São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Em meio à crise, agência eleva nota do país

Brasil fica a um degrau do chamado grau de investimento na escala da Moody's, que se iguala à de outras agências de avaliação de risco

Agência vê mais solidez nos fundamentos econômicos do país, mas nova melhora da avaliação só deve ocorrer no ano que vem

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

A agência internacional de classificação de risco Moody's elevou ontem a nota soberana do Brasil. Isso significa que, na visão da Moody's, investir em títulos da dívida brasileira trás menos risco.
O Brasil está agora, na escala da Moody's, a apenas um degrau do chamado "investment grade" (grau de investimento). Sem essa chancela, grandes fundos externos não podem investir no Brasil. Com ela, o país atrai mais investimentos.
Na classificação das outras duas agências mais importantes -a Standard & Poor's e a Fitch Ratings-, o país já tinha a nota dada ontem pela Moody's. As três têm sede nos EUA.
O governo vem pressionando para acelerar a conquista do grau de investimento, mas a maioria dos analistas acha que ela só virá em 2008.
Para Mauro Leos, analista sênior de crédito da Moody's, o Brasil está no caminho certo do desenvolvimento, porém avança lentamente. Assim, não se deve esperar que o "investment grade" venha tão cedo. "A perspectiva para a nota é estável. Não prevemos nenhuma mudança logo", disse Leos à Folha.
"Foram feitos avanços importantes recentemente, e a elevação reflete a melhora do perfil da dívida. A porcentagem de títulos prefixados é maior do que a de atrelados à Selic, e os prazos também estão maiores", disse Leos. "Além disso, a queda dos juros ajuda a diminuir a dívida." Outros fatores que pesaram na melhora foram o aumento das reservas em moeda estrangeira, a balança de pagamentos favorável e o crescimento maior do PIB (Produto Interno Bruto).
O nível de "investment grade" é alcançado por países que representam baixos riscos de darem calote. Para os países que chegam a esse nível, crescem as facilidades e caem os custos no momento de buscar empréstimos no mercado internacional. Entre os latino-americanos, países como Chile e México já têm essa nota.
"A elevação da nota do Brasil em si não surpreende. O que é curioso é ter vindo em um momento de turbulências no mercado financeiro internacional", afirma Alex Agostini, da consultoria Austin Rating.
Na opinião de Loes, os progressos já feitos deixam o país preparado para enfrentar as turbulências externas. "Se fosse o velho Brasil, a crise atual teria tido conseqüências muito mais graves. Ainda é cedo para dizer, mas não há sinais de que ela trará problemas sérios para o novo Brasil. Daí se pode afirmar que há razão para otimismo", comentou. "Esta é a oportunidade para verificar se os ajustes macroeconômicos realizados estão funcionando."
O "rating" -nota que ilustra o risco nos empréstimos a determinado país- soberano de longo prazo do país foi elevado de "Ba2" para "Ba1".
Outra mudança anunciada pela agência foi no teto soberano para os títulos em moeda estrangeira, que passou à categoria de "investment grade". O teto é uma referência que permite que empresas tenham uma nota melhor que a dada ao governo do país. A Vale do Rio Doce e a Petrobras, por exemplo, já atingiram o nível de "investment grade". Ontem foi a vez de a AmBev também ser elevada a esse patamar. Para os investidores internacionais, isso significa que é mais seguro investir em títulos dessas companhias que nos do governo.
Para o economista Rodrigo Éboli, da Mellon Global Investments, uma nova elevação da nota deve ocorrer apenas em 2008. "As agências ainda têm de avaliar os efeitos das turbulências atuais e como elas podem alterar o cenário econômico mundial. Assim, uma elevação de rating vai demorar um tempo ainda para acontecer novamente", disse Éboli.


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