São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2008

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Remessa e importação elevam projeção para o déficit externo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Graças ao aumento nas remessas de lucros ao exterior e ao crescimento das importações, o Banco Central elevou de US$ 25 bilhões para US$ 28,8 bilhões sua projeção para o déficit em transações correntes deste ano. O indicador contabiliza todas as negociações de bens e serviços do Brasil com outros países.
Até agosto, o saldo acumulado estava negativo em US$ 20,6 bilhões. Confirmada a estimativa do BC, será o primeiro déficit externo do país desde 2002. Para 2009, espera-se déficit maior -de US$ 33,1 bilhões.
O BC foi surpreendido tanto pela balança comercial quanto pelo volume de dinheiro enviado para fora do país por multinacionais instaladas no Brasil. Em 2007, quando fez pela primeira vez as projeções para as contas externas em 2008, a instituição estimava que as remessas de lucros fossem ficar em US$ 16,8 bilhões. Ontem, essa previsão foi revista pela quarta vez, para US$ 33 bilhões.
"Vários setores estão remetendo para cobrir resultados negativos de suas matrizes", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, ao se referir às remessas feitas neste ano por bancos e montadoras de veículos. Juntos, esses setores enviaram US$ 6,5 bilhões ao exterior entre janeiro e agosto (mais 45% em relação a igual período de 2007).
Já o superávit da balança comercial, que no ano passado era estimado em US$ 34 bilhões, deve ficar agora em US$ 25 bilhões, de acordo com nova previsão. Isso porque as importações, em vez de crescerem 16% como previsto no final de 2007, devem crescer 43% neste ano.
Em 2009, a situação deve se agravar devido à queda ainda maior no superávit comercial, que, segundo o BC, deve ficar em US$ 17 bilhões, o que explica boa parte do aumento do déficit em transações correntes para US$ 33,1 bilhões.
Além disso, em 2009 é esperado volume maior de vencimentos da dívida externa, cujas parcelas a serem pagas somam US$ 28 bilhões (US$ 25,7 bilhões neste ano), já considerados os compromissos tanto do governo como do setor privado.
Por outro lado, o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, ressalta que também há fatores positivos a serem considerados nessa análise. Um deles é a própria desaceleração da economia brasileira esperada para o ano que vem, reflexo tanto do desaquecimento da economia mundial como dos recentes aumentos da taxa Selic.
Essa desaceleração, diz Lacerda, ajuda a conter as importações e impede um aumento maior do déficit em transações correntes. "O risco é o BC errar a mão nos juros, o que poderia levar a uma queda muito mais forte no nível de atividade."


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