São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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Calote em alta ameaça travar recuo do "spread"

Bancos atribuem elevação das taxas que cobram ao maior risco de inadimplência

Após o corte dos juros pelo BC, governo eleva pressão sobre as instituições financeiras para que reduzam o "spread"

DO COLUNISTA DA FOLHA

O aumento da inadimplência deve contribuir ainda mais para dificultar a redução do "spread" cobrado pelos bancos. As instituições financeiras atribuem principalmente ao risco de aumento da inadimplência, tanto das pessoas jurídicas como das pessoas físicas, a razão para terem aumentado o "spread" nos últimos meses.
O "spread" é a diferença entre o custo de captação do crédito para o banco e a taxa cobrada dos clientes. Desde que a crise se agravou, em setembro, seu aumento foi significativo, apesar de o Banco Central não ter elevado a Selic, a taxa básica de juros da economia. O governo tem elevado a pressão sobre as instituições financeiras para que reduzam o "spread".
A Selic até caiu, de 13,75% para 12,75%, na reunião do Copom realizada na semana passada. O BC indicou que vai continuar o processo de flexibilização da política monetária.
Segundo dados da autoridade monetária, o "spread" médio da carteira da pessoa jurídica subiu 3,6 pontos percentuais de setembro a novembro (de 14,7% para 18,3%). O da pessoa física cresceu 5,1 pontos (de 38,5% para 43,6%). Para analistas, os dados de crédito de dezembro a serem divulgados pelo BC na terça devem mostrar nova alta do "spread".
Segundo Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), o que os bancos mais temiam era que a crise causasse alta da inadimplência.
Para ele, a alta do "spread" que ocorreu desde o agravamento da crise, em setembro, justifica-se por esse receio. A inadimplência, de acordo com estudos do BC, responde por cerca de 40% do "spread".
"O aumento da inadimplência é uma das coisas que atrapalham tanto a redução do "spread" como a concessão de empréstimos", diz Sardenberg.
Para o economista-chefe da Febraban, enquanto, de um lado, a queda da inflação e a baixa atividade da economia são fatores que poderiam fazer o "spread" cair mais rapidamente, de outro, a inadimplência e as grandes incógnitas que são o tamanho e a duração da crise atuam na direção oposta. O balanço dessas duas coisas pode fazer com que o "spread" bancário demore mais a cair.

Efeito limitado
Diante disso, a queda da taxa básica da economia tende a não fazer muito efeito sobre a atividade econômica, já que a redução dos juros para o tomador final do empréstimo poderá não cair tanto.
Outra dúvida é se as recentes medidas adotadas pelo governo de estímulo à economia, entre elas a ampliação dos recursos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e a queda dos juros prometida pelos bancos públicos, vão aliviar a pressão sobre o crédito bancário e ajudar na queda do "spread". O governo espera que sim.
Segundo o economista Bruno Rocha, da Tendências, o governo está na direção correta ao adotar esses mecanismos para tentar reanimar a economia, mas o efeito de todos esses pacotes pode ter alcance limitado. O problema, no entanto, é a falta da confiança que a crise provocou tanto nas empresas como nos consumidores.
"A falta de confiança está fazendo as famílias deixarem de comprar e as empresas suspenderem os investimentos, e isso limita as ações que o governo tem tomado para estimular a economia", diz Rocha. "Não serão os pacotes do governo que obrigarão as pessoas a voltarem a consumir, e as empresas, a investir." (GUILHERME BARROS)


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