|
Texto Anterior | Índice
ENTREVISTA DA 2ª
CARLOS JEREISSATI FILHO
No primeiro momento, crise beneficia shoppings
DA REPORTAGEM LOCAL
Os efeitos da crise financeira
global em um dos shoppings
mais tradicionais de São Paulo,
o Iguatemi, devem aparecer no
ano que vem, se houver redução de empregos no mercado,
pois empresas já começam a rever projetos de investimentos.
A avaliação é de Carlos Jereissati Filho, presidente do grupo
Jereissati, que controla o Iguatemi e outros shoppings.
"Sem dúvida, vamos ter um
crescimento menor no ano que
vem e ainda não dá para prever
qual será o percentual [de janeiro a setembro deste ano o faturamento do shopping deve
crescer cerca de 9% sobre igual
período do ano passado]. Tudo
depende do que vai acontecer
nos próximos três meses."
Para Jereissati, o impacto da
crise global será menor no Brasil do que nos Estados Unidos e
na Europa, já que o país é carente de crescimento. "O consumidor americano, por exemplo, consumia além de seu patrimônio, diferentemente do
brasileiro, que não tinha acesso
a crédito", pondera.
Para enfrentar períodos de
crise, o presidente do grupo Jereissati, que tem 11 shoppings
em operação, três em construção e dois em fase de aprovação
de projeto (em Ribeirão Preto e
em Jundiaí, no interior de SP),
diz estar atento para atrair lojas
cobiçadas. "Estamos trazendo
a Abercrombie & Fitch para o
Market Place [shopping adquirido na totalidade em março
deste ano]. Essa loja é tão novidade no país que vai vender
bem, com certeza", diz.
Leia trechos da entrevista
com Carlos Jereissati Filho.
FOLHA - O Iguatemi sentiu os efeitos da crise financeira mundial?
CARLOS JEREISSATI FILHO - Não sentiu ainda, mas acredito que possamos vir a sentir se essa crise
tiver impacto de maneira expressiva no emprego. Por enquanto, temos uma expectativa
muito boa de vendas para este
Natal. O Iguatemi é um shopping diversificado, que atende
principalmente as classes média e média alta. Tem desde butiques até lojas de produtos eletrônicos e as Lojas Americanas.
Tem restaurantes como o Viena até o Gero. O que quero dizer
é que o Iguatemi tem boa distribuição de lojas e restaurantes e,
por isso, não sofre tanto como
os demais shoppings nas crises.
FOLHA - Mas o público do Iguatemi
foi afetado com a queda da Bolsa e a
redução de crédito, não?
JEREISSATI - A crise atingiu a
Bolsa e a oferta de crédito, mas
isso está impactando mais os
setores de bens mais caros, como o de automóveis e o da
construção civil residencial,
mas não os setores que utilizam
crédito no curto prazo: os de
bens de valores médios e baixos, como são o forte do nosso
setor. Historicamente, sempre
quando há crise dessa natureza,
em um primeiro momento o
nosso setor é até beneficiado,
porque as pessoas deixam de
fazer investimentos de longo
prazo e gastam no médio prazo.
Não sentimos ainda o efeito da
crise e acredito que a gente possa vir a sentir se essa crise passar a realmente impactar de
maneira expressiva o emprego.
FOLHA - Quais setores, na sua avaliação, sofrerão mais com a crise?
JEREISSATI - Acho que o impacto
será distribuído por todos os
setores. No caso dos importados, os produtos mais baratos,
na faixa de US$ 500 a US$
2.000, vão até bem neste momento com o dólar a R$ 2,20 e a
R$ 2,30, pois passam a ser adquiridos no país e não no exterior, já que as viagens diminuem. Agora, produtos que
custam mais de US$ 10 mil ficam inviáveis no país. É por isso que, quando o dólar sobe
muito, os produtos que custam
mais caro saem do país, e os que
têm preços intermediários acabam tendo boa venda.
FOLHA - As marcas estrangeiras
mais caras estão sofrendo com a crise no exterior. Será que terão mais
interesse no Brasil?
JEREISSATI - Não sei se terão
mais interesse, até porque vão
ter de resolver o problema delas lá fora, mas o Brasil será um
mercado que sofrerá menos
porque lá fora o consumidor está mais endividado, vai ter perda de renda e, com isso, consumir menos. Quem investe na
Bolsa teve o patrimônio afetado, e não sua liquidez. Ele pode
deixar de comprar bens mais
caros, mas não vai deixar de
consumir no dia-a-dia.
FOLHA - A crise deve atrasar ou já
atrasou investimentos do grupo?
JEREISSATI - Ainda não, mas, obviamente nós, como todas as
empresas, estamos atentos ao
tamanho do impacto da crise
no mercado e só vamos ter clareza disso no próximo trimestre de 2009. Nossos investimentos prosseguem e temos linhas de financiamento contratadas para todos eles. O valor
total de investimentos em
2008 é de R$ 52 milhões e devemos investir R$ 64 milhões
no último trimestre deste ano.
Para 2009, o investimento orçado é de R$ 279,8 milhões para projetos novos. Neste ano
também investimos R$ 250 milhões na compra do Market
Place.
(FF e CR)
ABERCROMBIE TERÁ LOJA NO
MARKET PLACE
A Abercrombie & Fitch
abre neste final de ano
a sua primeira loja no
Brasil no shopping
Market Place. A loja,
que atende o público
jovem, vai trazer para
o país cerca de 2.000
peças para este Natal.
Texto Anterior: Eliana Tranchesi: Cliente não tem mais dinheiro para jogar fora Índice
|