recursos de R$ 21,6 bilhões.


Texto Anterior: Internet: Google lança serviço de mensagem
Próximo Texto: Governo encontra mercado "arisco"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.