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BIOTECNOLOGIA
Funcionário da Casa Civil prestou serviços por
cinco anos para a Monsanto, companhia interessada nos transgênicos
Ex-advogado de múlti trabalhou no decreto
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Beto Ferreira Martins Vasconcelos -funcionário da Casa Civil
encarregado de preparar o decreto que regulamentou a Lei de
Biossegurança, publicado ontem
no "Diário Oficial" da União-
trabalhou por cinco anos como
advogado da Monsanto, uma das
principais interessadas na abertura do país aos transgênicos.
A Folha teve acesso à procuração por meio da qual o atual subchefe-adjunto para assuntos jurídicos da Casa Civil representou a
Monsanto e uma de suas subsidiárias, a Monsoy. Segundo a Casa Civil e a assessoria da empresa,
a procuração valeu de 1998 a 2002
e se estendeu a outros advogados
de grande escritório paulista.
Vasconcelos integrou o grupo
de trabalho formado por representantes de outras nove pastas e
coordenado pela Casa Civil. Apesar de oito meses de debate, a minuta de decreto produzida pelo
grupo chegou sem consenso às
mãos do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, que arbitrou favoravelmente aos ambientalistas.
Apesar de o debate sobre conflito de interesses estar presente na
elaboração do decreto, a Casa Civil e a Monsanto avaliam que a
presença do ex-advogado da multinacional na coordenação do
grupo de trabalho encarregado de
regulamentar a Lei de Biossegurança não compromete o trabalho (leia texto abaixo).
O decreto obriga os membros
da CTNBio (Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança) a assinar uma "declaração de conduta", documento que explicitará
eventuais conflitos de interesse.
Ainda de acordo com o decreto,
os integrantes da comissão -a
quem cabe liberar pesquisas e a
comercialização de transgênicos- ficam proibidos de julgar
questões com as quais "tenham
algum envolvimento de ordem
profissional ou pessoal, sob pena
de perda de mandato". É um instrumento usado em outros países
na busca de decisões imparciais.
O Meio Ambiente defendia proposta mais radical: ficariam barrados de participar de determinado julgamento os membros da
CTNBio que "tenham ou tenham
tido" envolvimento com as questões em análise.
A Monsanto é uma das principais personagens do debate sobre
a liberação dos transgênicos do
país. Esse debate ganhou fôlego
no governo Lula, com a autorização presidencial para a venda da
primeira safra de soja transgênica
no país, obtida a partir de sementes contrabandeadas da Argentina, menos de quatro meses depois do início do mandato.
Em abril de 2004, a multinacional começou a cobrar royalties
dos produtores que usavam as sementes contrabandeadas. A
Monsanto é dona do direito de
propriedade intelectual sobre o
gene de soja transgênica. Os produtores que usam sementes de
origem contrabandeada têm de
pagar uma indenização de 2% do
valor do grão no momento da
venda; já os produtores licenciados de semente pagam R$ 0,88
por quilo de soja transgênica. O
preço vale para a safra deste ano e
a de 2006.
(MARTA SALOMON)
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