São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2008

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Analistas apóiam a medida, mas duvidam de sua eficácia

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de câmbio recebeu bem o anúncio do arsenal de US$ 50 bilhões do BC em oferta de títulos que oferecem a variação do cambial, mas mostrou dúvidas quanto à eficácia do instrumento para conter a apreciação da moeda americana. A maior dúvida é se esse instrumento terá impacto na reabertura das linhas de crédito aos exportadores. São eles que, de fato, trarão dólares ao país.
Para o consultor Emilio Garofalo, ex-diretor do BC, será difícil o BC acertar rapidamente em meio a um ambiente externo ruim. Garofalo afirma que o leilão de linhas externas para financiar o exportador, feito na segunda-feira, foi um fracasso por ter regras apertadas de garantias e de prazos, que deverão ser revistas. "Está faltando engrenar um mecanismo para ajudar o exportador. Isso está muito lento", disse.
Para o consultor Nathan Blanche, sócio da Tendências, o BC também tem de criar condições para os exportadores retomarem seus negócios. Blanche vê um potencial de fechamento de contratos de exportações de US$ 20 bilhões nos próximos meses. "O único instrumento efetivo para reduzir a taxa de câmbio e desmontar esse "overshooting" [variação exagerada] é com uma oferta líquida de câmbio. Ou você vende US$ 50 bilhões à vista e perde reservas ou oferece linhas de crédito para o exportador. Porque o exportador é o único que gera dólares", disse.
Para Sidnei Nehme, da corretora NGO, o anúncio ontem dos US$ 50 bilhões foi importante para o mercado dimensionar o tamanho da "arma" do BC contra a variação do câmbio. Nehme lembra que a expectativa era que a autoridade monetária utilizasse no máximo US$ 23 bilhões, volume aproximado dos títulos usados no passado para conter a queda do dólar. Como já foram colocados US$ 13 bilhões, o mercado via apenas US$ 10 bilhões de munição para estancar a alta. "Mas se a oferta for em conta-gotas, não vai ter efeito", diz Nehme.
Para Sergio Vale, economista da MB Associados, a medida deve ajudar a diminuir a volatilidade, mas não vai acalmar totalmente o mercado até ficar claro o montante de perdas com o câmbio das empresas. "Até ficarem claras todas as perdas com derivativos cambiais e o mercado lá fora acalmar, o câmbio deverá ficar pressionado, pelo menos, até novembro."


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