São Paulo, quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

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Crédito encurta e fica mais caro e escasso

Após empresas, consumidores são atingidos pela falta de crédito em novembro, que registrou expansão zero no setor

Taxa média para pessoas físicas vai a 58,7% ao ano, o maior nível desde março de 2006; expansão de crédito cairá pela metade, diz BC


SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois das empresas, a crise do crédito atinge mais fortemente as famílias brasileiras. Dados divulgados, ontem, pelo Banco Central mostram que os empréstimos em novembro ficaram mais escassos, caros e com prazos menores.
De um lado, os bancos estão emprestando menos e, do outro, o levantamento do BC também reflete um consumidor mais temeroso em contrair dívidas. O saldo dessa equação é a redução pela metade do ritmo de crescimento do crédito em 2009 estimado pelo BC: de 31% ao ano em 2008 para 16%.
A forte expansão do crédito era um dos principais motores do crescimento do país. E o cenário no mercado de crédito do Brasil só não foi mais grave no mês passado por causa da atuação dos bancos estatais, que ajudou na recuperação dos financiamentos para empresas.
O volume de empréstimos -considerando só as operações livres (com dinheiro não direcionado previamente) feitas pelos bancos com empresas e pessoas físicas- alcançou R$ 863 bilhões, uma alta de 1,7% no período, após avanço mensal de 3,7% no início do ano.
Incluindo as operações direcionadas para setores como o imobiliário e o rural e as do BNDES, o crescimento chega a 2% em novembro, totalizando, no global, o valor de R$ 1,209 trilhão em créditos.
Esse resultado está inflado pela incorporação de juros e pelo impacto da desvalorização de 10,3% do real em relação ao dólar no mês, sobretudo nos créditos em dólar concedidos pelo BNDES, e foi puxado também pela alta de 4,3% nas operações com a indústria, de 3,3% com o setor de habitação e de 3,4% com empresas de telecomunicações e transportes.
Com isso, o crédito para empresas subiu 3%. Já para as pessoas físicas, ficou zerado no mês. Nos 11 primeiros dias de dezembro, o cenário não mudou: houve queda de 1,1% nas transações com as famílias e alta de 2,1% com empresas.
Em novembro, as operações para pessoas jurídicas contaram com apoio dos bancos públicos, que apresentaram alta de 3,6% no volume de empréstimos frente ao aumento de 1,2% nas instituições privadas.

Veículos
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o crédito para o consumo das famílias foi fortemente afetado pela retração no segmento de veículos: "Em novembro, as operações com veículos despencaram e representam uma parcela significativa do crédito à pessoa física".
Os financiamentos para a compra de automóveis caíram 1% no período, a primeira queda desde 2006. No mês, a média das concessões diárias recuou 10,6%. Enquanto isso, subiu em 14,2% a média de concessões no cartão de crédito.
"As pessoas estão se endividando no cartão e ainda têm dívidas com financiamento de automóveis", afirma Roberto Luís Troster, economista e sócio da Integral Trust. O receio do mercado, diz, é justamente o de haver uma crise nesse setor, já que os preços dos carros usados estão em queda e, se os consumidores ficarem inadimplentes, o bem não será suficiente para cobrir a dívida.
Para ele, a deterioração do mercado de crédito começou discretamente antes da crise e se acentuou com ela. Agora, as famílias sentirão mais fortemente o impacto, diante da perspectiva de retração no crescimento da economia em 2009. Troster considera otimista a projeção do BC de alta de 16% do crédito em 2009.
"Põe otimismo nisso. Vamos torcer para eles estarem certos. Mas as pessoas estão receosas em tomar empréstimos, e os bancos, em conceder. A economia crescerá menos e algumas empresas que pressionaram o mercado interno voltarão a tomar crédito no exterior", disse Troster.
As operações com pessoas físicas também estão com prazos menores. O prazo médio caiu 56 dias nos financiamentos imobiliários, dez dias na aquisição de veículos e seis dias no crédito pessoal. Na prática, essa queda é bem maior, já que os números do BC mostram uma média que considera o volume de operações. Já o custo subiu.
A taxa média nas operações com pessoas físicas chegou a 58,7% ao ano, o maior nível desde março de 2006, já para as empresas houve uma queda de 0,4 ponto percentual, alcançando 31,2% ao ano. Nos primeiros dias de dezembro, o cenário permanece ruim para os consumidores: o custo subiu mais 0,8 ponto e para as empresas caiu 0,2 ponto.


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