São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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CRISE NO AR

Fundo americano negocia compra da Varig Log; operação, que envolve US$ 100 mi, precisa de aprovação da Justiça

Varig tenta vender empresa de transporte

JANAÍNA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em negociação financeira que ainda espera aprovação da Justiça, a Varig pretende vender sua empresa de transporte de cargas, a Varig Log, ao fundo norte-americano Matlin Patterson Global Advisors por US$ 38 milhões. Segundo a Varig, o número foi obtido após um "abatimento" de US$ 60 milhões referentes a dívidas da empresa que serão pagas pelo fundo comprador.
A operação também incluirá um empréstimo de pelo menos US$ 50 milhões, feito pelo fundo à aérea e garantido por igual valor em dinheiro que a brasileira tem a receber de passagens parceladas em cartões Visa. Quando a Visa repassar os pagamentos, o fará diretamente ao fundo, que terá recebido seu dinheiro de volta.
A Varig pediu ao juiz da 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, que julgará a recuperação judicial da companhia, autorização para vender 95% das ações da Varig Log. Ontem, o juiz intimou os credores da aérea para se manifestar em 24 horas. Depois disso, o Ministério Público terá 48 horas para opinar, e só então o juiz decidirá.
"No pacote como um todo, a Varig fez o melhor negócio dentro das limitações de prazo impostas pela necessidade de caixa", disse ontem o presidente da Varig, Omar Carneiro da Cunha.
Com a operação aprovada, a injeção de recursos na companhia será de US$ 48 milhões até o fim do mês -desse valor, US$ 10 milhões já fazem parte do empréstimo que antecipa valores a receber da administradora de cartões Visa. O total emprestado pelo comprador pode chegar a US$ 65 milhões, se a Varig julgar necessário.
Segundo a Varig, o objetivo da venda é angariar recursos suficientes para atravessar a recuperação judicial. No mercado, há críticas sobre os valores. A Varig Log, que teve valor estimado pela própria Varig em US$ 100 milhões, será vendida, ao final da operação, por US$ 38 milhões.
Há rumores de que a FRB estimava o valor de venda em US$ 300 milhões. Segundo o presidente do Conselho de Curadores da FRB, Osvaldo Curi, o processo de avaliação da Varig Log ainda se encontra em andamento. "Temos que aguardar os resultados da avaliação da Ernest & Young [contratada para a operação]."
Os US$ 60 milhões de abatimento, referentes a dívidas da empresa, serão pagos diretamente aos credores. A Varig precisa manter 5% das ações da subsidiária porque já as deu como garantia ao fundo de pensão de seus funcionários, o Aerus.
Depois que o acordo for formalmente fechado dentro de um prazo estimado de 30 dias, a Varig receberá uma segunda parcela de US$ 40 milhões. No total, a venda da subsidiária e o empréstimo resultarão em uma entrada de verba de pelo menos US$ 88 milhões.
A empresa quer usar esses recursos para pagar leasing de aviões e salários dos funcionários e para a manutenção. Segundo o presidente da Varig, Omar Carneiro da Cunha, a empresa tem hoje "nove ou dez aviões parados", quando o normal seria ter três ou quatro em manutenção.

Longo percurso
Além de ser autorizada pela Justiça do Rio, a operação precisa ser aprovada pelo DAC (Departamento de Aviação Civil) e pelos acionistas da Varig, principalmente a Fundação Ruben Berta, que detém 87% das ações.
Na fundação, o projeto terá de passar pela última instância de decisão, que é o Colégio Deliberante, órgão formado por funcionários do grupo. Como a Ruben Berta é uma fundação com sede no Rio Grande do Sul, a empreitada ainda precisará do aceite da Procuradoria de Fundações do Ministério Público daquele Estado. A assembléia dos acionistas da Varig deve ocorrer em 15 dias.
Para driblar o limite de 20% para a participação de estrangeiros em companhias de aviação, o fundo americano criou uma subsidiária no Brasil, a Velo. Ainda não há definição sobre o percentual que ficará com o fundo.
A Varig Log tem 11 aviões. A Varig ainda vai definir junto à Infraero como ficarão os terminais de carga da companhia. A subsidiária deverá continuar usando os porões da Varig.
Com a operação, a Varig ganha tempo para analisar se deve ou não vender sua subsidiária mais representativa, a VEM (Varig Engenharia e Manutenção), a maior do ramo no hemisfério sul.
Segundo Carneiro da Cunha, a VEM é uma empresa mais relacionada ao negócio principal da Varig. "Nosso objetivo não é sair totalmente da VEM, mas vender uma participação. Com essa operação teremos tempo suficiente para avaliar com mais calma e ver quanto vamos vender."


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