São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS

Pessimismo diminui, e Bolsas sobem

Pacote dos EUA, socorro a seguradoras e "caça a barganhas" nos mercados melhoram humor de investidor; Bovespa sobe 5,9%

Economistas evitam falar que o pior já passou e prevêem mais instabilidade e mudanças de humor nas próximas semanas

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Após três dias de forte pessimismo, os mercados globais esboçaram ontem uma recuperação generalizada nos preços de ações, papéis de dívidas e commodities. A melhora no humor, porém, não foi suficiente para cobrir as perdas registradas na semana. No Brasil, a Bovespa subiu 5,95%, sua maior alta desde outubro de 2002.
A recuperação ontem veio com o sentimento de que o governo americano e o Fed [Federal Reserve, o BC dos EUA] seguem alertas e farão o possível para minimizar as perdas do sistema financeiro, das empresas e também do consumidor. Ontem, a Casa Branca e o Congresso americano chegaram a um acordo sobre o corte de impostos, que continua sendo visto com uma dose de ceticismo.
A redução tributária beneficiará as famílias, com restituição prevista de US$ 1.200 mais US$ 300 para cada filho. A expectativa é que 117 milhões de famílias recebam algum cheque com devolução de impostos. Também haverá a extensão de prazos para as famílias refinanciarem hipotecas ou dívidas imobiliárias.
Nos EUA, a Bolsa de Nova York subiu 0,88% (Dow Jones), e a Nasdaq, 1,92%. Além da Bovespa, as maiores altas foram vistas na Europa e na Ásia.
Duas outras notícias colaboraram também para a retomada do ânimo: a redução, pela quarta semana, do número de pedidos de seguro-desemprego nos EUA e a alta no lucro da Nokia -ambos vistos como indicadores de consumo em alta.
Apesar da reavaliação do pessimismo e da "caça a barganhas" nas Bolsas, ninguém ousou dizer que "o pior já passou" ou que os mercados encontraram novo equilíbrio. A avaliação é que virão mais turbulência e instabilidade. Na semana que vem, o Fed tem novo encontro para definir juros, saem dados sobre consumo, renda e nível de emprego nos EUA.
"Não dá para afirmar que o pior passou. Houve um certo exagero a partir de um sentimento ruim [com o futuro da economia]. A medida do Fed [redução nos juros] ajudou a minimizar, mas também mostrou que a situação é grave. Essa amplitude de humor, em que um dia é o fim do mundo e o outro é o melhor dos mundos, deve diminuir", disse Flavio Serrano, da corretora López León.
Para o professor Fernando Cardim, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o corte de impostos levará tempo para ter impacto real sobre a economia dos EUA. "O problema é liquidez. Detentores de ativos que se sentem inseguros em relação ao seu valor no futuro tentam vendê-los o mais rápido possível, para ficarem líquidos. O socorro do banco central tenta injetar liquidez para reduzir a pressão de venda, criando compradores. Um corte de impostos eleva a renda disponível, mas o efeito depende do que farão com esse alívio. Se houver temor com relação ao futuro, é possível que esse corte de impostos se converta em mais poupança, ao invés de demanda. Foi o que aconteceu no Japão dos anos 1990."
"Qualquer noticiazinha que venha de fora leva a um efeito manada, para um lado ou para outro. Enquanto durar o processo de ajuste da economia americana, vai haver turbulência, diz o economista Alcides Leite, da Trevisan.

Lula
O presidente Lula disse ontem, no Rio, que a crise na economia americana só preocupa o Brasil se chegar à Europa. Para ele, a crise é o único "percalço" no caminho da economia brasileira que, na sua avaliação, nunca esteve tão "sólida".
O presidente disse que conversou ontem com o primeiro ministro-britânico, Gordon Brown, sobre a economia americana e que os dois têm o "mesmo pensamento": "Talvez [a crise] não seja tão pequena quanto se pensava no começo, mas que não seja também uma hecatombe que se pensava e como pensam algumas pessoas."


Com agências internacionais e a Sucursal do Rio


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