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Nota maior durante a crise ajuda o país, dizem analistas
Para especialistas, melhora da avaliação atesta vulnerabilidade menor da economia
Grau de investimento, no entanto, pode demorar, se o governo não se preocupar mais em ajustar os gastos públicos, dizem
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
DO ENVIADO A CAMPOS DO JORDÃO
A melhora na avaliação de
risco dos papéis do governo
brasileiro pela agência norte-americana Moody"s foi considerada uma mostra da credibilidade do Brasil, na avaliação do
diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional),
Rodrigo de Rato. Segundo ele, é
"significativo" para o país que a
mudança na nota atribuída ao
Brasil tenha vindo em meio à
crise financeira internacional
que, nas últimas semanas, disseminou insegurança e derrubou ações de empresas no
mundo todo.
"Temos confiança de que a
evolução macroeconômica, o
perfil da dívida, a política fiscal
conservadora com superávits
primários e a credibilidade da
política monetária ajudarão o
Brasil a atingir o nível de investimento", declarou Rato que,
ontem, esteve reunido com o
presidente Lula e o ministro
Guido Mantega (Fazenda).
O grau de investimento é
uma espécie de selo de qualidade de bom pagador que, em tese, atrairia mais recursos de investidores ao país.
Para o secretário do Tesouro,
Arno Augustin, essa reclassificação foi muito importante pelo momento em que ocorreu.
"Essa decisão em meio a uma
turbulência internacional reforça que os fundamentos da
economia estão muito sólidos.
A vulnerabilidade praticamente inexiste para o país por conta
do alto volume de reservas."
Apesar disso, Augustin não
quis arriscar um prazo para o
país atingir o chamado grau de
investimento. "Tudo mostra
que o Brasil está indo para o lado cada vez mais positivo."
Para analistas, a revisão da
nota brasileira é bem-vinda,
mas acreditam que pouco efeito terá na prática. Primeiro,
porque a alteração apenas confirma a melhora nos indicadores econômicos que os investidores já haviam levado em conta para determinar preços dos
ativos negociados no mercado.
Segundo, porque a Moody's
está adequando sua nota à das
demais agências de classificação de risco, como Standard &
Poor's e Fitch. Ambas já haviam colocado o Brasil apenas
um degrau abaixo do grau de
investimento, demonstrando
que não há risco de calote da dívida brasileira. Ainda assim, a
notícia foi comemorada.
"Se tivesse sido em em período de bonança, um mês atrás,
não chamaria a atenção. Mas o
fato positivo é que veio em
meio a um momento de crise.
Eles tinham todas as justificativas para segurar o "upgrade" até
que a situação arrefecesse",
afirma Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management. Ele observa, porém, que
o grau de investimento não virá
automaticamente. "O relatório
da Moody's destaca a necessidade de atenção à questão fiscal, que significa preocupação
com o gasto público."
"Reconhecimento"
Para a ex-vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, a
melhora na avaliação do Brasil
chegou atrasada e não causou
surpresa. Jonh Stuttard, prefeito do distrito financeiro de
Londres, a chamada "City",
afirmou que se trata de "uma
mostra da condição econômica
forte do Brasil". "Agora o Brasil
tem que aproveitar esse aumento de nota para se vender lá
fora e captar mais recursos de
investidores estrangeiros."
O ministro Miguel Jorge
(Desenvolvimento) disse que o
aumento das notas do país em
meio à crise vivida dos mercados financeiros não foi coincidência. Segundo o ministro, foi
um "reconhecimento" de que,
apesar das turbulências, o país
está "se saindo bem".
Também questionado sobre
a possibilidade de o governo
acabar com a CPMF para diminuir a alta carga tributária, disse que o fato de a arrecadação
ser alta foi justamente um dos
elementos que ajudaram o país
a enfrentar as turbulências.
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