São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nota maior durante a crise ajuda o país, dizem analistas

Para especialistas, melhora da avaliação atesta vulnerabilidade menor da economia

Grau de investimento, no entanto, pode demorar, se o governo não se preocupar mais em ajustar os gastos públicos, dizem

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
DO ENVIADO A CAMPOS DO JORDÃO

A melhora na avaliação de risco dos papéis do governo brasileiro pela agência norte-americana Moody"s foi considerada uma mostra da credibilidade do Brasil, na avaliação do diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Rodrigo de Rato. Segundo ele, é "significativo" para o país que a mudança na nota atribuída ao Brasil tenha vindo em meio à crise financeira internacional que, nas últimas semanas, disseminou insegurança e derrubou ações de empresas no mundo todo.
"Temos confiança de que a evolução macroeconômica, o perfil da dívida, a política fiscal conservadora com superávits primários e a credibilidade da política monetária ajudarão o Brasil a atingir o nível de investimento", declarou Rato que, ontem, esteve reunido com o presidente Lula e o ministro Guido Mantega (Fazenda).
O grau de investimento é uma espécie de selo de qualidade de bom pagador que, em tese, atrairia mais recursos de investidores ao país.
Para o secretário do Tesouro, Arno Augustin, essa reclassificação foi muito importante pelo momento em que ocorreu. "Essa decisão em meio a uma turbulência internacional reforça que os fundamentos da economia estão muito sólidos. A vulnerabilidade praticamente inexiste para o país por conta do alto volume de reservas."
Apesar disso, Augustin não quis arriscar um prazo para o país atingir o chamado grau de investimento. "Tudo mostra que o Brasil está indo para o lado cada vez mais positivo."
Para analistas, a revisão da nota brasileira é bem-vinda, mas acreditam que pouco efeito terá na prática. Primeiro, porque a alteração apenas confirma a melhora nos indicadores econômicos que os investidores já haviam levado em conta para determinar preços dos ativos negociados no mercado.
Segundo, porque a Moody's está adequando sua nota à das demais agências de classificação de risco, como Standard & Poor's e Fitch. Ambas já haviam colocado o Brasil apenas um degrau abaixo do grau de investimento, demonstrando que não há risco de calote da dívida brasileira. Ainda assim, a notícia foi comemorada.
"Se tivesse sido em em período de bonança, um mês atrás, não chamaria a atenção. Mas o fato positivo é que veio em meio a um momento de crise. Eles tinham todas as justificativas para segurar o "upgrade" até que a situação arrefecesse", afirma Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management. Ele observa, porém, que o grau de investimento não virá automaticamente. "O relatório da Moody's destaca a necessidade de atenção à questão fiscal, que significa preocupação com o gasto público."

"Reconhecimento"
Para a ex-vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, a melhora na avaliação do Brasil chegou atrasada e não causou surpresa. Jonh Stuttard, prefeito do distrito financeiro de Londres, a chamada "City", afirmou que se trata de "uma mostra da condição econômica forte do Brasil". "Agora o Brasil tem que aproveitar esse aumento de nota para se vender lá fora e captar mais recursos de investidores estrangeiros."
O ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento) disse que o aumento das notas do país em meio à crise vivida dos mercados financeiros não foi coincidência. Segundo o ministro, foi um "reconhecimento" de que, apesar das turbulências, o país está "se saindo bem".
Também questionado sobre a possibilidade de o governo acabar com a CPMF para diminuir a alta carga tributária, disse que o fato de a arrecadação ser alta foi justamente um dos elementos que ajudaram o país a enfrentar as turbulências.


Texto Anterior: Luiz Carlos Mendonça de Barros: A crise financeira e o Brasil
Próximo Texto: Na visão de Lula, tranqüilidade se deve a sacrifício
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.