São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2008

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Impacto na China será limitado, diz economista

Para Yuan Gangming, um dos mais influentes economistas do país, confiança de dirigentes nos investimentos nos EUA segue forte

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O impacto da crise financeira americana na China é "limitado" e a confiança do país nos EUA deve continuar "porque as economias são intimamente ligadas". É o que diz um dos mais influentes economistas da China, Yuan Gangming, 55, que dirige o Instituto de Pesquisa Econômica da Academia Chinesa de Ciências Sociais, o principal centro de estudos ligado ao Conselho de Estado e ao Partido Comunista.
Ao contrário de diversos analistas, que prevêem uma acentuada desaceleração a partir do ano que vem, Yuan diz que o país crescerá ainda por muitos anos, mas passa por transformações, não por uma bolha.
Também professor da Universidade Tsinghua, Yuan participa regularmente de reuniões no Ministério das Finanças para mostrar seus estudos e sugerir novas políticas.
"Eles nos escutam, o processo de decisão é bem mais democrático do que se pensa", diz.

 

RELAÇÃO COM EUA
A China só perdeu US$ 720 milhões com os títulos que tinha do Lehman Brothers. É bom que o país tenha investido tanto nos EUA porque não há muitas outras opções para suas reservas internacionais, de quase US$ 2 trilhões. Comparado ao euro, o dólar é bem mais importante. As economias da China e dos EUA são muito integradas e interdependentes, e a China aprendeu muito dos EUA em termos de mercado de capitais.

DESACELERAÇÃO
Há desaceleração, o que preocupa o governo, mas nada, nada que lembre recessão.
Houve queda no crescimento da produção industrial de alto valor agregado, na construção civil e na inflação. O preço do aço caiu 30%, mas é sazonal. Há quem defenda que a China esteja numa bolha, que é bom mesmo desacelerar, mas eu discordo. Crescer 10%, 11% é necessário para o nosso estágio de desenvolvimento, de urbanização e migração em massa.

BOLHA IMOBILIÁRIA
Os preços do metro quadrado em boa parte do país são irreais. E são prova da enorme diferença entre ricos e pobres. Para os mais ricos, que preferem investir em imóveis que em ações, dá para comprar dez apartamentos. Mas a classe média e os mais pobres estão esperando os preços baixarem. O governo deveria controlar esses preços, mas não vai deixar que caiam muito para não deprimir a economia. A construção civil é um dos setores mais importantes da China.

INFLAÇÃO
A inflação foi só um susto. O preço da carne de porco aumentou 60% no ano passado, e isso criou uma reação em cadeia. Os camponeses achavam que o preço estava muito baixo e deixaram de criar suínos. Houve falta, o porco é base da nossa alimentação, e o preço disparou. Agora, estabilizou.

ADEUS, BARATOS
Concordo com a decisão do governo de deixar de apoiar a indústria de exportação de produtos baratos. Houve muitos incentivos, mas essa indústria continua a produzir material de baixo valor agregado, paga salários ruins e é muito poluidora. A China não precisa mais se sacrificar pela economia global. A Europa e os EUA começarão a pagar por tênis e têxteis valores mais reais, não o valor irrisório dos últimos anos.

CRESCIMENTO FUTURO
Não se deve temer pela crise na China. O país continuará a crescer por muitos anos, graças ao êxodo rural e à urbanização. Estamos vivendo uma transição, de deixar de ser uma economia baseada em exportações e investimentos para uma de consumo. Nos anos 1980, o chinês comprava muito quando a educação e a saúde eram responsabilidade do governo. Hoje ele economiza por não ter essa segurança, mas Pequim está investindo mais e mais em educação e saúde. Não vai demorar para que o chinês comece a gastar mais, sem medo do futuro.

RESGATAR A BOLSA
A recompra de ações determinada pelo governo chinês, de estatais e de bancos, é o que os investidores esperavam para garantir a confiança nas empresas. Apenas seguiu os passos de intervenção tomados por bancos centrais ocidentais.


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