São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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OLHAR ESTRANGEIRO

Investidor começa a se preocupar

DO "FINANCIAL TIMES"

Leia editorial publicado na edição de ontem do jornal britânico "Financial Times", sobre as repercussões econômicas da crise política no Brasil.

 

A julgar pela crescente volatilidade nos mercados financeiros do Brasil, a grave crise de corrupção no país está começando a preocupar os administradores de fundos internacionais.
Eles têm razão em se preocupar, mas estão se concentrando demais nas personalidades. Quer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sirvam até o fim de seu mandato de quatro anos, quer não, a crise deverá ter um impacto duradouro sobre a política brasileira.
No centro do escândalo -que chega ao quarto mês- estão alegações extensas e bem documentadas de financiamento político irregular, que variam de ocultação da origem do dinheiro usado em campanhas eleitorais até compra de votos no Legislativo.
Vários líderes do PT (Partido dos Trabalhadores, de esquerda) de Lula renunciaram ou foram removidos de cargos no partido ou no governo. Entre as baixas estão alguns dos aliados políticos mais próximos do presidente há mais de uma década.
Os investidores foram consolados pelos fundamentos econômicos relativamente fortes do Brasil, sustentados por uma política fiscal dura, uma taxa de câmbio flexível e um conjunto de circunstâncias favoráveis incomum na economia internacional, que inclui baixas taxas de juros internacionais e alto preço das matérias-primas.
Os investidores deveriam se preocupar mais com o impacto a longo prazo sobre a governabilidade do país. As reformas econômicas estancaram. As investigações do escândalo estão ocupando totalmente as duas casas do Congresso e dificultando para o governo levar adiante até mesmo reformas modestas, como iniciativas para simplificar o sistema fiscal para as empresas.
Dentro do PT, o apoio a uma política econômica moderada diminuiu. Pois a mesma facção moderada do partido que dominava quando Lula foi eleito, há dois anos e meio, está no centro da suposta corrupção e sofre ataques dos esquerdistas, que desejam o retorno a uma abordagem mais limpa e ética.
Além disso, as relações do PT com aliados de centro e de direita foram abaladas pelo escândalo, tornando muito mais difícil formar uma maioria no Congresso.
O presidente continua popular, especialmente entre os pobres, que se beneficiaram dos maiores gastos em projetos sociais. Mas o julgamento político de Lula foi questionado e sua base política se desgastou.
O presidente pode sobreviver à crise e poderia até ganhar a reeleição no próximo ano, mas sua capacidade de governar foi minada.
Essa é uma perspectiva preocupante para o país e já começou a inquietar as companhias nacionais, que adiaram as decisões de investimento até as eleições presidenciais que acontecem no próximo ano. Também deveria preocupar investidores estrangeiros que estejam pensando em aplicar fundos no país.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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