São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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Inadimplência das empresas cresce 36%

Alta em dezembro é a maior desde 1999; restrição ao crédito e retração da atividade econômica explicam elevação, diz Serasa Experian

Taxa de inadimplência fecha 2008 com alta de 4,8%; até outubro, no acumulado do ano, indicador registrava queda

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

A crise atingiu em cheio o caixa das empresas. A inadimplência das pessoas jurídicas explodiu no final de 2008. A alta foi de 36,1% em dezembro em relação ao mesmo mês do ano anterior, segundo o indicador Serasa Experian de Inadimplência de Pessoa Jurídica. Foi o maior aumento do índice registrado pela pesquisa desde que ela foi iniciada, em 1999.
A velocidade da crise impressiona. De março a outubro, a taxa acumulada no ano era negativa, o que significa que a inadimplência das empresas estava em queda. Até outubro, a queda era de 0,3%. O ano fechou, no entanto, com um crescimento de 4,8%.
Segundo o assessor econômico da Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida, são dois os fatores que explicam essa alta recorde da inadimplência. Primeiro, a restrição ao crédito (aumento dos juros, maior seletividade nos empréstimos e prazos menores dos financiamentos). Segundo, a retração da atividade econômica.
"A crise bateu nas empresas com os juros altos, a falta de crédito e a queda na demanda", diz Almeida. Por consequência, o "spread" (diferença entre o custo de captação do crédito para o banco e a taxa cobrada dos clientes) deve demorar ainda mais para cair.
A pesquisa já havia registrado a alta da inadimplência em novembro, quando o indicador subiu 28,2% em relação ao mesmo mês de 2007.
As perspectivas não são nada favoráveis. A tendência é a inadimplência continuar em alta. No início do ano, as empresas arcam com aumento de despesas para pagamento de impostos, como IPTU e IPVA, e a receita cai. A crise deve ajudar a agravar esse quadro.
"A inadimplência deve continuar em alta", diz Almeida.
A inadimplência dos consumidores também aumentou. Na semana passada, a Serasa Experian divulgou o indicador de inadimplência para pessoa física. O índice subiu 8% em 2008 em relação ao ano anterior, a maior variação desde 2006. Só em dezembro, o crescimento foi de 12,8%, ante o mesmo mês do ano passado.

Metodologia
Na próxima terça-feira, o Banco Central divulga a nota de operações de crédito de dezembro com os dados de inadimplência das pessoas jurídicas e das pessoas físicas dos bancos. Por se tratarem de pesquisas com metodologias diferentes, é possível que essa alta da inadimplência constatada pela Serasa Experian ainda não se reflita nesses números.
O Banco Central classifica como inadimplência 90 dias em atraso do pagamento das dívidas bancárias. Já o indicador da Serasa Experian mostra a variação do total das dívidas não pagas pelas empresas em todo o país. A pesquisa abrange o total de cheques sem fundos, de títulos protestados e de dívidas com os bancos.
O economista Bruno Rocha, da consultoria Tendências, afirma que, mesmo que os dados do BC não captem essa alta da inadimplência, por uma questão meramente estatística, será inevitável isso ocorrer neste primeiro trimestre.
Segundo os últimos dados do Banco Central, de novembro, a inadimplência nas operações com pessoas jurídicas representava 1,7% do total do crédito. Já a inadimplência das pessoas físicas era de 7,8%. Pelos cálculos de Rocha, a inadimplência das pessoas jurídicas deve subir para 2% neste primeiro trimestre; a das pessoas físicas, para 8%.


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