São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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ENTREVISTA DA 2ª

ELIANA TRANCHESI

Cliente não tem mais dinheiro para jogar fora

CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Nas duas primeiras semanas de outubro, as vendas na Daslu, a maior butique de luxo do país, caíram pela metade. O impacto da crise financeira internacional atingiu o caixa da loja vinte dias após a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, em setembro deste ano.
"Todo mundo estava muito apreensivo. Os maridos estavam nervosos, ninguém sabia o que ia acontecer. As mulheres não se sentiam confortáveis de virem para a loja gastar. É como quando estoura uma guerra.
Você pára e espera: será que todo mundo vai quebrar?", diz a empresária Eliana Tranchesi, uma das sócias da Daslu.
Após o "susto inicial", os clientes começaram a retornar, e os resultados de outubro ficaram 15% abaixo da meta estipulada, o que é motivo de comemoração para a empresária.
"Conseguimos uma vitória porque, em todo o país, outras empresas e o comércio em geral estavam em dificuldades muito maiores." Em novembro, com a proximidade das festas de final de ano, as vendas voltaram a aumentar, segundo afirma.
Para 2009, as projeções ainda não foram finalizadas. No ano passado, a Daslu faturou R$ 250 milhões e espera neste ano chegar aos R$ 321 milhões com a nova loja no shopping Cidade Jardim e exportações.
A empresária diz já que prepara medidas -como a redução da oferta de produtos importados e de estoques- para enfrentar a retração nas vendas.
Há 15 dias, a Daslu lançou, em parceria com o banco Safra, cartão de crédito exclusivo para as clientes, que poderão parcelar compras em 12 vezes. Leia a entrevista com Tranchesi.

 

FOLHA - A crise chegou à Daslu?
ELIANA TRANCHESI
- Quando houve a quebra do primeiro banco, o Lehman Brothers, foi muito difícil. Nas duas primeiras semanas de outubro, nosso faturamento caiu pela metade. Todo mundo estava muito apreensivo; os maridos, muito nervosos. Ninguém sabia o que ia acontecer. As mulheres não se sentiam confortáveis de vir à loja gastar. É como quando estoura uma guerra. Você pára e espera: será que todo mundo vai quebrar? As duas últimas semanas de outubro foram melhores. No final do mês, tivemos uma queda de 15% em relação à meta projetada.

FOLHA - Haverá impacto nos resultados deste ano?
TRANCHESI
- Novembro foi um arraso. A loja está lotada. Teve o lançamento da coleção de alto verão no dia 4, além de uma semana maravilhosa com a Fórmula 1. O faturamento deve crescer neste ano. [Em 2007 foram R$ 250 milhões, incluindo R$ 5 milhões de exportação; neste ano, devem ser R$ 321 milhões, incluindo R$ 45 milhões da loja no Cidade Jardim e R$ 6 milhões de exportação.]

FOLHA - Qual a previsão para 2009? Haverá retração nas vendas?
TRANCHESI
- Não fechamos ainda a projeção. O que sinto é que a cliente não tem mais dinheiro para jogar fora. Com todo mundo falando da crise, os clientes não querem mais apostar. Mas vão deixar de comprar coisas grandes, como carro, jóia, barco. Quem encomendou um avião deve cancelar. Já a roupa não é algo pesado no orçamento da cliente. Mas não podemos ser irresponsáveis de achar que vamos vender: ninguém sabe como estará a economia.

FOLHA - Haverá alguma reestruturação para enfrentar a crise?
TRANCHESI
- Com a crise, vamos gerir melhor os estoques. Comprar melhor, apostar no que é mais certo e selecionar o que vende, com redução de cerca de 25% de importados. Mas somos uma loja de moda, não podemos deixar de apostar em novidades. Estamos trazendo novas marcas, nacionais e importadas, além de ampliarmos a loja em 3.000 metros. Não há planos de corte de pessoal. Neste ano contratamos mais temporários do que no ano passado [134 neste ano e 127 em 2007]. E em 45 dias vamos decidir o local em que será instalada a primeira loja da Daslu no Rio.

FOLHA - O cartão de crédito Daslu foi lançado como uma das medidas para enfrentar a crise?
TRANCHESI
- O lançamento atrasou porque tivemos de esperar a aprovação da Visa em Miami, uma vez que é um cartão especial, com benefícios e layout diferenciados. São seis modelos, e o de oncinha já é o maior sucesso. Mil clientes pegaram a proposta no dia 4, quando foi lançado. Indicamos 4.000 clientes ao banco Safra, nosso parceiro.

FOLHA - Há três anos a Daslu foi alvo de uma operação da PF e há um processo criminal em curso. Como está a situação da loja?
TRANCHESI
- Estamos nos defendendo de algumas multas que vieram, assim como fazem várias empresas que têm o mesmo problema, embora falem sempre da Daslu. Quantas empresas receberam autos de infração da Receita, alguns aleatórios e fora da realidade, e estão se defendendo?

CARTÃO DE "ONCINHA" CHEGA À DASLU
Em seis modelos diferentes, o cartão de crédito Daslu, em parceria com o banco Safra, permite comprar em até 12 vezes. Mil clientes pegaram proposta no dia do lançamento.


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