São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bush deixa crise econômica para final de discurso

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Enquanto a crise deu o tom da maioria dos discursos na abertura da 63ª Assembléia Geral da ONU, o presidente dos EUA, George W. Bush, deixou a economia em último plano, defendendo as ações de seu governo contra o colapso dos mercados.
Quase ao final do discurso focado no tema do terrorismo, Bush disse que "foram tomadas medidas robustas".
"Promovemos a estabilidade dos mercados ao impedir o fracasso desorganizado de grandes empresas. O Fed injetou a liquidez de que o sistema precisava com urgência. E eu anunciei uma ação decisiva do governo federal para abordar a raiz da instabilidade em nossos mercados financeiros, [que vai] adquirir títulos sem liquidez que estão desestruturando balanços financeiros e restringindo o crédito." O presidente se disse confiante de que seu plano de resgatar estimados US$ 700 bilhões de papéis podres de Wall Street será aprovado em tempo hábil. Ao terminar, recebeu apenas dez segundos de aplausos débeis.
Pouco antes, em comentários após um encontro com o presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, Bush reconheceu que vem sendo questionado por outros governantes sobre a eficácia das ações do governo contra a crise. Ele deixou em aberto a possibilidade de aceitar emendas no plano de resgate generalizado, já que vêm sendo propostas pela oposição democrata.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, falou logo após Bush. Pediu ação conjunta dos governos: "Precisamos agir juntos para contornar a mais séria crise econômica desde os anos 1930".
Mais que bom senso
Sarkozy disse ser hora de o mundo adotar um "capitalismo regulamentado, em que a atividade financeira não é deixada por conta apenas do bom senso" das entidades do setor. "Juntos podemos fazer isso. A Europa não quer dar lições, mas exemplos."
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, adotou retórica ainda mais dura.
"Hoje, não se trata mais do efeito caipirinha, tequila ou arroz, dos países emergentes para o centro, mas do efeito que se poderia chamar jazz, produzido no centro da primeira economia e que se expande a todo o mundo."
Cristina criticou a "economia de cassino ou de ficção" dos EUA e a "mudança de opinião" do governo republicano do país -com histórico antiintervenção. "A intervenção estatal mais formidável de que se tem memória se produz a partir de um lugar em que nos haviam dito que o Estado não era necessário, no marco de um fenomenal déficit fiscal e comercial."
Os EUA, mesmo sem os US$ 700 bilhões no resgate de Wall Street, já previa déficit orçamentário recorde no próximo ano fiscal, de mais de US$ 480 bilhões.
Após ouvir ataques de Bush, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, devolveu na mesma moeda e disse que "o império americano está chegando ao fim de seu caminho, e seus próximos governantes devem limitar sua interferência a suas fronteiras".


Colaborou ADRIANA KÜCHLER, de Buenos Aires


Texto Anterior: Na ONU, Lula critica mercados e Bush
Próximo Texto: Crise pode afetar leilão de rodovias em SP
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.