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Crédito encurta e fica mais caro e escasso
Após empresas, consumidores são atingidos pela falta de crédito em novembro, que registrou expansão zero no setor
Taxa média para pessoas físicas vai a 58,7% ao ano, o maior nível desde março de 2006; expansão de crédito cairá pela metade, diz BC
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois das empresas, a crise
do crédito atinge mais fortemente as famílias brasileiras.
Dados divulgados, ontem, pelo
Banco Central mostram que os
empréstimos em novembro ficaram mais escassos, caros e
com prazos menores.
De um lado, os bancos estão
emprestando menos e, do outro, o levantamento do BC também reflete um consumidor
mais temeroso em contrair dívidas. O saldo dessa equação é a
redução pela metade do ritmo
de crescimento do crédito em
2009 estimado pelo BC: de 31%
ao ano em 2008 para 16%.
A forte expansão do crédito
era um dos principais motores
do crescimento do país. E o cenário no mercado de crédito do
Brasil só não foi mais grave no
mês passado por causa da atuação dos bancos estatais, que
ajudou na recuperação dos financiamentos para empresas.
O volume de empréstimos
-considerando só as operações
livres (com dinheiro não direcionado previamente) feitas
pelos bancos com empresas e
pessoas físicas- alcançou R$
863 bilhões, uma alta de 1,7%
no período, após avanço mensal de 3,7% no início do ano.
Incluindo as operações direcionadas para setores como o
imobiliário e o rural e as do
BNDES, o crescimento chega a
2% em novembro, totalizando,
no global, o valor de R$ 1,209
trilhão em créditos.
Esse resultado está inflado
pela incorporação de juros e
pelo impacto da desvalorização
de 10,3% do real em relação ao
dólar no mês, sobretudo nos
créditos em dólar concedidos
pelo BNDES, e foi puxado também pela alta de 4,3% nas operações com a indústria, de 3,3%
com o setor de habitação e de
3,4% com empresas de telecomunicações e transportes.
Com isso, o crédito para empresas subiu 3%. Já para as pessoas físicas, ficou zerado no
mês. Nos 11 primeiros dias de
dezembro, o cenário não mudou: houve queda de 1,1% nas
transações com as famílias e alta de 2,1% com empresas.
Em novembro, as operações
para pessoas jurídicas contaram com apoio dos bancos públicos, que apresentaram alta
de 3,6% no volume de empréstimos frente ao aumento de
1,2% nas instituições privadas.
Veículos
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o crédito para o consumo das famílias foi fortemente afetado pela retração no
segmento de veículos: "Em novembro, as operações com veículos despencaram e representam uma parcela significativa
do crédito à pessoa física".
Os financiamentos para a
compra de automóveis caíram
1% no período, a primeira queda desde 2006. No mês, a média
das concessões diárias recuou
10,6%. Enquanto isso, subiu em
14,2% a média de concessões
no cartão de crédito.
"As pessoas estão se endividando no cartão e ainda têm dívidas com financiamento de
automóveis", afirma Roberto
Luís Troster, economista e sócio da Integral Trust. O receio
do mercado, diz, é justamente o
de haver uma crise nesse setor,
já que os preços dos carros usados estão em queda e, se os consumidores ficarem inadimplentes, o bem não será suficiente para cobrir a dívida.
Para ele, a deterioração do
mercado de crédito começou
discretamente antes da crise e
se acentuou com ela. Agora, as
famílias sentirão mais fortemente o impacto, diante da
perspectiva de retração no
crescimento da economia em
2009. Troster considera otimista a projeção do BC de alta
de 16% do crédito em 2009.
"Põe otimismo nisso. Vamos
torcer para eles estarem certos.
Mas as pessoas estão receosas
em tomar empréstimos, e os
bancos, em conceder. A economia crescerá menos e algumas
empresas que pressionaram o
mercado interno voltarão a tomar crédito no exterior", disse
Troster.
As operações com pessoas físicas também estão com prazos
menores. O prazo médio caiu
56 dias nos financiamentos
imobiliários, dez dias na aquisição de veículos e seis dias no
crédito pessoal. Na prática, essa
queda é bem maior, já que os
números do BC mostram uma
média que considera o volume
de operações. Já o custo subiu.
A taxa média nas operações
com pessoas físicas chegou a
58,7% ao ano, o maior nível
desde março de 2006, já para as
empresas houve uma queda de
0,4 ponto percentual, alcançando 31,2% ao ano. Nos primeiros dias de dezembro, o cenário permanece ruim para os
consumidores: o custo subiu
mais 0,8 ponto e para as empresas caiu 0,2 ponto.
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