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Paulson diz que não dava para salvar Lehman
JOE NOCERA E
EDMUND ANDREWS
DO "NEW YORK TIMES"
Era o final de semana de 13 de
setembro. O momento que o
secretário do Tesouro dos EUA,
Henry Paulson, temia há meses
enfim havia chegado: o banco
Lehman Brothers despencava
rumo à quebra, e rápido.
Sabendo que o Lehman tinha
bilhões de dólares em maus investimentos nas suas carteiras,
Paulson vinha instando há
muito tempo que o presidente
do grupo, Richard Fuld Jr., encontrasse uma solução. "Ele foi
aconselhado a se esforçar ao
máximo para encontrar um
comprador", recordou Paulson
em entrevista ao "Times".
Mas o Lehman não encontrou interessados -apesar do
que Paulson descreve como
apelos pessoais a outras empresas pela aquisição de alguns dos
ativos tóxicos do banco e de esforços para que outro banco o
adquirisse. Por falta de opções,
ele diz, as mãos do governo estavam atadas, apesar de o Fed
(o BC dos EUA) já ter ajudado
no resgate do Bear Stearns e
poucos dias depois viesse a se
envolver no resgate à gigante
dos seguros AIG. Não tinha como ajudar o Lehman, afirma
Paulson, ex-presidente do
Goldman Sachs, ainda que a
quebra do banco representasse
risco de catástrofe no mercado.
"Faltavam-nos os poderes
necessários", insistiu Paulson,
explicando uma decisão que
muitos vieram a criticar posteriormente- a de permitir a
quebra do Lehman. Segundo a
lei, ele disse, o Fed só poderia
resgatar o Lehman com um
empréstimo caso o banco tivesse ativos de qualidade em montante suficiente para servir como caução, mas não era o caso.
Se alguém acredita que Hank
Paulson poderia ter forçado o
Fed a salvar o Lehman, a resposta é: "De jeito nenhum".
Mas não é assim que muitas
das pessoas que estão julgando
suas ações vêem o caso. Banqueiros envolvidos dizem que
não se recordam de Paulson ter
mencionado os problemas de
caução do Lehman. E dizem
que os compradores desistiram
por apenas um motivo: falta de
assistência governamental como a que havia tornado possível o resgate ao Bear Stearns.
Um dia depois do colapso do
Lehman, o Fed salvou a AIG
com um empréstimo de emergência de US$ 85 bilhões, mas
os mercados de crédito de todo
o mundo começaram a travar,
do mesmo jeito. Foi a essa altura que Paulson, acuado diante
de seus perseguidores, decidiu
que uma solução sistêmica era
necessária, e que era contraproducente resolver os problemas de uma empresa para descobrir, dias mais tarde, que diversas outras companhias precisariam de socorro.
Há quase um século um secretário do Tesouro não enfrentava crise séria como a que
Paulson vem combatendo. Há
meses, ele e sua equipe vêm trabalhando sem parar, muitas vezes sete dias por semana, em
uma tentativa vã de impedir
que os problemas se agravem.
"Eu poderia ter percebido
mais cedo o problema do crédito imobiliário de risco. Mas não
estou dizendo que teria agido
de maneira diferente", diz.
A história oferecerá o veredicto final. Mas, em contraste
com a perspectiva de Paulson,
outros funcionários do governo
e executivos do setor financeiro sugerem que os esforços épicos de resgate conduzidos pelo
Tesouro evoluíram de maneira
tão caótica quanto a crise em si.
Perguntado o que ele poderia
ter feito melhor, Paulson responde que "poderia ter explicado melhor as coisas ao público".
E acrescenta: "Jamais me
senti pior do que quando a Câmara rejeitou" o pacote de resgate, em 26 de setembro, aprovado uma semana depois, com
modificações.
Quanto ao Lehman, Paulson
insiste em que foi "um sintoma
e não uma causa" do colapso financeiro. O problema real, ele
alega, é que os bancos de todo o
mundo fizeram empréstimos
arriscados, que agora voltaram
para assombrá-los. Após reunião recente com dirigentes de
BCs europeus, ele diz que "a
coisa mais espantosa é a dimensão do problema. Basta ver
que país após país, depois de
afirmar que não tinha problemas, está apresentando problemas imensos". E acrescenta
que "em dez anos, ninguém vai
dizer que esta crise foi causada
pela quebra do Lehman".
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