São Paulo, quinta-feira, 24 de novembro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Apesar de desaceleração econômica, Copom mantém gradualismo no terceiro corte seguido na Selic

Como esperado, juro cai de 19% para 18,5%

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central reduziu os juros básicos da economia de 19% ao ano para 18,5%, como esperado pela maioria dos analistas. A decisão foi tomada ontem, por unanimidade, pelos membros do Copom (Comitê de Política Monetária do BC). Foi o terceiro mês seguido de queda na taxa Selic.
Em nota, o BC afirmou estar "dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária iniciado na reunião de setembro". Naquela ocasião, a Selic havia sido reduzida pela primeira vez em 17 meses.
Alguns analistas chegaram a considerar a possibilidade de um corte maior -de 0,75 ponto percentual-, especialmente depois de indicadores que apontam para uma desaceleração mais forte da economia no terceiro trimestre.
Uma das maiores fontes de preocupação é a indústria, já que dados tanto do IBGE como da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostraram desaquecimento. Anunciados esses números, há cerca de duas semanas, analistas do setor privado reduziram suas projeções para o crescimento para a economia neste ano. Segundo pesquisa do BC num grupo de cem bancos e consultorias, a expectativa é que o PIB crescia 3,09% ao longo de 2005.
Números preliminares do PIB do terceiro trimestre devem ser divulgados na semana que vem. Em agosto, o cenário era inverso: naquele mês, dados divulgados pelo IBGE mostravam que a economia havia crescido um pouco mais do que o esperado no segundo trimestre deste ano.
Diante disso, alguns analistas chegaram a elevar as projeções para o resultado do PIB em 2005 para algo próximo de 3,5% -ainda abaixo dos 4,9% de 2004. Já o BC, por sua vez, adiou de agosto para setembro o início do processo de redução da taxa Selic, que começara a subir no final de 2004.
Em tese, juros mais baixos barateiam o crédito, estimulando o consumo das famílias e os investimentos das empresas -logo, favoreceriam o crescimento da economia. Os críticos à política econômica do governo culpam a demora do BC em reduzir os juros pelo desaquecimento dos últimos meses.
Para o BC, a elevação da taxa Selic se justifica pela necessidade de manter a inflação dentro das metas do governo. Para 2005, o BC tem como objetivo fazer com que a alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fique em, no máximo, 5,1%. Entre janeiro e outubro, o aumento acumulado ficou em 4,73%.
O controle da inflação tem sido beneficiado pela queda do dólar, pois isso barateia produtos e matérias-primas importados. A valorização do real, por sua vez, reflete, em parte, a política de juros altos adotada pelo BC.
Simplificadamente, pode-se dizer que a taxa de juros praticada num país reflete a rentabilidade oferecida pelas aplicações feitas em cada moeda. Assim, se os juros brasileiros são muito mais altos que a taxa norte-americana, os investimentos em reais ficam mais atrativos do que as aplicações em dólar.
De acordo com estimativa de analistas de mercado, o IPCA deve encerrar o ano com uma alta de aproximadamente 5,5% -próximo, portanto, do objetivo estabelecido. Na verdade, as decisões de política monetária tomadas recentemente pelo BC já miram no cumprimento da meta de inflação do ano que vem, fixada em 4,5% -a expectativa do mercado é que o aumento fique em torno de 4,6%.


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