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Inadimplência das empresas cresce 36%
Alta em dezembro é a maior desde 1999; restrição ao crédito e retração da atividade econômica explicam elevação, diz Serasa Experian
Taxa de inadimplência fecha 2008 com alta de 4,8%; até outubro, no acumulado do ano, indicador registrava queda
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
A crise atingiu em cheio o
caixa das empresas. A inadimplência das pessoas jurídicas
explodiu no final de 2008. A alta foi de 36,1% em dezembro
em relação ao mesmo mês do
ano anterior, segundo o indicador Serasa Experian de Inadimplência de Pessoa Jurídica.
Foi o maior aumento do índice
registrado pela pesquisa desde
que ela foi iniciada, em 1999.
A velocidade da crise impressiona. De março a outubro, a taxa acumulada no ano era negativa, o que significa que a inadimplência das empresas estava em queda. Até outubro, a
queda era de 0,3%. O ano fechou, no entanto, com um crescimento de 4,8%.
Segundo o assessor econômico da Serasa Experian, Carlos
Henrique de Almeida, são dois
os fatores que explicam essa alta recorde da inadimplência.
Primeiro, a restrição ao crédito
(aumento dos juros, maior seletividade nos empréstimos e
prazos menores dos financiamentos). Segundo, a retração
da atividade econômica.
"A crise bateu nas empresas
com os juros altos, a falta de
crédito e a queda na demanda",
diz Almeida. Por consequência,
o "spread" (diferença entre o
custo de captação do crédito
para o banco e a taxa cobrada
dos clientes) deve demorar ainda mais para cair.
A pesquisa já havia registrado a alta da inadimplência em
novembro, quando o indicador
subiu 28,2% em relação ao
mesmo mês de 2007.
As perspectivas não são nada
favoráveis. A tendência é a inadimplência continuar em alta.
No início do ano, as empresas
arcam com aumento de despesas para pagamento de impostos, como IPTU e IPVA, e a receita cai. A crise deve ajudar a
agravar esse quadro.
"A inadimplência deve continuar em alta", diz Almeida.
A inadimplência dos consumidores também aumentou.
Na semana passada, a Serasa
Experian divulgou o indicador
de inadimplência para pessoa
física. O índice subiu 8% em
2008 em relação ao ano anterior, a maior variação desde
2006. Só em dezembro, o crescimento foi de 12,8%, ante o
mesmo mês do ano passado.
Metodologia
Na próxima terça-feira, o
Banco Central divulga a nota de
operações de crédito de dezembro com os dados de inadimplência das pessoas jurídicas e
das pessoas físicas dos bancos.
Por se tratarem de pesquisas
com metodologias diferentes, é
possível que essa alta da inadimplência constatada pela Serasa Experian ainda não se reflita nesses números.
O Banco Central classifica
como inadimplência 90 dias
em atraso do pagamento das dívidas bancárias. Já o indicador
da Serasa Experian mostra a
variação do total das dívidas
não pagas pelas empresas em
todo o país. A pesquisa abrange
o total de cheques sem fundos,
de títulos protestados e de dívidas com os bancos.
O economista Bruno Rocha,
da consultoria Tendências,
afirma que, mesmo que os dados do BC não captem essa alta
da inadimplência, por uma
questão meramente estatística,
será inevitável isso ocorrer neste primeiro trimestre.
Segundo os últimos dados do
Banco Central, de novembro, a
inadimplência nas operações
com pessoas jurídicas representava 1,7% do total do crédito. Já a inadimplência das pessoas físicas era de 7,8%. Pelos
cálculos de Rocha, a inadimplência das pessoas jurídicas
deve subir para 2% neste primeiro trimestre; a das pessoas
físicas, para 8%.
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