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Calote em alta ameaça travar recuo do "spread"
Bancos atribuem elevação das taxas que cobram ao maior risco de inadimplência
Após o corte dos juros pelo
BC, governo eleva pressão
sobre as instituições
financeiras para que
reduzam o "spread"
DO COLUNISTA DA FOLHA
O aumento da inadimplência
deve contribuir ainda mais para dificultar a redução do
"spread" cobrado pelos bancos.
As instituições financeiras atribuem principalmente ao risco
de aumento da inadimplência,
tanto das pessoas jurídicas como das pessoas físicas, a razão
para terem aumentado o
"spread" nos últimos meses.
O "spread" é a diferença entre o custo de captação do crédito para o banco e a taxa cobrada dos clientes. Desde que a
crise se agravou, em setembro,
seu aumento foi significativo,
apesar de o Banco Central não
ter elevado a Selic, a taxa básica
de juros da economia. O governo tem elevado a pressão sobre
as instituições financeiras para
que reduzam o "spread".
A Selic até caiu, de 13,75% para 12,75%, na reunião do Copom realizada na semana passada. O BC indicou que vai continuar o processo de flexibilização da política monetária.
Segundo dados da autoridade
monetária, o "spread" médio da
carteira da pessoa jurídica subiu 3,6 pontos percentuais de
setembro a novembro (de
14,7% para 18,3%). O da pessoa
física cresceu 5,1 pontos (de
38,5% para 43,6%). Para analistas, os dados de crédito de dezembro a serem divulgados pelo BC na terça devem mostrar
nova alta do "spread".
Segundo Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira
dos Bancos), o que os bancos
mais temiam era que a crise
causasse alta da inadimplência.
Para ele, a alta do "spread"
que ocorreu desde o agravamento da crise, em setembro,
justifica-se por esse receio. A
inadimplência, de acordo com
estudos do BC, responde por
cerca de 40% do "spread".
"O aumento da inadimplência é uma das coisas que atrapalham tanto a redução do
"spread" como a concessão de
empréstimos", diz Sardenberg.
Para o economista-chefe da
Febraban, enquanto, de um lado, a queda da inflação e a baixa
atividade da economia são fatores que poderiam fazer o
"spread" cair mais rapidamente, de outro, a inadimplência e
as grandes incógnitas que são o
tamanho e a duração da crise
atuam na direção oposta. O balanço dessas duas coisas pode
fazer com que o "spread" bancário demore mais a cair.
Efeito limitado
Diante disso, a queda da taxa
básica da economia tende a não
fazer muito efeito sobre a atividade econômica, já que a redução dos juros para o tomador final do empréstimo poderá não
cair tanto.
Outra dúvida é se as recentes
medidas adotadas pelo governo
de estímulo à economia, entre
elas a ampliação dos recursos
do BNDES (Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e
Social) e a queda dos juros prometida pelos bancos públicos,
vão aliviar a pressão sobre o
crédito bancário e ajudar na
queda do "spread". O governo
espera que sim.
Segundo o economista Bruno Rocha, da Tendências, o governo está na direção correta
ao adotar esses mecanismos
para tentar reanimar a economia, mas o efeito de todos esses
pacotes pode ter alcance limitado. O problema, no entanto, é
a falta da confiança que a crise
provocou tanto nas empresas
como nos consumidores.
"A falta de confiança está fazendo as famílias deixarem de
comprar e as empresas suspenderem os investimentos, e isso
limita as ações que o governo
tem tomado para estimular a
economia", diz Rocha. "Não serão os pacotes do governo que
obrigarão as pessoas a voltarem
a consumir, e as empresas, a investir."
(GUILHERME BARROS)
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