São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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ENTREVISTA DA 2ª

CARLOS JEREISSATI FILHO

No primeiro momento, crise beneficia shoppings

DA REPORTAGEM LOCAL

Os efeitos da crise financeira global em um dos shoppings mais tradicionais de São Paulo, o Iguatemi, devem aparecer no ano que vem, se houver redução de empregos no mercado, pois empresas já começam a rever projetos de investimentos.
A avaliação é de Carlos Jereissati Filho, presidente do grupo Jereissati, que controla o Iguatemi e outros shoppings.
"Sem dúvida, vamos ter um crescimento menor no ano que vem e ainda não dá para prever qual será o percentual [de janeiro a setembro deste ano o faturamento do shopping deve crescer cerca de 9% sobre igual período do ano passado]. Tudo depende do que vai acontecer nos próximos três meses."
Para Jereissati, o impacto da crise global será menor no Brasil do que nos Estados Unidos e na Europa, já que o país é carente de crescimento. "O consumidor americano, por exemplo, consumia além de seu patrimônio, diferentemente do brasileiro, que não tinha acesso a crédito", pondera.
Para enfrentar períodos de crise, o presidente do grupo Jereissati, que tem 11 shoppings em operação, três em construção e dois em fase de aprovação de projeto (em Ribeirão Preto e em Jundiaí, no interior de SP), diz estar atento para atrair lojas cobiçadas. "Estamos trazendo a Abercrombie & Fitch para o Market Place [shopping adquirido na totalidade em março deste ano]. Essa loja é tão novidade no país que vai vender bem, com certeza", diz.
Leia trechos da entrevista com Carlos Jereissati Filho.

 

FOLHA - O Iguatemi sentiu os efeitos da crise financeira mundial? CARLOS JEREISSATI FILHO - Não sentiu ainda, mas acredito que possamos vir a sentir se essa crise tiver impacto de maneira expressiva no emprego. Por enquanto, temos uma expectativa muito boa de vendas para este Natal. O Iguatemi é um shopping diversificado, que atende principalmente as classes média e média alta. Tem desde butiques até lojas de produtos eletrônicos e as Lojas Americanas.
Tem restaurantes como o Viena até o Gero. O que quero dizer é que o Iguatemi tem boa distribuição de lojas e restaurantes e, por isso, não sofre tanto como os demais shoppings nas crises.

FOLHA - Mas o público do Iguatemi foi afetado com a queda da Bolsa e a redução de crédito, não?
JEREISSATI
- A crise atingiu a Bolsa e a oferta de crédito, mas isso está impactando mais os setores de bens mais caros, como o de automóveis e o da construção civil residencial, mas não os setores que utilizam crédito no curto prazo: os de bens de valores médios e baixos, como são o forte do nosso setor. Historicamente, sempre quando há crise dessa natureza, em um primeiro momento o nosso setor é até beneficiado, porque as pessoas deixam de fazer investimentos de longo prazo e gastam no médio prazo. Não sentimos ainda o efeito da crise e acredito que a gente possa vir a sentir se essa crise passar a realmente impactar de maneira expressiva o emprego.

FOLHA - Quais setores, na sua avaliação, sofrerão mais com a crise?
JEREISSATI
- Acho que o impacto será distribuído por todos os setores. No caso dos importados, os produtos mais baratos, na faixa de US$ 500 a US$ 2.000, vão até bem neste momento com o dólar a R$ 2,20 e a R$ 2,30, pois passam a ser adquiridos no país e não no exterior, já que as viagens diminuem. Agora, produtos que custam mais de US$ 10 mil ficam inviáveis no país. É por isso que, quando o dólar sobe muito, os produtos que custam mais caro saem do país, e os que têm preços intermediários acabam tendo boa venda.

FOLHA - As marcas estrangeiras mais caras estão sofrendo com a crise no exterior. Será que terão mais interesse no Brasil?
JEREISSATI
- Não sei se terão mais interesse, até porque vão ter de resolver o problema delas lá fora, mas o Brasil será um mercado que sofrerá menos porque lá fora o consumidor está mais endividado, vai ter perda de renda e, com isso, consumir menos. Quem investe na Bolsa teve o patrimônio afetado, e não sua liquidez. Ele pode deixar de comprar bens mais caros, mas não vai deixar de consumir no dia-a-dia.

FOLHA - A crise deve atrasar ou já atrasou investimentos do grupo?
JEREISSATI
- Ainda não, mas, obviamente nós, como todas as empresas, estamos atentos ao tamanho do impacto da crise no mercado e só vamos ter clareza disso no próximo trimestre de 2009. Nossos investimentos prosseguem e temos linhas de financiamento contratadas para todos eles. O valor total de investimentos em 2008 é de R$ 52 milhões e devemos investir R$ 64 milhões no último trimestre deste ano. Para 2009, o investimento orçado é de R$ 279,8 milhões para projetos novos. Neste ano também investimos R$ 250 milhões na compra do Market Place. (FF e CR)

ABERCROMBIE TERÁ LOJA NO MARKET PLACE
A Abercrombie & Fitch abre neste final de ano a sua primeira loja no Brasil no shopping Market Place. A loja, que atende o público jovem, vai trazer para o país cerca de 2.000 peças para este Natal.


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