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DESCOMPASSO
Selic, a taxa básica, é de 25,5% ao ano; enquanto isso, consumidor paga 116,25%, e pessoa jurídica, 63,4%
Juro sobe mais para empresa e pessoa física
DA REPORTAGEM LOCAL
Os juros que pessoas e empresas pagam ao tomar empréstimos
e fazer crediários acompanham a
elevação da taxa básica (Selic).
Mas não na mesma magnitude.
Enquanto a Selic está atualmente em 25,5% anuais, os juros do
comércio, por exemplo, ficaram
na média em 116,25% anuais em
2002. No caso de empréstimos a
pessoas jurídicas, para desconto
de duplicata, os custos eram de
63,46% anuais em dezembro.
Uma das justificativas das instituições financeiras para a diferença é a alta inadimplência: haveria a necessidade de manter os juros
em níveis exorbitantes como forma de compensar os calotes. Outra são os custos operacionais, que seriam muito altos.
Dados da Anefac (Associação
Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) mostram que entre agosto de 95 e dezembro do ano
passado o custo acumulado do
CDI (juros interbancários que
acompanham a Selic) ficou em
382,7%. Já o dos financiamentos
no comércio ficou acumulado em
158.297,71% no período.
A Selic é definida mensalmente
pelo Copom (Comitê de Política
Monetária, formado pelo presidente e pelos diretores do Banco
Central). A taxa serve de referência para o mercado, sendo usada
como parâmetro nas operações
entre os bancos e, por isso, tem influência sobre os juros de toda a
economia. Quando a Selic sobe,
os juros de empréstimos a empresas e pessoas físicas também aumentam. Esse aumento não é equivalente, ou seja, o fato de taxa
básica ser elevada em 0,5 ponto
percentual -como aconteceu
nesta semana- não significa que
os juros para o consumidor subirão o mesmo percentual. Normalmente, esse percentual acaba sendo mais elevado.
As taxas praticadas no comércio
variam bastante, dependendo do
tamanho da rede onde se faz a
operação.
Nas grandes redes de loja, o custo médio do crediário acumulado
em 2002 ficou em 91,20%, enquanto nas pequenas redes o custo foi de 136,59%. Em 2002, a Selic média foi de 19,7%.
A rede Casas Bahia, por exemplo, oferece parcelamento em até
seis vezes sem juros no caso de
compras com carnês. No cartão
de crédito, o parcelamento sem
juros chega a 12 vezes. Os clientes
que não dispõem de cartões de
crédito e optam por pagamento
acima de seis parcela deparam-se
com taxas de juros de 3% ao mês
(no ano, correspondem a 43%).
Em outra rede, o Ponto Frio, o
financiamento sem juros varia
entre três e sete parcelas (a depender do produto). Compras nas lojas com maior número de prestações (até o limite de 12) têm juros
de 4,83% ao mês no parcelamento
com cartão de crédito -representa juros anuais de 76%.
No caso das compras com cheques pré-datados, os juros disparam: para as parceladas em oito
vezes (com entrada equivalente
ao valor de uma prestação), a taxa
de juros é de 7,38% ao mês (135%
no ano). Se forem 12 prestações,
os juros alcançam os 8,19% ao
mês -no ano, 157%. A ciranda
dos juros provoca distorções.
Exemplo: um televisor cujo preço
à vista é de R$ 869 pode ser parcelado sem juros em até cinco vezes.
Nesse caso, seriam cinco parcelas
de R$ 173,80. O mesmo aparelho,
parcelado, com cheque, em 12 vezes, terá este encargo: entrada (à
vista) e 11 parcelas de R$ 107,96, ficando em R$ 1.295,52.
Mas se o cliente decidir pagar
em seis vezes (com juros), desembolsará mensalidades de R$
147,48. Ou seja, R$ 884,88.
Nesse caso, valem os argumentos levantados pela Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento): se a prestação cabe
no bolso, a população compra.
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