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São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

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CONTA-GOTAS

Apesar do recuo, taxa anual cobrada por bancos é de 154%; volume de crédito disponível, porém, fica estável

Juros no cheque especial caem 20 pontos

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros cobrados no cheque especial recuaram 20 pontos percentuais em pouco mais de um mês, segundo levantamento feito pelo Banco Central. Apesar da expressiva queda, a taxa praticada pelos bancos continua alta: os juros estavam em 173,9% ao ano em julho e passaram para 153,9% entre os dias 1º e 10 deste mês.
"Ainda é uma taxa elevada, mas a queda ocorrida nos últimos meses foi bastante forte", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "A expectativa é que, cada vez mais, se consolide essa tendência de queda [dos juros bancários]", afirma.
Desde o final de 1999 os juros do cheque especial não registravam uma queda dessa magnitude. Entre outubro e dezembro daquele ano, a taxa caiu 23,5 pontos percentuais. Os juros anuais de 153,9% praticados neste mês são os mais baixos desde julho de 2001, segundo o BC. Em outras modalidades de crédito, as taxas também recuaram.
Em média, os juros cobrados neste mês pelos bancos nos empréstimos concedidos a pessoas físicas ficaram em 70,8% ao ano, contra 74,5% em agosto e 77,9% em julho. Para as empresas, as taxas recuaram de 38,6% em julho para 36,3% neste mês.

Reflexo
Em parte, a queda dos juros cobrados pelos bancos reflete a redução da taxa Selic (básica) promovida pelo BC nos últimos meses. Desde junho, a Selic caiu 6,5 pontos percentuais, chegando a 20% ao ano na semana passada.
Em geral, os bancos captam dinheiro no mercado por meio da compra e venda de títulos públicos. A taxa Selic é aquela que remunera esses títulos e, por isso, acaba servindo de referência para as demais operações de crédito fechadas no país.
Em agosto, os bancos pagavam juros de 21,4% ao ano para captar dinheiro no mercado. Ao mesmo tempo, cobravam uma taxa anual de 52,7% para emprestar esses recursos a seus clientes. A diferença de 31,3 pontos percentuais é chamada de "spread" bancário.
Parte do "spread" é usada para cobrir os custos das instituições financeiras -pagamento de impostos e despesas com funcionários, por exemplo. Outra parte serve para aumentar seu lucro.
Anteontem, até mesmo o FMI (Fundo Monetário Internacional) criticou a alta taxa de "spread" praticado no país.
De acordo com o BC, o "spread" bancário havia recuado para 30,6 pontos percentuais neste início de mês. Apesar da queda registrada recentemente, esse valor é muito próximo dos 31,7 pontos percentuais observados em janeiro.

Volume de crédito
A queda dos juros ocorrida até agora, porém, não foi suficiente para fazer com que as pessoas tomem mais empréstimos. O volume total de crédito disponibilizado pelos bancos chegou a R$ 385 bilhões no mês passado, crescimento de apenas 0,6% em relação a julho.
Medidas como a queda do recolhimento compulsório -dinheiro que os bancos são obrigados a deixar parado no BC-, anunciada no mês passado, poderiam favorecer a expansão dos empréstimos. Até agora, porém, isso não aconteceu.
Altamir Lopes diz que a queda do compulsório só deve ter um efeito prático sobre a economia ao longo deste mês. Ainda segundo ele, o total de empréstimos concedidos pelos bancos não cresce porque, mesmo com a queda nos juros, as pessoas têm evitado contrair novas dívidas.


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