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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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CRÉDITO

Bancos terão acesso a perfil mais preciso de cliente; idéia é baixar juro

BC monta sistema para identificar bom pagador

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Está praticamente pronta a nova central de risco de crédito do Banco Central, que vai se chamar Sistema de Informações de Crédito. A Folha teve acesso ao protótipo da nova central, que deve começar a funcionar até o final de dezembro.
Segundo o diretor de Fiscalização do BC, Paulo Sérgio Cavalheiro, com o novo sistema os bancos vão "emprestar melhor", o que contribuirá para reduzir os juros cobrados dos bons pagadores.
Hoje, a central de risco de crédito do BC disponibiliza aos bancos somente dados básicos dos clientes com operações de financiamento ou empréstimos em aberto (que ainda não venceram ou que não foram pagos).
Os bancos lançam no sistema do BC somente o valor emprestado, o prazo e quanto (se houver) está em atraso. Antes de emprestar para um cliente, o gerente não pode consultar, por exemplo, a quantas outras instituições a pessoa deve, quantas operações de empréstimo ela tem em curso nem o tempo de inadimplência.
Além dessas informações, os bancos também terão de lançar no novo sistema em que praça o cliente tomou o empréstimo, em que modalidade de crédito (leasing, empréstimo pessoal, financiamento da casa própria), qual o indexador (juros pós, prefixados, variação do dólar etc.) e se há garantia, por exemplo.
Antes de conceder os empréstimos, os gerentes dos bancos poderão ter um quadro mais acurado do perfil do cliente. Para Vânio Aguiar, chefe do departamento de Supervisão Indireta do BC, isso permitirá que as instituições cobrem taxas menores daqueles com histórico de bom pagador.
No Brasil existe hoje somente o que se chama de cadastro negativo dos consumidores. Os registros são apenas dos inadimplentes e não há um acompanhamento dos que são bons pagadores.
Os bancos não diferenciam aquele que nunca tomou crédito daquele que obteve empréstimos várias vezes e sempre pagou em dia. Além disso, para compensar os prejuízos com os que atrasam ou não pagam, os bancos cobram juros mais altos de todos os demais clientes.
"Um dos grandes problemas para os bancos oferecerem taxas menores é a falta de informações sobre os credores", disse Aguiar.
A idéia do BC é criar um cadastro positivo para mudar isso. Uma vez que os bancos tenham mais e melhores informações de todos os clientes, poderão, em tese, reduzir o nível geral de inadimplência, emprestando menos ou não emprestando para o mau pagador, o que abriria espaço para cobrar menos juros do bom cliente. "Se a inadimplência cair, você poderá reduzir o "spread" [diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa cobrada dos clientes]", ressaltou Aguiar.
Os bancos poderão saber também desde quando a pessoa é cliente de instituição financeira, qual foi o maior empréstimo já obtido por ela, se nunca esteve na lista de inadimplentes etc.
Segundo Aguiar, países que contam somente com cadastros negativos dos clientes costumam ter níveis de inadimplência bancária maiores do que os daqueles que têm cadastros positivos.
A classificação de risco de crédito permanece como funciona hoje. Os bancos são obrigados a dar notas de C (grande risco de calote) a AA (excelente pagador) para cada operação de empréstimo ou financiamento acima de R$ 5.000. O BC gastou R$ 3 milhões para desenvolver o novo sistema.


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