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RECEITA ORTODOXA
Governo gasta mais em novembro, mas cifra, que era de 5,97% em outubro, deve fechar ano acima da meta de 4,25%
Superávit primário recua para 5,58% do PIB
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O resultado do bate-boca entre
os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Dilma Rousseff
(Casa Civil) por conta do ritmo de
gastos dos ministérios já pode ser
traduzido em números. O saldo
das contas do setor público em
novembro mostra uma aceleração das despesas, sobretudo na
área federal.
Com isso, no mês passado, a
economia realizada por União,
Estados, municípios e estatais para pagar juros que incidem sobre
a dívida, chamada superávit primário, caiu para R$ 3,6 bilhões,
quase a metade dos R$ 6,9 bilhões
registrados no mesmo período do
ano passado.
Além dos gastos com pagamento de férias e 13º salário do funcionalismo público e de parte dos
aposentados da Previdência, que
tradicionalmente elevam os gastos de final de ano, as liberações
de recursos do Orçamento que estavam retidos pela área econômica influenciaram esse desempenho, segundo admitiu o chefe do
Departamento Econômico do BC,
Altamir Lopes.
No início de novembro, o ministro do Planejamento, Paulo
Bernardo, anunciou a liberação
de R$ 1,2 bilhão para gastos dos
ministérios. O problema é que há
um longo caminho entre a decisão do governo de autorizar novas despesas e o gasto efetivo do
dinheiro, que é, no final das contas, o que importa para o saldo da
contabilidade pública.
Por isso, dificilmente a decisão
do governo de retomar gastos que
estavam contidos até então conseguirá fazer o superávit primário
de todo o setor público convergir
para a meta de R$ 82,8 bilhões fixada para o ano, o equivalente a
4,25% da produção nacional medida pelo PIB (Produto Interno
Bruto).
Mesmo com os gastos adicionais anunciados até agora, a economia acumulada no ano é bem
maior do que a meta prevista para
2005 e alcança R$ 98,6 bilhões
(5,58% do PIB). É o maior valor
registrado no período desde que o
BC começou a apurar o dado, em
1991. Em outubro, quando Palocci
e Dilma começaram a divergir
publicamente por causa do ritmo
de gastos dos ministérios, o superávit primário acumulado no ano
era de R$ 95,1 bilhões, 5,97% do
PIB.
Tradicionalmente, os últimos
meses do ano são de maiores gastos públicos por causa do pagamento do 13º salário e de férias.
Esse também é um período em
que a área econômica já tem assegurado o esforço fiscal que deseja
e, portanto, costuma liberar mais
gastos.
O problema é que, faltando
pouco tempo para encerrar o ano,
não é possível gastar todo o excesso. Essa é justamente a crítica de
Rousseff à política econômica.
Para a ministra, a área econômica
controla excessivamente as despesas dos ministérios para chegar
ao final do ano com um superávit
primário maior do que a meta oficial.
Pagamento de juros
Apesar de toda economia gerada ao longo de 2005, os recursos
não foram suficiente para cobrir a
carga de juros, que chegou a R$
146,5 bilhões (8,28% do PIB) e foi
impulsionada pelas elevadas taxas de juros praticadas no país.
Com isso, o resultado nominal do
setor público foi deficitário em R$
47,9 bilhões, 2,71% do PIB. Esse
valor ainda deverá subir neste
ano. A expectativa do BC é encerrar 2005 com um déficit nominal
de 3,6% do PIB.
O governo federal foi a esfera
pública que mais contribuiu para
a redução do superávit primário
em novembro. O Tesouro Nacional, o Banco Central e a Previdência Social, que em novembro de
2004 geraram um superávit de R$
2,5 bilhões, reduziram essa economia para R$ 346 milhões neste
ano. Já os governo regionais (Estados e municípios) mantiveram
a tendência anterior e, juntos, geraram um superávit primário de
R$ 1,9 bilhão. O valor é maior do
que o R$ 1,4 bilhão de novembro
do ano passado.
As empresas estatais, puxadas
pelas companhias controladas
pela União, reduziram em 55% a
economia gerada, passando de
um superávit de R$ 2,9 bilhões
para R$ 1,3 bilhão no período.
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