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Doleiro tem pena reduzida e pode ser solto
Toninho da Barcelona, condenado a 25 anos de prisão, obtém vitória no TRF, e advogado deve pedir liberação amanhã
Desembargadores reduzem
uma das três condenações,
o que deve ser usado como
atenuante; doleiro cumpriu
mais de 1/6 da pena de SP
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O doleiro Antônio Oliveira
Claramunt, o Toninho da Barcelona, completa hoje dois
anos, um mês e oito dias de prisão. Parece nada quando comparado aos 25 anos a que foi
condenado, mas os advogados
de Toninho e de outros doleiros
estão em festa. Eles avaliam
que conseguiram uma vitória
de peso no Tribunal Regional
Federal da 4ª Região (Sul): uma
câmara de desembargadores
reduziu uma pena de nove anos
de prisão para dois anos, dez
meses e 20 dias e converteu-a
em prestação de serviços. Se
dependesse só desse processo,
o doleiro estaria na rua.
"O tribunal corrigiu um exagero inaceitável", diz o advogado Ricardo Sayeg, que defende
Toninho. Amanhã, ele pedirá a
um desembargador federal que
seu cliente seja solto.
O principal argumento para a
liberação é que Toninho já
cumpriu mais de um sexto da
pena a que foi condenado em
São Paulo, de dez anos e dois
meses. Ao cumprir 1/6 da pena
(um ano e oito meses, no caso
de uma condenação a dez
anos), o réu tem direito a desfrutar do regime semi-aberto e
passa a só dormir na prisão.
O caso de Toninho da Barcelona é histórico porque a Justiça nunca havia dado uma pena
tão alta a um doleiro. Os 25
anos são a soma de três condenações: dez anos e dois meses
(São Paulo), nove anos (Curitiba) e seis anos (Cascavel).
Os processos são independentes, mas a decisão do TRF
pode ser usada como atenuante. "Não há o menor sentido em
condenar o Toninho a 25 anos
de prisão quando a pena de um
traficante primário é de 15
anos", afirma seu advogado.
Em Curitiba, Toninho havia
sido condenado por seus negócios com o doleiro Alberto
Youssef. Youssef era uma espécie de "BC dos doleiros" e o
principal fornecedor da moeda
para Toninho. As operações do
doleiro com Youssef entre 1994
e 2000 somam US$ 121,7 milhões (R$ 269 milhões, hoje).
É um valor altíssimo, mas talvez não traduza com precisão o
porte dos negócios de Toninho.
Só por duas contas que o doleiro manteve nos EUA passaram
US$ 196 milhões (R$ 433 milhões) entre 1997 e 1999.
A decisão do TRF da 4ª Região (Porto Alegre) desqualifica
três das quatro acusações que
pesavam contra Toninho. Segundo o relato do desembargador federal Luiz Fernando
Wowk Penteado, o doleiro não
pode ser acusado de gestão
fraudulenta por já ter sido condenado por esse crime em São
Paulo. O crime de operação indevida de instituição financeira
inexiste no caso, segundo o desembargador, pois a relação de
Toninho com Youssef não
constituiu ""empreendimento"
independente, mas sim um
desdobramento negocial das
casas de câmbio (...) dos dois".
O crime de formação de quadrilha foi desqualificado porque os negócios envolviam só
dois doleiros. Restou a condenação por evasão de divisas.
"É uma decisão justa de um
desembargador cuidadoso. Ele
recoloca as coisas em seu devido lugar", diz o advogado Alberto Zacharias Toron.
"A grande inovação dessa decisão é o entendimento de que
doleiro não gere instituição financeira", diz o advogado Paulo José Iasz de Morais. Para ele,
é uma decisão importante porque o TRF da 4ª Região julga os
recursos de Curitiba, que concentra a maioria de processos
contra doleiros.
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