São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2008

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Crise pode afetar leilão de rodovias em SP

Escassez de crédito internacional reduz expectativa de deságio no leilão dos cinco lotes de estradas paulistas, em outubro

Mercado e governo paulista esperavam descontos grandes como o da licitação do Rodoanel, que alcançou os 60%

Claudio Capucho - 22.abr.02/Folha Imagem
Rodovia Carvalho Pinto, que vai a leilão com mais 4 lotes de estradas, entre as quais a Dom Pedro 1º

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A atual crise financeira internacional atingiu a expectativa do mercado e do governo de São Paulo em obter um grande deságio no preço do pedágio nos cinco lotes de rodovias paulistas. Cinco corredores de São Paulo (Dom Pedro 1º, Ayrton Senna/Carvalho Pinto, Raposo Tavares e a Marechal Rondon Leste e Oeste) vão a leilão no dia 29 de outubro.
A esperança de que os preços da tarifa cobrada por quilômetro acompanhassem o desconto de 60% obtido no Rodoanel já foi abandonada. O corte súbito de crédito provocado pela crise internacional mudou completamente a perspectiva.
"O cenário mudou radicalmente. O ambiente para captação de recursos destinado ao Rodoanel era muito mais amistoso, em relação a liquidez e a juros. As empresas ainda aguardam os bancos reabrirem as linhas de crédito fechadas depois do momento mais agudo da crise, mas ninguém tem dúvidas de que os descontos na tarifa de pedágio que poderiam ser dados antes serão dados agora", afirma Francinett Vidigal, diretor-presidente da VAE Consultores.
O preço-teto no leilão para rodovias com pista dupla será de R$ 0,107910 por quilômetro. No caso de pista simples, o valor-limite será de R$ 0,077078. Os interessados em participar da disputa dos cinco lotes correm neste momento atrás de linhas que garantam a oferta de R$ 3,471 bilhões, ou US$ 1,81 bilhão para o pagamento da outorga em até 18 meses. Esse é o valor que o governo paulista exigirá pela concessão de 1.730 quilômetros de rodovias. Esses recursos terão de ser tomados em bancos privados. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) não financia o pagamento da outorga. Isso porque o financiamento não se enquadra como investimento.
Os R$ 8 bilhões para investimentos poderão ser tomados no BNDES ou em instituições multilaterais como o BID. O problema é que o fechamento do mercado de crédito tornará as instituições de fomento a única fonte de capital mais barato. Há dúvidas hoje se elas terão condições de suportar tamanha demanda.
"A busca dos R$ 3,5 bilhões é o ponto crucial. O custo desse dinheiro no mercado ficou muito maior do que era antes", afirma Renato Camargo, vice-presidente de originação e operações estruturadas do banco de investimento WestLB. Pelo menos cinco grupos nacionais e um estrangeiro já bateram à porta do banco para negociar o financiamento da operação e encontram a mesma situação: o custo do crédito duplicou.
"Estruturamos uma operação com Libor [juro interbancário no mercado internacional] mais 200 pontos [ou 2% ao ano]. Agora, ninguém consegue fechar uma operação inferior a Libor mais 400 pontos, ou 4% ao ano", diz. Muitas empresas podem desistir de disputar o leilão ante as condições de seletividade na concessão de crédito e os juros mais elevados.

Contratos antigos
A elevação dos custos de crédito pode afetar o plano do governo de São Paulo, que esperava o resultado do leilão para ter uma possibilidade de renegociar o preço dos pedágios das concessionárias mais antigas. O secretário dos Transportes, Mauro Arce, chegou a dizer que esse seria um processo negociado, sem rupturas de contrato, mas que seria deflagrado à luz do resultado final da concessão dos cinco lotes. O grande deságio, como era esperado, demonstraria o apetite do setor privado e daria argumentos para ir à mesa de negociação.
Em entrevista a Folha, o secretário não quis fazer previsões de deságio no preço do pedágio com a nova situação de crédito. Segundo ele, mesmo que não haja deságio, o valor da tarifa foi definido de forma a ser justa. O ambiente preocupa o governo, admitiu Arce.


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